Estiagem deixa Rio Paraibuna assoreado e com mau cheiro

Galhos e lixo acumulam-se em volta do pilar da ponte do Ladeira, onde uma bananeira está crescendo, dentro do Rio Paraibuna (Foto: Fernando Priamo)

A estiagem no mês de julho, recorde nos últimos 28 anos, tem acarretado outro grave problema em Juiz de Fora, além das queimadas, como a que devastou uma grande área na última quinta-feira (1º) no Morro do Cristo. O Rio Paraibuna, que corta considerável parte da cidade, indo das regiões Norte à Sudeste, apresenta assoreamento em vários pontos, devido ao baixo volume, e está malcheiroso. Quem caminha às margens do rio ou mesmo trafega dentro de veículos pela Avenida Brasil ainda pode constatar que a piora na aparência da água, densa e escura, revela o descaso de décadas com aquele que deveria ser um dos nossos cartões-postais. A seca expõe o lixo depositado de forma irresponsável no curso d’água e lembra a todos onde vai parar boa parte do esgoto produzido nos domicílios e nas indústrias.

Enquanto o projeto de despoluição do Paraibuna não produz resultados visíveis e a chuva não vem, a população segue sua rotina, se deparando com odores e paisagens bem desagradáveis. Alguns questionam se uma dragagem no leito do rio não aliviaria a situação, enquanto outros avaliam se o controle do volume de água é mesmo realizado por meio da Represa de Chapéu d’Uvas.

Foto: Fernando Priamo

O músico e jornalista Danniel Goulart confessa sua ignorância sobre a possibilidade desse aumento aparente do volume de esgoto ser normal para a época ou consequência das obras de despoluição, por exemplo. “Mas é certo que o rio está muito feio, com uma cor e cheiros muito ruins. Passo por lá de ônibus, não moro perto, mas imagino que as populações ribeirinhas devam estar sofrendo.” Segundo ele, próximo à Usina Hidrelétrica de Marmelos, o acúmulo de dejetos fica mais visível. “O poder público precisa agir para diminuir os danos para as pessoas enquanto as obras de despoluição não ficam prontas. É triste e mostra uma cidade desantenada com a ambição de ser uma cidade do futuro.”

O professor Paulo Barros costuma caminhar às margens do rio aos domingos, entre as pontes de Santa Terezinha e do Manoel Honório. Nas últimas duas semanas ele notou que o aspecto da água, antes com coloração amarronzada, estava com um tom esverdeado escuro. “A impressão que dá é que temos um esgoto a céu aberto atravessando a cidade. O mau cheiro incomoda bastante, me fazendo optar por outros lugares para me exercitar.”
Questionada pela Tribuna, a Cesama informou que “efetua continuamente o monitoramento do volume de água do Rio Paraibuna, que é controlado através da Represa de Chapéu d’Uvas”. “Esse trabalho tem como base a previsão das chuvas.” Sobre a questão da dragagem do leito, a companhia afirmou que, em parceria com a Secretaria de Obras (SO), “analisa a viabilidade técnica e financeira de intervenções na calha do rio, uma vez que ele pertence ao Estado”. “Os trabalhos ainda estão em estágio inicial, com o levantamento dos requisitos ambientais necessários”, completa.

Despoluição ‘é um sonho antigo de todo juiz-forano’

Foto: Fernando Priamo

Segundo a Cesama, o conjunto de obras de despoluição do Rio Paraibuna abrange a implantação de aproximadamente 40 quilômetros de tubulação ao longo das margens do curso d’água e dos principais córregos da cidade. O projeto, visto como “um sonho antigo de todo juiz-forano”, é orçado em mais de R$ 130 milhões. Um dos passos mais importantes da iniciativa foi a inauguração da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) União-Indústria, no Bairro Granjas Bethel, região Sudeste, em março do ano passado. Além da nova ETE União-Indústria, outra estação será construída no Bairro Santa Luzia, enquanto as unidades em Barbosa Lage e Barreira do Triunfo receberão obras de ampliação.

