Violência de gênero no Brasil cresceu 10,8% nos últimos quatro anos

Em média, quatro mulheres são mortas por dia no Brasil e a cada nove minutos uma mulher ou menina é estuprada

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) levantou dados sobre feminicídio nos primeiros semestres dos últimos quatro anos e constatou que a situação piorou. Durante esse período, o número de casos de feminicídio cresceu 10,8%, num total de 2.671 mortes nos primeiros semestres dos últimos quatro anos. Além desse, outros crimes de gênero também apresentaram um aumento expressivo, como estupro e estupro de vulnerável.

Segundo o levantamento, somente no primeiro semestre de 2022, 699 mulheres foram assassinadas apenas por serem mulheres, isso representa uma média de quatro vítimas por dia. Comparado com o mesmo período de 2021, o aumento foi de 3,2%. Também foram registrados 29.285 estupros de meninas e mulheres no período e, de cada quatro vítimas, três eram vulneráveis, o que significa que a vítima era incapaz de consentir. Esses casos tiveram um aumento de 12,5% na comparação com o ano passado. Isso significa que, em média, entre janeiro e junho deste ano, ocorreu um estupro de menina ou mulher a cada nove minutos no Brasil.

As elevações mais acentuadas de casos no período foram registradas nos estados de Rondônia (225%), Tocantins (233,3%) e Amapá (200%), que aparecem entre os 16 estados que mantiveram os índices desde 2019 ou apresentaram algum tipo de crescimento nas estatísticas. Outros 11 estados apresentaram redução: Alagoas (-42,3%), Bahia (-2,1%), Distrito Federal (-42,9%), Espírito Santo (-6,3%), Paraná (-33,3%), Piauí (-18,8%), Rio Grande do Norte (-35,7%), Roraima (-50%), Santa Catarina (-9,4%), São Paulo (-11,8%) e Sergipe (-9,1%).

Samira Bueno, diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta a falta de investimentos do governo federal em políticas públicas de prevenção e enfrentamento à violência de gênero como um dos fatores que causaram a piora no quadro do país. Em 2022, R$5 milhões foram destinados ao enfrentamento da violência contra mulheres, o menor repasse de recursos dos últimos quatro anos, de acordo com uma nota técnica produzida pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). Outros R$8,6 milhões foram destinados à Casa da Mulher Brasileira.

“Os dados mostram que a violência contra a mulher aumentou nos últimos quatro anos, ao mesmo tempo em que o investimento em políticas públicas foi deliberadamente reduzido, sobretudo em nível federal. É importante observar que o aumento de 10,8% nos feminicídios contrasta com uma série de outros crimes, como os homicídios em geral, que caem ano a ano desde 2018”, explica.

A supervisora do Núcleo de Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Isabela Sobral, destacou que a subnotificação destes crimes durante a pandemia também pode ter impactado nos dados da pesquisa.

“A pandemia de covid-19 levou a um aumento de subnotificação de vários crimes. No caso do estupro, os índices de subnotificação já são altos porque é um crime que necessariamente exige um exame de corpo de delito nas vítimas para ser registrado. Durante o período mais intenso de isolamento social, a diminuição do acesso às delegacias e demais serviços de denúncia e proteção impactou negativamente no acesso às vítimas para o registro. Como agravante, foi limitado o acesso às instituições escolares, as quais tem papel fundamental na denúncia e no mapeamento de possíveis riscos em que as crianças estão vivendo, principais vítimas da violência sexual no Brasil”, explica Isabela Sobral, supervisora do Núcleo de Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Foto: Pexels

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