Reflexão: Os dois papas

O filme de Fernando Meireles está fazendo sucesso perante o público brasileiro e já é concorrente à estatueta do Globo de Ouro. Com razão e justiça a película apresenta um belo espetáculo, uma estória interessante, um roteiro maravilhoso, fotografia excelente e a música de fino gosto. Os geniais artistas escolhidos. Brilhante o ator, Jonathan Pryce, que assumiu o papel de Francisco! Aliás, o elenco, muito bem escolhido não deixou nada a desejar.

A personalidade “argentina”, feita de fogo e de ímpeto, de paixão e de transparência, de opulência e personalismo retratou muito bem o perfil do Cardeal Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco.
Um filme romanceado, é claro, mas que expressou com maestria o que se propôs. A paixão de Bergoglio pela Igreja, pelos pobres, pela busca incansável da realização dos designíos de Deus em sua vida comoveu o tempo todo. Deixa o espectador preso, ávido de beber na fonte de um jovem, que em certo momento da vida descobriu o chamado de Deus e abraçou o sacerdócio. Coerente em toda a vida presbiteral, marcado pela sensibilidade de atuar junto aos desfavorecidos, entendendo que Jesus Cristo veio trazer vida nova para todos, acredita que é possível todos crescerem se tiverem a mesmas oportunidades. Na mesma via, militava Camila Taliberti, jovem advogada de São Paulo, que morreu sob a lama destruidora do fatídico rompimento da barragem em Brumadinho, quando passava por lá. Uma forte noção social de que “Enquanto todo mundo não tiver as mesmas oportunidades e as mesmas condições… não teremos um mundo igual”.

Foi assim que o frade jesuíta se embrenhou na Vida Religiosa Consagrada, estudou e liderou seu grupo como Superior na Ordem. Foi à luta, brigou, calou quando preciso, falou e exigiu quando teve oportunidade. Embora tenha vivido o sentimento de culpa de que tinha se omitido quando da luta pelos direitos humanos no regime de recessão que marcou os anos 70 na América Latina.

O simpático cardeal “é acessível, descontraído, informal, apaixonado por futebol e tango como todo bom argentino, ou seja, gente como a gente. Com extrema sensibilidade, Jonathan Pryce capta tais características e entrega um personagem adorável, capaz de assobiar “Dancing Queen”, do Abba, em plena eleição no Vaticano ou pedir uma fatia de pizza em uma barraca qualquer assim que chega a Roma”.
“Já Bento, é totalmente diferente: catedrático, sisudo e autoritário, almejou o cargo que ocupa através da política interna do Vaticano. Sua ausência de carisma não o tornou tão amado quanto seu antecessor, João Paulo II, e ele tem consciência disto. De certa forma, é fácil não gostar dele e é tocante ver Anthony Hopkins, aos 80 anos, se sujeitar a um personagem que lhe exija tanto em relação à postura física. Seu conhecido olhar penetrante combina muito bem com a personalidade forte de Bento, não só ao se ver contrariado mas também quando precisa convencer seu colega de fé “ (crítica de Francisco Russo).

Bento e Bergoglio não são inimigos. Dá prazer ver o respeito que nutrem um pelo outro em tempos de tanta intransigência e egoísmo.

O que se vê no filme é a história de duas pessoas de Deus, que investiram toda sua vida no seguimento de Jesus Cristo, com o afã de lutar pela verdade, pela Igreja, discípula e missionária. O filme mostrou o lado humano dos papas, a fragilidade de seres humanos, que acima de tudo buscam, com afinco, uma resposta ao apelo de Deus na realidade de seu tempo. “Doa a quem doer”!

Excelente filme que nos mostra que atrás do poder e da nobreza, todos somos exatamente iguais, principalmente nas fraquezas. Vale a pena assistir!

Postado originalmente por: Tribuna do Leste – Manhuaçu

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