As vendas do comércio varejista em Minas Gerais aumentaram 2,3% de julho para agosto. É o que indica a série com ajuste sazonal da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada na sexta-feira (7) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado positivo veio após duas quedas consecutivas. No cenário nacional, houve recuo no volume de vendas de 0,1%.
Apesar do aumento percentual no Estado, a trajetória da Pesquisa Mensal do Comércio, no pós-pandemia, “ainda é bem volátil”. A observação é do analista em Informações Estatísticas e Geográficas do IBGE Minas, Daniel Dutra.
Na comparação com agosto de 2021, as negociações do comércio varejista mineiro tiveram aumento de 3,7%. O desempenho foi puxado mais uma vez pelo grupo de combustíveis e lubrificantes, que variou positivamente 34,4%. Em seguida, ficou o segmento de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos, com alta de 23%.
O analista do IBGE Minas ressalta que as duas categorias também foram destaques em julho. Segundo ele, o aumento nas vendas de combustíveis e lubrificantes tanto em Minas Gerais quanto no Brasil pode ter várias causas, dentre elas, a queda no preço dos combustíveis.
Ainda conforme Dutra, desde a pandemia, houve uma mudança de hábito na população. Dessa forma, também houve um crescimento, por exemplo, na demanda por serviços de transporte, mercadorias e comida. Além disso, o transporte rodoviário dos produtos agropecuários brasileiros também subiu bastante em 2022. Todos esses fatores, aliado à baixa dos valores dos combustíveis, podem ter feito com que a categoria avançasse.
Já do lado oposto, o comércio de outros artigos de uso pessoal e doméstico teve a maior retração nas vendas em relação ao oitavo mês do exercício anterior (-12,1%). Logo após, aparece tecidos, vestuário e calçados (-10,6%). Segundo Dutra, a primeira atividade citada também caiu no Brasil e alcançou o segundo maior impacto negativo.
O diagnóstico mensal do comércio mineiro ainda indica que, no acumulado de janeiro a agosto, as vendas em Minas Gerais subiram 1,3%. Já no acumulado dos últimos 12 meses, as negociações do setor seguem com baixa, agora de 0,5%. Dutra destaca que apesar dos dois indicadores “estarem com sinais trocados, a diferença não é tão grande”. Ele reitera que quando chegar dezembro, os dados estarão iguais.
Quanto aos segmentos, nas duas bases comparativas, o destaque positivo ficou com o grupo de livros, jornais, revistas e papelaria com altas de 29,7% e 22,6%, respectivamente. A categoria de móveis e eletrodomésticos teve o pior desempenho, com recuos de 17,4% e 22,9%, na mesma ordem de comparação.
“O setor de móveis e eletrodomésticos, realmente, nos últimos seis meses que estou acompanhando a divulgação da pesquisa, é um dos setores que tem apresentado os maiores índices negativos. Na verdade, nesse mês de agosto, foi um valor negativo, só que está até diminuindo mês a mês. Mas é um setor que foi bastante impactado pela crise econômica que a gente está vivendo, causada em parte pela pandemia. E esse é o tipo de bem que é mais durável. Então, as pessoas tendem a demorar um ciclo maior para trocar”, afirmou.
Ele salienta que, traçando um horizonte só deste ano, os indicadores da categoria foram negativos em todos os meses. “É o primeiro mês que a variação com o mesmo mês do ano anterior está positiva, inclusive”, destacou.
Varejo ampliado
O levantamento do IBGE também indica que o comércio varejista ampliado voltou a subir e encerrou o oitavo mês do ano com crescimento de 1,1% frente a julho. Na comparação com o mesmo período do ano passado, a alta foi de 3,1%. De janeiro a agosto, as vendas aumentaram 1%. Já no acumulado dos últimos 12 meses, o recuo foi de 0,2%.
