Onda de assaltos preocupa motoboys em Juiz de Fora

Profissionais, que já trabalham com restrições, pedem mais segurança; segundo a PM, este ano houve nove roubos de motos e 53 furtos

Uma onda recente de assaltos a motoboys em Juiz de Fora tem preocupado a categoria. Os crimes violentos que, na maioria das vezes, resultam no roubo do veículo usado no trabalho desses profissionais acontecem em várias regiões da cidade e costumam ser praticados com armas de fogo. Apesar da sensação de medo, a Polícia Militar informou que a modalidade criminosa não aumentou na comparação com o ano anterior. Segundo a corporação, de janeiro a 20 de maio deste ano nove motos foram roubadas com emprego de arma ou violência. O número é 18% menor do que os onze casos registrados no mesmo período de 2021, mas representa incremento de 50% em relação a 2019, quando houve seis ocorrências.

Já os furtos de motos, definidos quando não há ameaças, violência ou uso de armas contra as vítimas, cresceram: houve 53 notificações à PM até 20 de maio ou 32,5% a mais do que os 40 veículos levados em 2021, e 23% superior às 43 ocorrências do tipo contabilizadas em 2019. A polícia optou por não fazer comparativos com o ano de 2020 por considerar um período atípico, em decorrência da pandemia. “O furto avançou em 2022, não só no quesito veículo, mas em todas as áreas. Houve um aumento geral de 11% neste ano, na comparação com o mesmo período de 2021”, observou o assessor de comunicação da 4ª Região da PM, major Jean Michel Amaral.

Já os roubos, incluindo a pedestre, residência, estabelecimentos comerciais e outros tipos, sofreram queda de cerca de 10%. “Temos percebido essa realidade, não só em Juiz de Fora. Em Minas Gerais, o furto também aumentou bastante”, pontuou o major Jean. “Houve migração do autor do roubo para o crime de furto, porque a pena é menor. Existem atenuantes, e a possibilidade de ficar preso também é menor”, avaliou. Ele também considera que questões sociais agravadas pela pandemia podem ter contribuído para esse quadro. “Muitas pessoas que ingressam no mundo do crime começam pelo furto.”

Vídeos nas redes e protestos

Em vídeos que circularam nas redes sociais na última semana, alguns motoboys expuseram os temores da profissão. “Nos últimos 15 dias, o alto índice de roubo de moto está assustando muito os motociclistas. Não estamos conseguindo fazer uma entrega sequer tranquilo, pois o roubo está alto na cidade. Pedimos o apoio da Polícia Militar e dos órgãos competentes para fiscalizar essa demanda”, diz Thiago Damasceno, de 30 anos, em uma gravação.

Uma divulgação nas redes sociais diz: “estamos cansados de roubos/furtos, e nada está sendo feito a nosso favor. Blitze sendo montadas para rebocar motoboys trabalhadores em serviço por conta de sua bag ou baú. Queremos Polícia Militar, agentes de trânsito e guardas municipais a favor do trabalhador”. A crítica teria ligação com as recentes abordagens a motofretistas para fiscalização das regras relacionadas à Lei 12.009/2009, que regulamenta a profissão com uma série de normas de segurança.

Pelo menos quatro roubos a motoboys foram noticiados pela Tribuna desde o mês passado. No dia 23 de abril, um profissional, 32, foi rendido e teve sua moto roubada durante uma tentativa de entrega, no início da madrugada, na Rua José Francisco Garcia, no Bairro Tiguera. Ele trafegava em baixa velocidade, procurando o endereço para deixar uma encomenda de açaí, quando foi surpreendido por dois criminosos, um deles armado com revólver.

No dia 6 de maio, outro motofretista, 19, foi vítima de roubo no Parque Guarani, durante entrega de pizza. Ao buzinar no endereço informado, ele foi abordado por dois assaltantes, que saíram de um lote. Um deles encostou uma arma de fogo na cabeça da vítima e anunciou o roubo. Crime semelhante aconteceu três dias depois, quando um motoboy, 46, foi rendido com arma na cabeça ao tentar entregar pizza na Rua Olivério Pires de Carvalho, no Bairro Recanto dos Lagos. Nesses dois casos, os pedidos haviam sido feitos em nome de mulheres.

