Reflexão: Nosso casa comum: o planeta Terra

Estamos assistindo, tristemente, a escalada de queimadas, no Brasil (e no mundo), de modo especial, no Pantanal, que há dias queima sem parar. Os satélites têm registrados números altíssimos: recorde histórico com número mensal mais alto de focos de incêndio desde o início da série do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 1998. Foram 6.048 pontos de queimadas registrados no bioma desde o dia 1º de setembro. O recorde mensal anterior era de agosto de 2005, quando houve 5.993 focos de incêndio no bioma.

Em comparação a 2019, quando setembro teve 2.887 focos detectados em 30 dias, o mesmo mês de 2020 já apresenta uma alta de 109%. O número de focos neste mês está 211% acima da média histórica do Inpe para setembro, que é de 1.944 pontos de incêndio (Fonte: Inpe).

Incêndios começaram em fazendas

Um estudo do Instituto Centro de Vida (ICV) mostra que os incêndios que destruíram 117 mil hectares no Pantanal de Mato Grosso começaram em cinco fazendas localizadas em Poconé, a 104 km de Cuiabá. Com 3.126 km², o município respondeu por 18% de toda a área atingida pelo fogo no estado até agosto deste ano. Segundo o Inpe, já são mais de 1,74 milhão de hectares queimados só em Mato Grosso até o dia 13 de setembro.

Outro agravante constatado constitui na modalidade traiçoeira do fogo: apagado na superfície, ele continua a combustão subterrânea. Quando menos se espera ele retorna. O chamado fogo subterrâneo dificulta o combate às chamas no Pantanal.

Além da devastação da flora, as queimadas tem prejudicado, altamente, a fauna levando à morte milhares de espécies de animais pantaneiros. São mais de mil espécies de animais e 2 mil de plantas ameaçadas pelas queimadas. Nem as mais efetivas técnicas de combate às chamas estão dando conta e o fogo se espalha pelo ar e até por debaixo da terra. 

Palavra da Igreja

A Igreja, através do Papa Francisco tem tomado decisões importantes e significativas a respeito do meio ambiente, sobretudo da defesa do planeta Terra, nossa Casa Comum. Dois documentos expressam o desejo da Igreja com relação ao respeito ao meio ambiente: a encíclica “Laudato Si’, Louvado sejas sobre o cuidado da casa comum” e a Exortação Apostólica Pós-sinodal, “Querida Amazônia”.

Perda de Biodiversidade – Os recursos da terra estão a ser depreda- dos também por causa de formas imediatistas de entender a economia e a atividade comercial e produtiva. A perda de florestas e bosques implica simultaneamente a perda de espécies que poderiam constituir, no futuro, recursos extremamente importantes não só́ para a alimentação mas também para a cura de doenças e vários serviços. As diferentes espécies contém genes que podem ser recursos-chave para resolver, no futuro, alguma necessidade humana ou regular algum problema ambiental (Laudato Si’ n. 32). 

O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar. O Criador não nos abandona, nunca recua no seu projeto de amor, nem Se arrepende de nos ter criado. A humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum (Laudato Si’ n. 13). 

Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós. O movimento ecológico mundial já́ percorreu um longo e rico caminho, tendo gerado numerosas agregações de cidadãos que ajudaram na consciencialização. Infelizmente, muitos esforços na busca de soluções concretas para a crise ambiental acabam, com frequência, frustrados não só́ pela recusa dos poderosos, mas também pelo desinteresse dos outros. As atitudes que dificultam os caminhos de solução, mesmo entre os crentes, vão da negação do problema à indiferença, à resignação acomodada ou à confiança cega nas soluções técnicas. Precisamos de nova solidariedade universal (Laudato Si’ n. 14). 

Assim, podemos dar mais um passo e lembrar que uma ecologia integral não se dá por satisfeita com ajustar questões técnicas ou com decisões políticas, jurídicas e sociais. A grande ecologia sempre inclui um aspeto educativo, que provoca o desenvolvimento de novos hábitos nas pessoas e nos grupos humanos. Infelizmente, muitos habitantes da Amazónia adquiriram costumes próprios das grandes cidades, onde já estão muito enraizados o consumismo e a cultura do descarte. Não haverá uma ecologia sã e sustentável, capaz de transformar seja o que for, se não mudarem as pessoas, se não forem incentivadas a adotar outro estilo de vida, menos voraz, mais sereno, mais respeitador, menos ansioso, mais fraterno (Querida Amazônia n. 58).

Por uma espiritualidade ecológica

Na antiguidade,  encontramos a preocupação com a educação ambiental, no livro do Deuteronômio (objeto de estudo do Mês da Bíblia 2020). Dois exemplos:

“Quando sitiares uma cidade  por longo tempo, lutando para te apoderar dela, não destrua as árvores a golpe de machado, pois poderás comer dos frutos. Não corte as árvores. Ou será que a árvore do campo é gente, para que lhes faça guerra? (Dt 20,19);

Se encontrares no caminho, sobre uma árvore ou na terra, um ninho de passarinho e a mãe juntamente com os filhotes ou chocando os ovos, não apanhe a mãe dos filhotes. Deixarás a mãe em liberdade e tomarás para ti apenas os filhotes para que prospere e prolongue os teus dias” (Dt 22,6-7).

“Os textos acima nos levam para próximo dos desafios apresentados pela atual crise sócio ambiental. Neste sentido, é urgente uma nova visão das atitudes ecológicas do ser humano que o levem a desenvolver formas de cuidado e proteção das relações de vida. É necessário resgatar a realidade da integridade e da interdependência entre todos os seres vivos. Nesta dimensão o ser humano ressignifica o seu existir e religa-se à sua missão de servo e mantenedor da vida por meio do cuidado da criação – comprometida na sua plenitude.

Postado originalmente por: Tribuna do Leste – Manhuaçu

Pesquisar