Atrasos e pouca oferta de linhas que atendem a UFJF afligem usuários

Quase diariamente a Tribuna recebe reclamações sobre o transporte público urbano, mas, nas últimas semanas, as denúncias a respeito das linhas de ônibus que atendem a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) se intensificaram. Entre as queixas estão atrasos, pouca oferta de coletivos, superlotação e falhas por falta de manutenção dos veículos. A reportagem da Tribuna de Minas acompanhou o trajeto de alunos e trabalhadores da universidade em dias diferentes para entender a dimensão do problema.

Milhares de pessoas utilizam cotidianamente o transporte coletivo da cidade e passam pelos mesmos problemas ou situações ainda mais difíceis que os usuários das linhas que passam pela UFJF. Só no mês de junho, de acordo com o Portal da Transparência da Prefeitura de Juiz de Fora, a cidade registrou 6.031.391 usuários de ônibus urbanos.

Uma dessas pessoas é Virgínia Rodrigues, que trabalha no cerimonial da Diretoria de Imagem da UFJF e precisa do transporte público para chegar ao trabalho de segunda a sexta. Virginia mora no Bairro São Mateus, região central da cidade, e utiliza as linhas que passam na Avenida Itamar Franco rumo à Universidade, principalmente os números 525 (UFJF) e 549 (Nova Germânia). Para fazer um trajeto de aproximadamente 3,5km, ela tem levado mais de uma hora. “Você fica 50 minutos num ponto pra ficar 7 minutos dentro do ônibus.”

Além do tempo de espera, a falta de manutenção dos veículos também é uma reclamação frequente dos usuários. De acordo com passageiros ouvidos pela reportagem, os ônibus costumam quebrar e o percurso precisa ser interrompido. “Essa semana mesmo eu passei por isso, a porta do ônibus não fechava e aí o motorista se recusou a seguir viagem com a porta daquele jeito. Nós tivemos que descer e aguardar pelo próximo ônibus. É uma coisa frequente”, aponta Virgínia.

Briga judicial

A Tribuna tem reportado reclamações de usuários de ônibus há meses. Com a volta das aulas presenciais, esses problemas se tornaram mais recorrentes e a insatisfação dos usuários aumentou. Muitos acreditam que a piora das condições do transporte estão relacionadas ao imbróglio judicial envolvendo a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) e o Consórcio Manchester, composto pela empresa Tusmil. A PJF decretou em 15 de junho a rescisão do contrato com a concessionária, que segue obrigada a prestar o serviço durante 90 dias, até que a Prefeitura encontre uma empresa substituta. A decisão foi justificada pela PJF pela degradação da frota do consórcio, com aumento de mais de quatro vezes na média de notificações por dia. Em 27 de julho, entretanto, o Consórcio Manchester conseguiu uma liminar que impede que a PJF decrete a caducidade do contrato. A briga judicial continua.

Jonas Barcelos é estudante de administração e conta que observou a redução dos veículos em circulação desde quando o processo judicial começou. “Os horários que chegavam aqui e ajudavam os universitários a chegarem à universidade a tempo nas aulas agora chegam um pouco mais tarde.” Em nota, a Tusmil afirmou estar estudando soluções para esta questão, “que exige investimentos e recursos”. A empresa disse que tem tentado diálogo com a Prefeitura para viabilizar essas demandas. “Entre as questões com a PJF estão: a busca do subsídio já reconhecido como devido e, eventualmente, a apresentação do investidor da empresa.” A Tribuna entrou em contato com a Prefeitura de Juiz de Fora solicitando um posicionamento, mas, até sexta-feira (5), não obteve resposta.

Diferentes regiões

A crise no transporte coletivo atinge diversas regiões da cidade, o que afeta ainda mais estudantes e trabalhadores que moram distante do campus. Esse é o caso do aluno do curso de Rádio, TV e Internet da UFJF Juliano Mendes, que reside no Bairro Jóquei Clube I, na Zona Norte de Juiz de Fora. A linha 755 é responsável por garantir o acesso direto ao campus a Zona Norte, mas por passar em horários reduzidos, nem sempre Juliano consegue tomar esse ônibus, seja por falta de horário compatível com a oferta ou em razão da superlotação.

