O público televisivo brasileiro que assiste às novelas da TV Globo se deparou, neste final de semana, 22-23/11, com uma cena inusitada no final da novela “A dona do pedaço”. O encerramento da peça televisiva, escrita pelo autor Walcyr Carrasco, intrigou os “mais atentos” quando assistiram à encenação de personagens com atitudes e gestos perversos, praticando crimes, sem nenhum peso de consciência, mesmo tento manifestado, fortemente, adesão à fé cristã.
A sensação deixada na encenação da TV, foi de que, uma opção por Jesus Cristo em nada influenciou ou modificou as atitudes das personagens que expressaram atitudes malévolas e criminosas. Enquanto falavam da fé assassinavam seus afetos (ou desafetos). Após realizar um “serviço” de “encomendar almas” (matar alguém por encomenda, recebendo por isto) a personagem foi capaz de tomar um símbolo precioso da piedade popular católica, o terço, e recitá-lo “fervorosamente” (sic)!
A colunista do jornal O Globo, Ruth de Aquino, escreveu em sua coluna a crônica “Por que Josiane virou evangélica”. A matéria, infelizmente, não pode ser publicada na íntegra em outros órgãos de comunicação, porque constitui conteúdo exclusivo para assinantes. Apenas um pequeno trecho (quatro linhas) pode ser dado além do link. Ela faz uma análise deste comportamento que tem sido acentuado nos presídios brasileiros, onde autores de crimes hediondos como Suzane Von Richtofen, mandante do assassinato de pai e mãe, condenada a 39 anos, foi batizada pela Assembleia de Deus na prisão.
Quando libertada, bem antes de concluir a pena, ela se tornará pastora da Igreja Quadrangular; O goleiro Bruno, condenado por mandar matar a mãe de seu filho Bruninho com requintes de premeditação e crueldade, também virou evangélico, casou num culto ainda na prisão; Guilherme de Pádua, condenado pelo crime premeditado de Daniella Perez em 1992, com 18 tesouradas no pulmão, coração e pescoço, só ficou preso sete anos. Tornou-se obreiro da Igreja Batista da Lagoinha; Anna Carolina Jatobá, condenada por jogar a enteada Isabella, de cinco anos, do sexto andar, também virou evangélica na prisão.
“A religião entra onde o Estado não existe. Ela dá um sentido à vida dos despossuídos e abandonados.”
A fé, segundo os conceitos teológicos da doutrina católica consiste em um dom recebido de Deus. Mas também uma virtude, que significa que o fiel, deverá desenvolvê-la ao longo de sua vida. A fé se torna um processo de vivência que vai incidir em todos os atos e consequências na vida do dia a dia.
Quando a fé chega pelo processo da conversão significa que o fiel passa por uma mudança fundamental em sua essência de vida. É uma palavra de origem grega (μετάνοια , metanoia) e significa arrependimento, conversão (tanto espiritual, bem como intelectual), mudança de direção e mudança de mente; mudança de atitudes, temperamentos; caráter trabalhado e evoluído.
Quando alguém se diz convertido, deixa sinalizar que sua vida se transformou por completo. Tem outra direção, adquiri outra visão da vida e das pessoas. Passa a ter comportamentos condizentes iluminados pela fé. Todos os atos da vida têm uma inspiração, não uma aspiração e transpiração no sentido de tornar seu o comportamento semelhante ao de Jesus Cristo.
Mediante esta apresentação, torna-se impossível alguém manifestar atos ou atitudes contra a vida, colocando-se contrariamente ao ensinamento de Jesus Cristo. Nunca podemos dizer que alguém mata em nome de Deus! Nunca podemos admitir que quaisquer infrações, premeditadas, contra o irmão/irmã possa ser classificada cristã, digna de seguimento de Jesus Cristo.
A novela de Walcyr procurou retratar, ainda que caricaturalmente, o mundo da perversidade e da maldade que tenta apossar do religioso, do sagrado, para justificar atitudes doentias e estranhas, que nunca expressam ou traduz o verdadeiro mundo da espiritualidade cristã que conduz o ser humano para o que de mais nobre existe: a vivência do amor cristão até às últimas consequências em favor do próximo.
Postado originalmente por: Tribuna do Leste – Manhuaçu
