Centenário da morte de Coronel Serafim Tibúrcio

Uma das figuras mais icônicas da história de Manhuaçu, Coronel Serafim Tibúrcio atrai para sua imagem sentimentos difusos aos que conhecem sua história. Nesta terça-feira, 19, celebra-se 100 anos de sua morte. Você certamente já ouviu alguém contar que Manhuaçu – ou Manhuassu, como era escrito à época – foi um país durante 22 dias, mas quem foi o homem por trás de toda essa história?

“É uma história muito marcante em Manhuaçu. Veio para cá como um forasteiro, conquistou a confiança dos coronéis e foi galgando espaço dentro do espectro político, foi delegado, presidente da Câmara e prefeito, que culminou a história, a República de Manhuassu, quando ele foi eleito, mas não tomou posse. A trajetória dele nesse período foi ganhando confiança e se transformou numa figura empreendedora e um grande político”, conta o estudioso Rogério Bittencourt.

Ao longo de sua vida em Manhuaçu e como toda figura notória dentro do processo político de uma cidade do interior no final do século XIX, coronel Serafim Tibúrcio colecionou admiradores e desafetos. Na República Velha, período histórico brasileiro entre os anos 1889 e 1930, algumas pessoas ascendiam socialmente, determinando novos caminhos para a política coronelista, também outros grupos, de facções políticas locais, procuravam seu espaço no contexto que surgia, diante do crescimento econômico em toda a região.

“Como ele era respeitado pela população, também era rígido porque era cobrador de

 impostos e os coronéis passavam essa ideia de rigidez, na conduta, na fala, e como ele passou por esses cargos importantes na sociedade, ele impunha certas responsabilidades e quando ele foi eleito pelo povo e não conseguiu tomar posse, coronel Tibúrcio foi buscar junto ao governador de Minas respaldo para que validasse aquela eleição. A partir disso, veio a luta armada, o Exército brasileiro veio para Manhuaçu, então muitos começaram a vê-lo como uma pessoa que derramou sangue, sendo responsável por mortes”, explica Rogério, sobre o aspecto negativo do coronel.

Mas também há o lado positivo da história. Serafim Tibúrcio é considerado um dos grandes empreendedores da história de Manhuaçu por ter sido importante na transição do ciclo do ouro e o início da cultura cafeeira na região de Manhuaçu. “Ele era um grande comerciante. Foi o primeiro a comprar uma máquina para beneficiar café aqui na região, ele já tinha essa visão de beneficiar o café em Manhuaçu e levá-lo para exportação no porto de Vitória. Incentivou os coronéis a construir vários casarões para que a sede, antes em São Simão (atualmente Simonésia) fosse trazida para cá. Ele tinha uma visão muito empreendedora para a época”, reitera.

Rogério Bittencourt fala que é importante perceber a figura de Serafim Tibúrcio como um homem que amava Manhuaçu. “Depois que ele foi banido da cidade, indo morar em Afonso Cláudio (ES), ele pediu, antes de falecer em Espera Feliz, para ser enterrado em Manhuaçu. E há relatos de que houve uma comoção muito grande quando seu caixão chegou até a cidade. Ele queria que Manhuaçu prosperasse, crescesse, gerasse trabalho e renda. Além de ser bandido como uns dizem e herói como outros, ele foi além de tudo um grande empreendedor”, reforça.

A história

Nascido em Jequeri (MG), então distrito de Ponte Nova, Serafim Tibúrcio da Costa era tropeiro e vendedor de fumo. Mudou-se para Manhuaçu, por volta de 1880, a convite de João Alves Costa para exercer o cargo de cobrador de impostos. Anos depois foi promovido a delegado de polícia. Considerado culto, possuía um círculo de amizades bem próximo aos grandes nomes das ideologias republicanas como Silva Jardim e Cesário Alvim.

Em 1892, foi eleito prefeito de São Lourenço do Manhuaçu. De acordo com registros da imprensa da época, se notabilizou como um governo progressista, provocando mudanças importantes ao ainda jovem município. Os jornais citavam a criação de centros recreativos, onde se promoviam danças e outras diversões populares.