A alternativa, nesses casos, é entrar no ônibus que atende seu bairro, o 737, descer no Centro da cidade e embarcar em outro ônibus da linha sentido UFJF (535) ou, na falta deste, seguir viagem em uma das linhas que circulam no São Pedro ou nos bairros ao entorno. “A cada vez que o tempo vai passando vai me dando uma agonia, vai chegando o horário do trabalho, da aula, e eu fico pensando que horas vou chegar em casa, conseguir tomar banho, jantar, deitar na cama, esticar o corpo e dormir um pouco. É essa correria doida todo dia”, desabafa Juliano.

Tensão entre moradores e estudantes

Além da longa espera no ponto e a dificuldade de entrar no ônibus, conflitos de estudantes e profissionais da instituição com outros passageiros por um espaço no ônibus aumentaram. Os usuários notaram que a pouca oferta de ônibus, tanto das linhas para bairros específicos quanto das linhas que atendem a UFJF, tem gerado situações que vão para além do problema urbano em si. Tal fator, além de estar prejudicando o morador que não consegue pegar um ônibus para ir para casa e o estudante que chega atrasado para assistir às aulas, tem preocupado os passageiros, que temem o risco de brigas e outras discussões. O clima nos pontos, especialmente nos horários de pico, é de tensão.

Taylor Carelli mora no entorno da universidade e precisa dos ônibus que passam na UFJF para voltar do trabalho numa padaria no Centro da cidade. “Para ir e para voltar, querendo ou não tem o atraso. Geralmente não tem ônibus. Tanto o aplicativo (Cittamobi) quanto o Google Maps, quando você olha está marcando alguns ônibus, mas o ônibus não aparece. Quando aparece, está com 10 a 30 minutos de atraso ou vem lotado e aí a galera não consegue subir. Muita gente fica para o lado de fora, porque a porta não fecha. Essa situação toda acaba sendo um incômodo para muita gente.”

Virgínia Rodrigues acredita que uma alternativa para aliviar a demanda nos horários de pico seria a UFJF liberar o acesso dos terceirizados ao ônibus da própria instituição, que atualmente é restrito a funcionários do quadro efetivo. Segundo ela, no passado, bolsistas e terceirizados podiam usar o transporte da universidade, mas agora essa não é mais uma opção. Ao ser questionada pela Tribuna, a UFJF, por meio do gerente de transportes da instituição, Marco Antônio Silveira de Almeida, informou que os circulares do campus que vão até o Centro não podem ser usados pelos funcionários terceirizados, pois esses já recebem o vale-transporte. “Quando você pensa na questão dos terceirizados, eles são contratados através de licitação. E no caso existe uma cotação para alguns itens do processo licitatório e o transporte é um dos itens, então haveria um duplo benefício se os terceirizados usassem o ônibus”, afirma Marcos.

‘Cadê meu ônibus?’

Por conta da precariedade do transporte, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) criou, em julho, a campanha “Cadê meu ônibus que estava aqui?”. Com a movimentação, o DCE pretende organizar ações de cobrança de melhorias no transporte público da cidade. Para isso, uma carta endereçada à prefeita Margarida Salomão (PT) foi escrita pelos membros, “reiterando o problema insustentável sobre o transporte da cidade”. Em publicação em suas redes sociais, o DCE afirma que “perder aula e contar como falta nas disciplinas por problemas de transporte público não pode ser nossa realidade nem mais um dia”.

O DCE ainda comunicou ao corpo acadêmico que está articulando reuniões com vereadores da cidade para levar o debate à Câmara Municipal, assim como ao secretário de mobilidade urbana, Fernando Tadeu David. O diretor de comunicação do DCE, Alexandre Pinto, afirma que um formulário on-line foi lançado na última semana e ficará aberto para resposta até a próxima segunda-feira (8). “Ele tem o objetivo de recolher demandas concretas dos estudantes para que o DCE possa levar esse diagnóstico para a Prefeitura, para as empresas de ônibus, e cobrar deles uma melhor organização, para que nós tenhamos nosso direito de circular na cidade e estudar.”

As informações são da Tribuna de Minas, associada AMIRT

Foto: Leonardo Costa

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