Peças artesanais estreiam nova fase após sucesso internacional

Público jovem consome mais e também quer aprender a tecer

Na contramão da fugacidade da moda, as peças em crochê e tricô atravessam gerações no Brasil como símbolos de afetividade e, recentemente, ultrapassaram as fronteiras e ganharam também o status de sofisticação no mundo todo. Em 2021, a Prada lançou uma linha de bolsas em crochê que podem custar até R$15.000. No ano passado os holofotes acenderam (e não apagaram desde então) depois que a marca nordestina Ateliê Mão de Mãe apresentou suas peças no evento Eco/Fashion Vibes, em Milão.

O sucesso dessas técnicas pode ser visto por várias lentes, como a do apelo emocional, considerando o histórico de possibilitar independência financeira para mulheres, sobretudo, as interioranas do Brasil em uma época em que o trabalho ainda era reservado aos homens e a mais óbvia: elas trazem o requinte que só algo feito à mão consegue alcançar. O fato é que esses materiais já eram tendências permanentes no inverno brasileiro antes de ganharem reconhecimento internacional e, se ocuparam as vitrines no verão, neste inverno a expectativa é que a procura por casacos, toucas e outras peças da estação seja insana.

Como prova dessa estabilidade, este ano a Feira de Malhas e Tricô do Sul de Minas completa 25 anos de realização quase ininterruptos, ressalvo o período de isolamento social causado pela Covid-19. Ao todo são 90 expositores das cidades mineiras de Jacutinga, Monte Sião, Andradas e Ouro Fino. Nos dez dias de feira, que acontecem de 04 a 13 de maio, no Minascentro, as tendências da moda outono/inverno 2023 serão apresentadas com opções para estilos e preços variados. No ano passado 60 mil pessoas passaram pela feira.

Feira de Malhas e Tricô, no Minascentro.

De acordo com Dayhana Nicoleti, produtora de moda e coordenadora da feira, os expositores trouxeram modelos práticos, confortáveis e sofisticados. “O tricô é elegante, versátil e super quentinho, podendo ser usado na meia estação e no inverno mais rigoroso”, observa. Para completar o look, os visitantes vão encontrar também acessórios, sapatos e roupas íntimas.

Para quem deseja aprender, espaço em BH oferece vivências gratuitas 

Com o mercado reaquecido, a procura para aprender a magia dos fios também aumentou, principalmente entre os jovens. Além da oportunidade de gerar renda, o caráter terapêutico chama atenção daqueles que buscam entretenimento longe das telas.

A espera dessa deixa, a publicitária Leilane Arães inaugurou o espaço Leilãs & Linhas no coração de Belo Horizonte e integrou matéria-prima, produto final e estudo no mesmo endereço. O armarinho, como gosta de chamar, fica na Galeria São Vicente, em frente ao Mercado Central e oferece diversos fios, desde os populares até os mais raros, como a lã merino, obtida por meio de um tipo específico de ovelha. Já as peças a pronta entrega são feitas a muitas mãos, com artesãs parceiras, como Cibele Soares da Linhas e Laços Amigurumi e Marine Ferreira, da Decorda Macrame.

Leilane Arães, idealizadora do espaço.

Sem pretensão de ser só um ponto comercial, o espaço oferece vivências gratuitas com objetivo de resgatar a prática de “tricotar com as amigas”.

“Essa vivência é para quem já teve contato com o tricô poder vir e trocar experiências e também para as pessoas que não conhecem conseguirem vivenciar essa experiência do zero”, destaca Leilane.

As vivências não têm datas fixas, geralmente são divulgadas uma semana antes no perfil do Instagram. Cada participante deve levar material individual, que também pode ser adquirido no espaço.

Foto: Val Gonçalves.

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