No último dia 17, mais um trabalhador do ramo, 28, foi abordado por uma dupla armada em plena Avenida Brasil, na região central, após realizar uma entrega. Os homens tomaram a motocicleta e fugiram sentido Vitorino Braga.

Em entrevista à Tribuna, o motofretista Thiago reforçou que está difícil trabalhar devidos aos roubos, principalmente à noite. “Não conseguimos parar a moto e ter um minuto para subir e fazer a entrega, com a consciência tranquila de que não vamos ser assaltados.” Com a experiência de dez anos de trabalho, ele conta já ter sido rendido em uma véspera de Natal. “Colocaram arma na minha cabeça e perdi minha moto no Bairro Guaruá. Recuperei depois de 15 dias, mas estava toda destruída.” Ele acredita que a sequência de crimes recentes pode ter sido praticada por uma mesma quadrilha, porque, em pelo menos dois casos, os criminosos tinham características bem semelhantes.

Atitudes preventivas não garantem sensação de segurança

O motoboy Humberto Alexandre, 45, conhecido como Betinho, corroborou que tem rodado com medo. “Inclusive parei de trabalhar à noite. Encerro minhas entregas por volta das 19h. E, dependendo do lugar de onde solicitam, recuso. Nas lojas a que atendo já grifei os bairros nos quais não vou.” Apesar das atitudes preventivas, ele pondera que essas restrições não garantem segurança. “Ultimamente, têm acontecido vários assaltos em lugares nobres, como Bom Pastor, Vale do Ipê, São Mateus e Cascatinha. Agora não estão escolhendo mais.”

Betinho acredita que a PM deveria abordar, sobretudo, motociclistas que estão acompanhados. “O piloto costuma garantir a fuga, enquanto o carona pratica o assalto.” Segundo ele, informações sobre riscos são repassadas nos grupos de motoboys em aplicativos de conversa. “Passamos os locais que estão perigosos, onde as pessoas pedem lanche e sacamos que é emboscada para o motoboy. Temos restringido bastante, mas os lojistas não aceitam muito esse tipo de coisa.”

O assessor de comunicação da 4ª Região da PM, major Jean Amaral, garantiu que as unidades de Juiz de Fora estão intensificando as operações para prevenção desses crimes. “Nosso foco inclusive é na abordagem de motocicletas suspeitas, não de motoboys que estejam trabalhando. Daremos ampla divulgação nessas ações para que os trabalhadores se sintam mais tranquilos em trabalhar. Estamos atentos a essa questão para tentar coibir a ação de infratores.” O assessor acrescentou que as motos roubadas podem estar sendo utilizadas para a prática de outros crimes.

Grupo faz ato contra fiscalização e pede apoio à Câmara

No fim da tarde, um grupo de motoboys se reuniu em frente à Câmara Municipal. No ato, os participantes solicitaram intervenção da Câmara Municipal para dar visibilidade às demandas da categoria. Parte dos manifestantes foi recebida pelo presidente da Câmara Municipal, Juraci Scheffer (PT). Conforme o representante da Associação dos Motoboys, Motogirls e Entregadores de Juiz de Fora, Nicolas Souza Santos, o vereador foi sensível às pautas da categoria e prometeu agendar uma audiência pública ainda em junho para discutir a situação.

“Ele nos prometeu a audiência e a convocação dos órgãos de fiscalização, controle e de policiamento para podermos apresentar nossa demandas que já esão represadas há algum tempo. São várias as pautas, mas especificamente as pautas de hoje é em relação aos roubos e a questão das apreensões de motos.”

Após a reunião na Câmara, os motoboys fizeram ato na Avenida Barão do Rio Branco, na esquina com a Rua Halfeld, onde estenderam faixas de protesto. O protesto, entretanto, durou cerca de 30 minutos. E o trânsito foi liberado no local.

As informações são da Tribuna de Minas, associada AMIRT.

Foto: Fernando Priamo 

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