Os desafios da vida de um doente renal crônico e a esperança da cura por meio do transplante

A doença renal crônica, assim como outras doenças crônicas não transmissíveis, tem crescente e contínuo aumento de sua incidência. Atualmente, existem mais de cento e trinta e três mil pessoas em tratamento de diálise no Brasil. Além, é claro, do enorme número de pessoas que se encontram em estágios da doença renal crônica pré-dialíticos.

Estima-se que mais de 30 milhões de brasileiros tenham algum acometimento renal. A doença renal é um grande problema de saúde pública, e na qual a prevenção é ato imperativo e primordial para conter este vertiginoso crescimento.

Segundo o médico nefrologista, Dr. Rubens Abi-Ackel, a prevenção da doença renal crônica é a opção para evitar ou minimizar este grave problema de saúde pública. Ele acrescenta que o tratamento adequado e o controle da hipertensão arterial e do diabetes são formas simples de se prevenir a doença, por exemplo. “A prevalência da doença renal crônica no Brasil está em torno de 600/milhão de habitantes. Há um sub diagnóstico importante principalmente nas regiões Norte e Nordeste, evidenciando a necessidade de melhorarmos o diagnóstico inicial desta grave doença. Comparando-se com outros países que têm melhores índices de diagnóstico, como o Chile, por exemplo, que têm prevalência média em torno de 1000/Milhão de habitantes, fica mais evidente o sub diagnóstico da doença no Brasil”, informa. O especialista reitera que para melhorar diagnóstico precoce da doença renal crônica, a realização de exames laboratoriais simples e baratos, como a dosagem no sangue de creatinina e a realização de exame de urina tipo I ou rotina seriam adequados inicialmente.

De acordo com Dr. Rubens Abi-Ackel para piorar a situação da doença renal crônica no Brasil, o financiamento de seu tratamento não tem acompanhado o crescimento de novos casos (em torno de 40 mil/ano), bem como a tabela de custeio do Sistema Único de Saúde que se mantém defasada há anos, sem acompanhar sequer os índices inflacionários. “Mais de 85% do tratamento de Terapia renal Substitutiva (que inclui hemodiálise, diálise peritoneal e transplante renal) é financiado pelo SUS cujo valor de custeio do procedimento no Brasil é inferior ao de países vizinhos (Brasil $56,00 – Argentina $138,00)”.
As opções de tratamento da doença renal crônica são a terapia renal substitutiva – a hemodiálise, a diálise peritoneal e o transplante renal – sendo que este é o melhor tratamento para a doença renal crônica aos pacientes em condições de se submeterem ao transplante.

Transplante
O Brasil se encontra na 33ª posição mundial em número de transplantes/ milhão de habitantes. Bem abaixo de muitos países em piores condições de desenvolvimento. São realizados no país menos da metade de transplantes/ habitantes, em comparação com a média mundial, conforme explica o médico nefrologista. “Atualmente temos mais de 22 mil pacientes na fila de transplante renal no Brasil e segundo a Associação Brasileira de Transplante de órgãos (ABTO) estima-se que teríamos 35% dos pacientes em condições de se submeterem a um transplante renal. Temos inscritos em torno de 18% dos pacientes em Terapia Renal Substitutiva (TRS) em condições de se submeterem ao transplante renal no Brasil. Evidentemente, precisamos revisar urgentemente o modelo de captação de órgãos, conscientizar a população e familiares sobre doação de órgãos e melhorar a acessibilidade à lista de transplante entre outros”, salienta.

Gesto de amor
É consensual a melhoria na qualidade de vida dos pacientes que se submetem ao transplante renal, haja vista, como explicado pelo médico nefrologista, entre as modalidades terapêuticas disponíveis, o transplante renal se constitui no melhor tratamento para a doença renal crônica, por ser o método mais fisiológico e menos doloroso, tornando os indivíduos livres dos limites impostos pela diálise, com consequente geração de maior qualidade de vida.
Este é o caso de Marco Antônio da Silva, transplantado há 12 anos, cujo rim veio de seu irmão Francisco Lúcio da Silva. Marco Antônio explica que, inicialmente, todo paciente renal crônico sofre, pois, os sintomas são intensos – como inchaço, falta de apetite e edemas. Ele enfatiza que o transplante realizado com doador vivo lhe ofereceu vantagens, pois como possibilidade terapêutica de escolha é um procedimento que favoreceu a redução do tempo na fila de espera, aumentou sua sobrevida, e favoreceu a qualidade de vida do mesmo e das relações familiares. “Tem que ter muita consciência e amor de outra pessoa para realizar o ato da doação. Vemos casos de pessoas que podem doar, mas, muitas vezes, existe um preconceito quanto ao ato. Pode ser que escutem histórias a respeito do transplante e tomem o processo como algo maléfico a elas. Portanto, se faz necessário que os interessados em doar conversem com quem já passou pelo procedimento. Meu irmão está vivo e bem e eu também estou bem – é uma história de vida”, conta.

O jovem Eduardo de Souza está à espera de transplante renal proveniente de sua irmã Rozilene Alice. Ele se diz feliz pela disponibilidade da irmã em fazer o transplante, tendo em vista que, segundo ele, trata-se de um gesto de amor sendo mostrado através de atitudes e não apenas mostrado em palavras. “Estamos fazendo exames por um bom tempo e agora vamos fazer o transplante e tenho fé que vai dar tudo certo”.
Para Rozilene Alice, se o caso de uma pessoa desconhecida em busca de um doador já é um fato triste de acompanhar, a situação de um membro da família na mesma condição é algo insustentável de presenciar. “Desde a primeira vez que foi diagnosticado que o Eduardo precisava de um transplante eu tinha em mente que seria a doadora. É um amor que tenho por ele e pela vida dele e por isso vou com o maior prazer e fico feliz a cada etapa que estamos vencendo.

Eduardo de Souza se emociona com o gesto de amor e faz uma declaração de amor a irmã que está lhe devolvendo o direito a uma vida normal. “Tuca (apelido da irmã), para mim você é uma pessoa fantástica e desde que eu era criança sempre tivemos um contato muito forte. Até costumo dizer que você é a única irmã que eu nunca briguei ou desferi palavras, e o mesmo acontece da sua parte. Você é uma pessoa muito importante para mim – não pelo transplante que vamos fazer juntos. Primeiramente, Deus nos fez irmãos e você sabe o amor que eu tenho por você e a alegria por estar ao seu lado e de ser a pessoa que é. O que você tem feito por mim não é qualquer um que faz, e que isso venha a ser exemplo não só de irmão para irmão, mas para todos nós”, finaliza.

Danilo Alves

Postado originalmente por: Tribuna do Leste – Manhuaçu

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