As intervenções foram iniciadas em agosto de 2013, apesar de o projeto existir no papel há mais de 15 anos, mas muitas obras ocorrem longe dos olhos da população, que ainda não sente os impactos. Atualmente, o município trata apenas 10% do seu esgoto, e a expectativa é de dobrar a capacidade do tratamento, chegando a 50% nos próximos anos.

“Mais do que um investimento em saneamento básico, trata-se de um investimento em saúde pública, pois, para cada R$ 1 destinado ao saneamento, o país economiza cerca de R$ 4 em saúde, segundo a Organização Mundial de Saúde. A população pode até não ver as redes de esgoto da Cesama, mas, com certeza, poderá verificar seus benefícios”, afirma a companhia.

Estiagem severa

Matéria publicada pela Tribuna no dia 31 mostrou que o acumulado de chuvas em Juiz de Fora em julho deste ano foi o menor registrado desde agosto de 1991. Durante todo o mês, choveu apenas nos dias 5 e 6, somando 4,7 milímetros de precipitações. A atuação constante das massas de ar seco e quente, que impedem a formação de nuvens e a aproximação das frentes frias, seria a causa da estiagem severa. O fim deste período pode acontecer entre domingo e segunda, quando há previsão de chuvas, conforme o Inmet.

Foto: Fernando Priamo

Além do assoreamento do Rio Paraibuna, o resultado da seca pôde ser percebido pelos juiz-foranos na quinta, quando o incêndio de grandes proporções que destruiu boa parte da vegetação do Morro do Cristo espalhou uma densa nuvem de fumaça pela região central. Até um helicóptero precisou ser mobilizado no combate às chamas, devido ao local de difícil acesso. O fogo devastou entre 40 e 50 mil metros quadrados da área verde de preservação permanente, correspondente a cerca de sete campos de futebol.

Já nesta sexta (2), outro incêndio em vegetação, no Recanto dos Lagos, região Nordeste, mobilizou o Corpo de Bombeiros. Boa parte da mata foi consumida pelo fogo, que iniciou-se na Rua Oliveira Pires de Carvalho e se estendeu até a Rua José da Silva Atalaia. Informações do Corpo de Bombeiros dão conta de que as chamas começaram por volta das 11h no local. Duas viaturas com seis militares atuaram no combate até por volta das 17h30. Até a edição desta matéria, a corporação não tinha como contabilizar a extensão da área atingida.

Ao mesmo tempo, os bombeiros combatiam outro foco de queimada na Cidade Alta. No local, parte da vegetação foi atingida por incêndio no Bairro Dom Orione, nas imediações do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU/UFJF). O fogo iniciou pela manhã, e só foi controlado no fim da tarde. Conforme os bombeiros, os trabalhos de combate às chamas foram finalizados por volta das 18h.

Ainda durante a tarde, a Tribuna flagrou outros focos de incêndio em vegetação. Um deles às margens do Rio Paraibuna, na altura do Bairro Poço Rico, na região Sudeste, e outro, bem próximo, numa via de acesso que liga o Poço Rico ao Guaruá, na Zona Sul. O Corpo de Bombeiros, entretanto, não havia, até o fim do dia, registrado estes dois episódios. Desde o início deste ano, 200 registros de queimadas já foram computados pelo Corpo de Bombeiros.

Previsão de chuva

Entre domingo (4) e segunda-feira (5), passa a atuar uma massa de ar polar, causando queda brusca nas temperaturas, quando os termômetros deverão oscilar entre 10 e 14 graus. Também nestes dias, há previsão de fortes rajadas de vento, causando sensação térmica abaixo dos 9 graus. O tempo frio deverá permanecer por toda a semana. Todavia, a partir de terça, as temperaturas aumentam, podendo chegar aos 22 graus de máxima.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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