A Ouvidoria Geral da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) recebeu cerca de 16 denúncias de fraude nas políticas de cotas da instituição relacionada ao ingresso dos candidatos através do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e do Programa de Ingresso Seletivo Misto (Pism) deste ano.
A equipe do Diário Regional conversou com um dos estudantes, que junto com amigos iniciou a mobilização na cidade. Ele alega ter sido lesionado devido à fraude. O jovem tentou o ingresso através do Pism e pretende cursar Medicina. “Meus amigos e eu começamos a reivindicação após o resultado do Pism e do Sisu depois de perceber as fraudes que resultaram que alguns participantes, inclusive a gente, não fossem selecionados. Nossa objeção se une a movimentos contra as fraudes nas cotas de outras universidades públicas, como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Federal de Viçosa (UFV)”, afirmou o estudante.
O grupo protocolou uma denúncia na instituição e tem promovido um abaixo-assinado nas redes sociais. “Nós o lançamos na sexta-feira e ainda estamos colhendo assinaturas. Nosso objetivo é que esses casos sejam avaliados e, se for comprovada a fraude, que o candidato perca a vaga como tem sido de praxe em outras universidades”, ponderou. Até o fechamento desta edição, 2.265 pessoas já tinham assassinado o documento virtual.
A iniciativa dos estudantes tem recebido apoio de diversos movimentos sociais e estudantis da cidade, dentre eles, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFJF.
As denúncias são de candidatos que teriam fraudado as cotas raciais, que são destinadas aos candidatos negros, pardos e indígenas. “Todas as acusações são em relação a candidatos que se autodeclararam pardos e quem está denunciando afirma que eles são brancos”, disse o diretor de Ações Afirmativas da UFJF, Julvan Moreira de Oliveira. Vale lembrar que o Brasil adota a autodeclaração racial, posição tomada no documento da III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2001.
“A partir do momento que eles fizerem a matrícula, a pró-reitoria de Graduação instalará o processo de investigação”, ressaltou Oliveira. As matrículas presenciais dos aprovados pelo Sisu serão realizadas nesta quarta e quinta-feira, 21 e 22. Já as do Pism, serão entre os dias 1º e 2 de março.
A comissão de investigação tem no máximo 30 dias para concluir os trabalhos. “Temos que respeitar os seguintes trâmites: notificar o acusado e ele tem um período de cinco dias para apresentar a sua defesa por escrito e documentos que a comprovem. Depois, a comissão analisa e, dependendo dos documentos, o estudante pode ser chamado para um conversa e em seguida o resultado é dado”, esclareceu o diretor de Ações Afirmativas da UFJF. Se a comissão reconhecer que houve uma falsificação na autodeclaração, o candidato é desligado. A vaga será destinada ao candidato seguinte da mesma lista do estudante desligado.
Oliveira informou que está sendo constituída a Comissão de Verificação de Autodeclaração Racial que atuará nos próximos processos seletivos. “A questão é que as cotas vieram para favorecer um público que antigamente estava excluído da universidade e infelizmente há alguns responsáveis que colaboram com os filhos falsificando documentos. Fico pensando que tipo de pai ou mãe é esse que facilita para o filho a falsificação de documento para entrar na universidade e também me pergunto que tipo de profissional será esse que já está entrando falsificando documento. Esse é um problema que necessário ser conscientizado”, ponderou.
APOIO DO DCE
O DCE realizou na tarde dessa terça-feira, 20, uma reunião para debater o assunto. “Além do debate sobre os casos, nós também pontuamos quais são as iniciativas que podemos propor para que isso não ocorra futuramente na UFJF”, disse a integrante das coordenações executivas e de combate a opressões, Ana Emília Carvalho.
Este foi o primeiro encontro e o Diretório deve ser reunir mais uma vez na próxima semana após reunião com a Diretoria de Ações Afirmativas (Diaf) nesta quarta-feira, 21. “Vamos apresentar algumas propostas já discutidas, pedir para ter acesso melhor a essas denúncias para acompanhar esses casos e questionar como a Diaf trata essas acusações para assim podermos abrir uma canal de diálogo com a Diretoria e pressionar a reitoria por uma postura mais rígida, aprofundando a discussão sobre a verificação de ingresso por cota. Esse assunto deve ser discutido com o movimento estudantil e negro da universidade”, finalizou.
Postado originalmente por: Diario Regional – Juiz de Fora