No varejo ampliado, são incluídos mais dois setores de pesquisa. O grupo de veículos, motos, partes e peças, que teve aumento de 0,6% em agosto, e o segmento de material de construção, que subiu 3,3%. As duas atividades vinham de consecutivas retrações. No acumulado do ano, os dois setores se contrapõem, o primeiro com alta de 4,6% e o segundo com queda de 9,3%.
O analista do IBGE Minas relembra que o setor de material de construção foi menos impactado pela pandemia, visto que “continuou funcionando mesmo nos momentos críticos”. Entretanto, a alta na inflação dos insumos neste exercício e no anterior pode explicar o resultado negativo em 2022. Já quanto ao resultado positivo mensal, Dutra afirma que “talvez seja um aumento pontual”.
Setor acumula terceira baixa seguida no País
O varejo brasileiro registrou em agosto a terceira queda seguida nas vendas e bateu o menor patamar do ano, ainda patinando em meio a um cenário de inflação e juros elevados.
Em agosto, as vendas do setor contraíram 0,1% na comparação com o mês anterior, de acordo com os dados divulgados na sexta-feira (7) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado foi ligeiramente melhor do que a expectativa em pesquisa da Reuters de queda de 0,2%, mas levou as vendas a acumularem perdas de 2,5% nos três meses seguidos de taxas negativas. O setor só não registrou o quarto mês seguido de perdas porque o IBGE revisou para cima o resultado de maio, passando de uma perda de 0,5% para avanço de 0,2%.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, entretanto, as vendas mostraram desempenho melhor do que a expectativa de estabilidade ao crescerem 1,6%.
O desempenho do setor varejista brasileiro vem patinando nos últimos meses em um cenário de aperto do crédito e cautela com a inflação. Embora o IPCA tenha registrado em agosto o segundo mês de queda dos preços ao consumidor, isso se deveu principalmente ao impacto do recuo dos custos dos combustíveis.
Embora o resultado de agosto tenha posicionado o comércio no menor patamar do ano, o volume de vendas ainda está 1,1% acima do nível pré-pandemia, de fevereiro de 2020, mas 5,2% abaixo do ponto mais alto da série, em outubro de 2020.
“O comércio está numa trajetória de declínio”, afirmou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos. “A trajetória … depois da pandemia ainda é bem volátil”.
“Essa perda de fôlego do comércio pode ser justificada pelo impacto da inflação, mesmo com ela menor e com quedas em julho e agosto. A inflação cedeu, mas ainda reduz o poder de compra e o ímpeto por consumo”, completou.
Para Alberto Ramos, do Goldman Sachs, o alto endividamento das famílias e as condições de crédito exigentes devem ser compensadas nos próximos meses pelas quedas nos preços de combustíveis, eletricidade e telecomunicações, entre outros fatores.
“Transferências de dinheiro generosas para as famílias com uma alta propensão de consumo (em medidas de apoio do governo) e a melhora da confiança do consumidor oferecem algum suporte para a atividade varejista no curto prazo”, disse ele.
Alimentos e combustíveis
Entre as oito atividades pesquisadas, três tiveram retração: artigos farmacêuticos, de 0,3%; equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação, de 1,4%; e outros artigos de uso pessoal e doméstico, de 1,2% – as duas últimas, de acordo com Santos, têm ganhado relevância na análise dos resultados devido aos desempenhos negativos nos últimos meses.
O gerente da pesquisa destacou ainda que o avanço de 0,2% nas vendas de Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo funcionou como um “fator âncora” para o resultado do mês, segurando o resultado total perto de zero, uma vez que pesa cerca de 50% no índice global.
Já a atividade de combustíveis e lubrificantes apontou crescimento de 3,6%, após alta de 12,6% em julho. “Como a queda do IPCA (em agosto) foi concentrada nos combustíveis, isso ajudou a reduzir a perda do varejo”, disse Santos.
O comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, teve queda de 0,6%. Isso mesmo com o avanço de 4,8% no mês de veículos, motos, parte e peças. Materiais de construção apresentaram retração de 0,8% nas vendas.
As informações são do Diário do Comércio.
Foto: Alisson J. Silva/Arquivo DC