Alunos da UFJF são afetados por corte de bolsas às vésperas de intercâmbio

Universidade declara que medida foi tomada em razão dos cortes de verbas que a instituição sofreu por parte do Governo federal

Após a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) anunciar cortes de bolsas do Programa de Intercâmbio Internacional de Graduação (PIIGRAD), alunos da instituição correm o risco de não realizar o intercâmbio no próximo semestre. A redução dos recursos foi anunciada, na última segunda-feira (11), cerca de um mês antes da viagem de alguns estudantes que contavam com a bolsa. Segundo a Universidade, a medida foi tomada em razão da crise financeira enfrentada, atualmente, motivada por cortes orçamentários realizados pelo Governo federal, que se intensificaram ao longo deste ano.

De acordo com o edital do PIIGRAD 2020, publicado em outubro de 2019, 20 bolsas oferecidas pelo Programa de Bolsas de Intercâmbio da Diretoria de Relações Internacionais da UFJF seriam destinadas aos candidatos. O documento também destaca que o pagamento de bolsas está condicionado à disponibilidade orçamentária. Após reuniões com a Reitoria e a Pró-Reitoria de Planejamento, sob assessoria da Procuradoria Jurídica junto à UFJF, a Universidade informou que 14 bolsas foram cortadas.

A instituição afirmou que o resultado final do edital, publicado em 2019, foi analisado para identificar quais aprovados permaneciam elegíveis para o recebimento da bolsa. “Foram detectados 06 (seis) estudantes que ainda mantinham vínculo acadêmico com a UFJF e não haviam desistido da realização do intercâmbio. Foi também detectada disponibilidade orçamentária para o pagamento das respectivas seis bolsas”, diz em nota divulgada no site da universidade.

Ainda conforme o documento, as bolsas seriam distribuídas, preferencialmente, aos estudantes que participam dos Programas de Apoio Estudantil da instituição. Caso houvesse desistência ou outro critério em que o aluno não estivesse apto a receber, o edital afirma que as bolsas seriam redistribuídas entre os demais candidatos de acordo com sua ordem de classificação por instituição e/ou curso. Porém, a redistribuição não aconteceu por falta de orçamento disponível. Os estudantes afirmaram à Tribuna que a redistribuição das bolsas já estava sendo garantida por meio de e-mails pela UFJF e que a maioria dos alunos afetados são da assistência estudantil.

O intercâmbio estava previsto para acontecer no segundo semestre de 2020, mas, com a pandemia de Covid-19, precisou ser adiado. Os alunos que estavam esperando há quase três anos estão preocupados em não conseguir realizar a viagem. Esse é o caso de Letícia Alves, aluna do curso de Arquitetura e Urbanismo, que foi aprovada em uma escola de arquitetura na França, a École National Supérieure d’ Architecture de Toulouse, e está com o intercâmbio de seis meses previsto para o dia 27 de agosto.

Letícia argumenta que a informação do corte demorou a ser divulgada para os alunos que estavam aguardando a redistribuição das bolsas, que tinham a expectativa de conseguir o apoio financeiro. “As bolsas foram cortadas, e sete alunos que já estavam em processo de intercâmbio, já tinham comprado passagens, foram ignorados, alunos apoiados pela Pró-reitoria de Assistência Estudantil (PROAE) que possuem uma certa vulnerabilidade social e já tinham demonstrado interesse em ocupar essas vagas, porque não tinham dinheiro para financiar o intercâmbio. Eu sou uma dessas alunas”, aponta a estudante.

A universitária foi bolsista da PROAE ao longo de todo o curso, mas para realizar o intercâmbio a norma da UFJF determina que o aluno cancele o vínculo com outra bolsa.  “Sem o acesso a bolsa de intercâmbio, o único recurso que eu tinha era a bolsa de assistência estudantil, sem poder usá-la fica mais difícil ainda para eu me manter no intercâmbio, o que dificulta ainda mais o acesso de alunos cotistas aos estudos no exterior.”

Falta de alternativa

Os valores da bolsa para intercâmbio de até seis meses variam entre U$ 3.400 e U$ 6.500, de acordo com cada país. Tal valor é destinado para as despesas gerais do universitário, como moradia, passagem, visto, custo de vida no exterior, exceto a mensalidade da universidade, que é gratuita para os estudantes da UFJF. Para o aluno de odontologia Luan Sabino, que irá estudar na Universidade do Porto, em Portugal, a bolsa era no valor de aproximadamente U$ 5 mil. Segundo ele, os alunos que vão daqui a um mês ou dois meses, como é o seu caso, já estão com carta de aceite e matrícula nas universidades. ”Temos que ir de qualquer jeito, mas estamos correndo o risco de passar dificuldades no exterior se a UFJF não der uma alternativa”, explica.

Luan também é aluno das políticas de assistência estudantil e, caso não consiga a bolsa, ele corre o risco de não poder embarcar para realizar os estudos. “Eu estou realmente frustrado, vendo colegas desistindo do intercâmbio após uma longa espera. Vou embarcar em setembro e as condições favoráveis ao meu intercâmbio dependem da liberação da bolsa”, comenta Luan.

“Nós tivemos que correr atrás de visto, passagem e outros processos e agora que precisamos do apoio da UFJF houve esse corte repentino, embora já estivesse previsto no edital que as bolsas seriam ofertadas de acordo com as condições orçamentárias da universidade. Nós nos preparamos contando com o apoio das bolsas para nos mantermos em outro país. Acho que o mais crítico disso tudo é a universidade não só avisar em cima da hora, mas também não propor alternativas para a gente”, explica o estudante.

UFJF afirma inviabilidade de redistribuir bolsas

Em resposta a Tribuna, a Diretoria de Relações Internacionais da UFJF afirmou que a inviabilidade de redistribuir as bolsas dos desistentes do processo, como ocorreu em outros anos, foi em função dos cortes orçamentários sofridos pela instituição. “Reforçamos que, dentre os bolsistas selecionados pelo edital, irão receber o benefício quem não concluiu sua graduação, não manifestou desistência ou optou por outro destino. O que não será possível realizar, como era a expectativa, é redistribuir aquelas inicialmente destinadas aos intercambistas desistentes. Tais medidas decorrem da grave crise financeira enfrentada atualmente pelas universidades federais como resultado dos repetidos cortes orçamentários impostos pelo governo federal a essas instituições. Cortes, muitas vezes intempestivos, que tomam a todos de surpresa e exigem reestruturação imediata do orçamento”,  ressalta a nota.

As informações são da Tribuna de Minas, associada AMIRT

Pesquisar