Cachaça mineira ganha o mundo

Bebida típica e exclusiva do Brasil, a cachaça tem importante papel na economia de Minas Gerais e do País. O setor, que está cada vez mais organizado, tem investido na capacitação e na melhoria dos processos de produção, qualidade e divulgação da bebida. Bastante consumida no mercado interno, a cachaça vem sendo cada vez mais também exportada, e as expectativas em relação ao mercado internacional são positivas.

De acordo com o Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), com base nos dados do Comex Stat, Minas Gerais exportou, entre janeiro e agosto de 2022, 232,4 mil litros da bebida, volume que supera em 144,8% os 94,9 mil litros embarcados em igual intervalo de 2021. No mesmo período, a movimentação financeira com as exportações chegou a US$ 1,3 milhão, alta de 266%.

No Brasil, em igual intervalo, os embarques da cachaça apresentaram crescimento de 62,49% em valor, atingindo US$ 13,10 milhões. Em volume, os envios aumentaram 26,84%, somando 5,9 milhões de litros.

diretor-executivo do Ibrac, Carlos Lima, explica que o aumento das exportações de cachaça é importante e demonstra a capacidade do setor em buscar meios de eliminar as perdas registradas no período de pandemia.

“O trabalho forte que vem sendo feito pelo Ibrac e parceiros contribuiu para a alta nos embarques. A tendência é crescer ainda mais com as ações que vêm sendo desenvolvidas, assim como a qualificação que vem sendo promovida pela criação de polos regionais, que possibilitam a inserção de novas empresas no mercado externo”.

Dentre os trabalhos desenvolvidos pelo Ibrac e parceiros estão o projeto setorial de Promoção às Exportações de Cachaça “Cachaça: Taste The New, Taste Brasil”, desenvolvido pelo instituto em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), e o Programa de Qualificação para Exportação (Peiex) Agro Cachaça, desenvolvido pela agência com o apoio do Ibrac, que fazem parte da estratégia para impulsionar a cachaça no mercado externo.

Consumo interno em alta

consumo da cachaça no mercado interno também está avançando. De acordo com relatório anual de bebidas alcoólicas da Euromonitor International, no comparativo entre 2021 e 2020, o crescimento foi de 30% em valor, atualmente, um mercado de R$ 15,55 bilhões, e 18% em volume, totalizando 469,7 milhões de litros.

“Esta alta no consumo interno é muito importante pela queda que tivemos durante a pandemia. O mercado interno ainda inspira cautela, apesar de seguirmos otimistas, mas há outros fatores que podem interferir no consumo da cachaça, como a inflação e a queda da renda do consumidor, que pode ainda trazer impactos negativos”, diz.

Em relação aos desafios, Lima ressalta que um dos maiores se refere à questão tributária. “Do ponto de vista político, um desafio importante e que esperamos trabalhar nos próximos governos, principalmente, nos  estaduais é o fim da substituição tributária relacionada ao ICMS. O recolhimento antecipado do imposto impacta o fluxo de caixa das empresas, principalmente, das pequenas e médias. Se isso acabar, será muito positivo para o setor”, afirma.

Cachaça de Alambique

No Estado, de acordo com o presidente da Comissão Técnica de Cachaça de Alambique do Sistema Faemg e da Associação Nacional dos Produtores e Integrantes da Cadeia Produtiva e de Valor da Cachaça de Alambique (Anpaq), Roger Sejas Guzman Júnior, a cachaça tem papel muito relevante na economia. Várias ações têm sido desenvolvidas para beneficiar os cerca de 400 produtores mineiros registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e também os que ainda estão irregulares, estimados em mais de 7 mil alambiques sem registro.

“Minas Gerais tem, hoje, quase 40% de todos os produtores registrados no Mapa, e isso tem um significado histórico atrelado ao engenho, à exploração do minério, das minas, do ouro, e a cachaça estava lá. Se tratando de Minas Gerais, a maioria dos 40%, ou 397 registrados, são produtores de cachaça de alambique. Minas tem cachaça de qualidade e a comissão técnica da Faemg foi criada para discutir e debater os problemas enfrentados. Queremos também promover a capacitação e a qualidade da bebida para desbravar o mundo e tornar a cachaça um produto de exportação e referência, como é o nosso café e o queijo”, destaca.

Em relação aos desafios, além da necessidade de acabar com  a substituição tributária referente ao ICMS, o setor enfrenta ainda um alto índice de unidades produtivas sem registro.

“A tributação, realmente, é um desafio. Hoje temos trabalhado para tentar resolver a substituição tributária do ICMS, o que seria um grande alívio. A cachaça de alambique  tem que ter um tratamento diferenciado, é preciso olhar a importância da produção para a agricultura familiar. O tributo elevado impacta na regularização, muitos querem se capacitar e regularizar, mas enfrentam dificuldades”, explica.

Outro desafio é romper o preconceito contra a bebida. “É preciso buscar a valorização da bebida tanto no mercado interno como no externo para vencer a barreira do preconceito e firmar a cachaça como um produto de valor agregado e o ato de beber como uma experiência. Este também é um desafio que estamos trabalhando”, completa.

As informações são do Diário do Comércio

Foto: Carlos Alberto/Imprensa-MG

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