Mais de 32% dos estudantes da UFJF integram movimentos sociais

Por ser um espaço onde há pluralidade de ideias e respeito às diversidades, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) abre a possibilidade para que estudantes tenham contato com movimentos relacionados a causas sociais variadas, seguindo a natureza e identificação do próprio aluno. De acordo com a VPesquisa do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Universidades Federais, 32,6% do corpo discente, equivalente a 5.817 alunos, participam de pelo menos uma iniciativa. O levantamento foi realizado pelo Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Estudantis (Fonaprace) da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).

Dentro da Universidade, há integrantes de pelo menos 11 causas sociais diferentes, ampliando as diversas vozes que permeiam a instituição. Segundo os dados da pesquisa, as organizações e movimentos com as maiores mobilizações são as atléticas estudantis (8,5%), seguido dos movimentos feminista (8,4%) e estudantil (7,9%). Para a professora do curso de Serviço Social, Maria Lúcia Duriguetto, os cursos de graduação, pós-graduação e movimentos estudantis ajudam a despertar nos estudantes o interesse e envolvimento em diferentes causas sociais, uma vez que “a UFJF não está ilhada da realidade”. “As disciplinas universitárias contribuem para a construção de cidadãos politicamente situados e críticos, percebendo a necessidade do enfrentamento das desigualdades e opressões de forma ativa.”

UFJF

De acordo com Maria Lúcia, os movimentos sociais são espaços de organização e reivindicação voltados à conquista de direitos da população. “Eles dão visibilidade pública e política às demandas da classe trabalhadora e suas diferentes frações. É importante os alunos se envolverem para terem uma visão do quadro da realidade brasileira e despertar uma visão política das desigualdades sociais.”

 

Caminhos rumo ao sonho 

Representando parte dos 2,0% dos componentes do movimento negro, Gustavo Luiz Ribeiro faz parte de um grupo iniciado a partir da necessidade de estudar autores negros dentro da Faculdade de Comunicação e criar pesquisas utilizando tais referências teóricas. “Me identifico com boa parte das pautas dos movimentos negros. Através da minha vivência, assimilo a realidade de outras ações que buscam a emancipação de parcelas oprimidas da população. Desde o ensino fundamental e médio, sentimos falta da aplicação da lei 10.639, obrigando o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas.”

O grupo atua também, como um espaço de cura para as pessoas pretas, combatendo “traços da solidão em ambientes com acessos limitados historicamente a este público”.  O grupo busca trabalhar temas relacionados à negritude e teorizar as formas das pretas e pretos de compreender o mundo. “O que me motiva é a esperança dessa, ou das gerações seguintes, alcançarem a emancipação de todo tipo de opressão. Parece utópico pensar dessa forma, mas é o estímulo que encontro para facilitar caminhos rumo a este sonho.”

 

Em família

Vinda de uma família com mulheres feministas, a universitária Estela Loth conta que apesar de crescer conhecendo a luta pela igualdade de gênero, não sentia a necessidade de se organizar coletivamente até o ano de 2016. “Nós, mulheres, nunca estivemos em condições iguais, mas nessa época, a conjuntura anunciava um acirramento do conservadorismo. Não imaginava a situação como está hoje, mas percebia o aumento de um discurso perigoso, abrindo brecha para a retirada de direitos das mulheres e minorias sociais. Para além do feminismo, eu via a necessidade de me organizar e defender um projeto de sociedade mais justo e igualitário.”

Representada entre as 8,4% estudantes do movimento feminista, também faz parte dos 1,5% dos alunos integrantes de partidos políticos e entre os 5,6% que se enquadram em outros. O interesse em participar dessas ações surgiu a partir de relações estabelecidas com pessoas do movimento estudantil da UFJF e da militância de Juiz de Fora. “Minha motivação é a consciência da impossibilidade de conquistas sociais individuais. Somente através da união, entendendo a condição que nos assemelha, a de classe trabalhadora, se faz possível traçar uma luta por uma sociedade mais justa e igualitária. Quando digo igualitária, vai além da questão econômica. É preciso romper com um modelo de sociedade que necessita da desigualdade para se sustentar. Nós vamos romper com todas as formas de desequilíbrio, seja racial, de gênero e outros.”

 

Novos pontos de vista

“Eu trago em mim a vontade de participar dessas ações desde meu ensino médio”, explica a estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Humanas Maria Aguiar, que integra o grupo dos 5,1% dos estudantes envolvidos em ações artísticas e culturais, atuando na pasta cultural do Diretório Central dos Estudantes (DCE). “Desenvolver projetos nessa área faz parte da minha essência. Na escola, já trabalhava no movimento secundarista, auxiliando na produção de intervenções artísticas pela cidade – Duque de Caxias (RJ) -, indo a escolas, conversar sobre política, e colaborava com outros movimentos discentes. Essa vontade foi despertada desde cedo em mim.”

De acordo com Maria, a motivação em desenvolver projetos culturais é explorar as boas atividades produzidas dentro da Universidade, principalmente por ser um bom fio condutor e fomentador dessas ações. “A vida é muito legal, mas pode ser melhor por meio da arte. Há muita coisa para ser vista que pode aguçar as nossas percepções. Arte e cultura servem para isso, para que conheçamos outros pontos de vista.”

 

Energia e motivação juvenil 

Estudante do Instituto de Artes e Design, Gabriel Reis Amaral faz parte de três movimentos sociais relacionados a força da juventude dentro dos campos políticos. Atualmente, é diretor de comunicação do Diretório Central dos Estudantes (DCE), participante de um outro movimento estudantil e de um grupo político que organiza a juventude da classe trabalhadora. “De forma orgânica e ativa, eu participo do movimento estudantil desde que entrei na UFJF, em 2014, no grupo político desde 2016 e no DCE desde 2017. Minha história com atividades políticas surgiu desde criança. Minha mãe sempre teve uma abordagem familiar em relação às perspectivas políticas e prezava muito pela colaboração, valorizando um princípio de uma sociedade coletiva.”

Segundo Gabriel, a motivação em participar dos movimentos sociais é a crença na construção de uma nova sociedade. Ele considera necessária a organização juvenil em busca de vivências mais justas, coletivas e igualitárias. “A partir da organização popular, nós temos a possibilidade de criar um projeto em que acreditamos. A juventude não pode perder o encantamento nem a esperança. Devemos usar o máximo da nossa energia para construirmos espaços de forma organizada, sempre prezando pelo coletivo. É preciso usar nossa energia e motivação para lutar pela construção de um novo projeto de país.”

 

Fonte: UFJF

Postado originalmente por: Diario Regional – Juiz de Fora

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