Entre as melhorias promovidas em seu governo, os impressos relatam também que ele melhorou o abastecimento de água, aprimorou a iluminação pública ao mandar instalar um lampião no Paço Municipal, melhorou estradas e disponibilizou um de seus prédios para abrigar o jornal ‘O Manhuassú’. Administrava a cidade com a reputação de bom comerciante ao passo que também enriquecia comercialmente com a influência do cargo exercido.

Dotado de grande percepção para os negócios, ao notar que a região começava a se destacar na produção cafeeira, o coronel adquiriu e instalou a primeira máquina de pilação de café da região, algo que era totalmente desconhecido por grande parte da população. Este feito lhe promoveu destaque, como o maior comprador de café daquele imenso município, permitindo que somasse uma fortuna considerável, além de grande reputação.

Em 1894, tentou a reeleição e foi derrotado pelo padre Odorico Dolabela, irmão do Coronel Frederico Dolabela, que concorreu de modo fraudulento.
Serafim teria vencido a eleição, mas não fora empossado. ‘Foi eleito pela Ata assinada pelos coronéis da cidade, o vigário Odorico Dolabela’ e ‘eleito pela maioria do eleitorado o coronel Serafim Tibúrcio com 636 votos de diferença’. Era como uma eleição indireta. Na época, entendia-se que ‘de nada adiantava ser eleito pela maioria do eleitorado, sem ser aprovado pela maioria dos coronéis membros do conselho, pois a degola seria inevitável’, sendo considerada então a vitória do Vigário Odorico Dolabela.

O coronel Tibúrcio reuniu documentos e recorreu ao governador Crispim Jaques Bias Fortes, que por sua vez não o apoiou na reivindicação. Apoiado pelo coronel João do Santos Coimbra, o coronel Tibúrcio reuniu um contingente de 800 homens e invadiu Manhuaçu em 1896. Então, tomou o controle da região e proclamou a república independente do Brasil a 15 de maio de 1896.

Através de sua reputação, enquanto ainda prefeito, Serafim Tibúrcio havia criado um título de crédito, o Boró, que circulava paralelamente à moeda nacional – os réis – e poderia suprir a falta de dinheiro no ato de alguma transação. Durante o movimento liderado pelo coronel, como forma de afrontar a república federativa brasileira, o então presidente de Manhuassú declarou a cédula como moeda oficial do país que acabava de ser criado.

Mas a ambição de Serafim era grande e cruzou fronteiras. Com suas tropas, ele comandou invasões em direção ao estado do Espírito Santo, chamando ainda mais a atenção das tropas do governo para a insurgência. Ao ficar sabendo dos acontecimentos, Bias Fortes tentou conter a revolta enviando um contingente de 25 homens, que foram rapidamente abatidos pelo exército de Serafim.

Tropas federais foram enviadas à região depois de 22 dias para reestabelecer a ordem nacional, que vivia dias turbulentos com o fim da monarquia. Serafim Tibúrcio foi deposto pelo Exército e fugiu com aliados para a cidade de Afonso Claúdio, no Espírito Santo, onde tentou fazer revolução semelhante, mas fracassou. Foi lá também que, de acordo com os registros, seus bens cresceram.

Coronel Serafim Tibúrcio da Costa faleceu no dia 19 de novembro de 1919, há exatos cem anos, por morte natural, aos 68 anos de idade, em Espera Feliz. Como a ferrovia já havia sido inaugurada em Manhuaçu, o corpo foi transportado por trem de ferro da cidade vizinha até Manhuaçu, onde foi sepultado. Como legado dessa história, o coronel ganhou uma discreta rua com seu nome, no Bairro Coqueiro, onde pouca gente sabe da sua história.

João Vitor Nunes com informações do Jornal Estado de Minas (2009)

Postado originalmente por: Tribuna do Leste – Manhuaçu

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