Conheça a inovação tecnológica que vai revolucionar o rádio

Fernando Morgado, professor e consultor, analisa a tendência que vai mudar a forma como as pessoas consomem áudio

De acordo com dados da Kantar IBOPE Media, aproximadamente um terço do consumo de rádio ocorre dentro dos veículos, enquanto a categoria trajeto (que inclui transportes públicos) corresponde a 9%. Isso significa que uma parte significativa da audiência das emissoras provém da escuta em movimento, e essa situação está agora em jogo. Existe uma tecnologia em rápida evolução que pode ampliar consideravelmente a concorrência pela atenção de motoristas e passageiros.

Durante o treinamento que ministrei na semana passada para as rádios do Grupo SCC, em Santa Catarina, destaquei esse alerta. Realizei quatro palestras no mesmo dia, abordando aspectos estratégicos do negócio de radiodifusão, como vendas, projetos multiplataforma, conteúdo e tendências. Foi no momento das tendências que mencionei algo que muitos ainda não estão atentos: a expansão dos carros autônomos.

De acordo com a Precedence Research, o mercado de carros autônomos deverá gerar US$ 170 bilhões em 2023 e atingir a marca de US$ 1,8 trilhão em 2030. E isso está longe de ser uma ficção científica. Muitos desses veículos já circulam pelas ruas do Brasil, pois é importante lembrar que existem seis níveis de automação, variando desde nenhum (nível 0) até total (nível 5). Esses níveis representam o grau de intervenção do motorista no controle do veículo. À medida que esses níveis avançam, os passageiros têm maior liberdade para se envolver em outras atividades durante as viagens, como consumir conteúdo.

Nos níveis mais baixos de automação (níveis 0, 1 e 2), os motoristas estão mais engajados na tarefa de dirigir. Nesse contexto, a programação de rádio nos formatos atuais continua sendo extremamente relevante, pois oferece entretenimento, informações de trânsito e notícias de forma rápida e segura, sem distrair o condutor.

No entanto, à medida que se chega aos níveis mais altos de automação (níveis 3, 4 e 5), os carros autônomos assumem cada vez mais o controle. Os motoristas se tornam passageiros e têm mais tempo livre para se envolver em outras atividades. Isso inclui o consumo completo de conteúdo em vídeo, algo inviável quando se está ao volante de um carro convencional. Em outras palavras, o rádio pode perder sua histórica condição de ser o melhor companheiro dos automóveis.

Existem maneiras de o setor se adaptar a esse cenário mais complexo. A produção de vídeos, por exemplo, se tornará ainda mais estratégica, uma vez que nos carros autônomos as telas ocupam espaços maiores e mais privilegiados nos painéis. As montadoras fizeram isso com o objetivo de capturar a atenção dos passageiros, que antes estavam focados na estrada e com as mãos no volante.

Além disso, é essencial que as emissoras estejam presentes nos sistemas de entretenimento dos carros autônomos. É fundamental colaborar com fabricantes de automóveis e fornecedores de tecnologia para garantir a inclusão de aplicativos de rádio nas interfaces dos veículos. Isso permitirá que os passageiros acessem facilmente as estações e desfrutem de uma experiência sonora contínua.

Outra tendência importante é a integração de tecnologias como a inteligência artificial. Através de comandos de voz, os passageiros podem selecionar rádios, controlar o volume e interagir com programas usando assistentes virtuais. Essa interação por voz oferece uma experiência intuitiva e sem distrações para os passageiros dos carros autônomos, permitindo que eles desfrutem do conteúdo de rádio com maior conveniência.

As emissoras também podem explorar parcerias estratégicas com empresas e serviços relacionados aos carros autônomos. Colaborar com aplicativos de navegação e compartilhamento de viagens, por exemplo, permite que as emissoras forneçam informações de trânsito em tempo real e recomendações de entretenimento com base na rota dos passageiros. Essas parcerias podem aumentar a visibilidade das emissoras e oferecer novas oportunidades de monetização.

Para se manterem relevantes na era dos carros autônomos, as rádios devem acompanhar as mudanças no comportamento e nas preferências dos ouvintes. A transição para os carros autônomos significa que os passageiros terão mais tempo disponível durante as viagens, o que ampliará a demanda por conteúdo envolvente, algo que o rádio oferece há mais de um século. Reforçar a produção multiplataforma e estreitar ainda mais os laços com a tecnologia são os caminhos para o setor continuar sendo uma presença dominante nos carros.

Colunista

Fernando MorgadoConsultor e palestrante de marketing e inteligência de mercado. Já atuou para marcas como Band, SBT e Shoptime. Professor da ESPM e das Faculdades Integradas Hélio Alonso. No Grupo Globo, trabalhou na área de inteligência de mercado e no planejamento estratégico das rádios. Possui livros publicados no Brasil e no exterior, incluindo o best-seller Silvio Santos – A Trajetória do Mito. Foi coordenador adjunto do Núcleo de Estudos de Rádio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestre em Gestão da Economia Criativa e especialista em Gestão Empresarial e Marketing pela ESPM. https://instagram.com/morgadofernando_
Foto: Freepek

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