Previsão na moda: 2023 promete levar novo público para brechós

Inflação na moda e tendências de consumo consciente são aliadas

A combinação entre o medo de uma recessão econômica global e o desejo de colocar em prática padrões de consumo mais conscientes promete alavancar empreendimentos com a proposta de reutilização de artigos de moda este ano.

É o que aponta o relatório “O Estado da Moda em 2023″, divulgado pela Agência The Business of Fashion e pela consultora estratégica McKinsey & Company. A pesquisa mostra que por causa do cenário, a tendência é que marcas com propostas sustentáveis conquistem lugar de prestígio entre os consumidores e motivem as que ainda não reformularam suas formas de produção, a tomarem o mesmo rumo. Artigos com baixo custo também estarão na mira dos consumidores.

Apesar da previsão apontando o problema e a solução, integrar produção, sustentabilidade e baixo custo não é uma tarefa fácil para as gigantes da moda. Além do mais, nos últimos anos o consumidor adquiriu a capacidade crítica de diferenciar marcas realmente sustentáveis, daquelas que se apropriam do discurso sem de fato terem compromisso com a causa e criaram até um termo para tal: greenwashing. Greenwashing ou “lavagem verde” caracteriza a estratégia de marketing de promover discursos, ações e propagandas sustentáveis que não se sustentam na prática.

No mesmo estudo, executivos da moda falam sobre a problemática do greenwashing e 79% deles apontam a falta de normas industriais que os auxiliem nesse processo. Eles usam como referência, a nova legislação francesa que irá exigir especificações sobre sustentabilidade na etiqueta das peças. A norma promete ligar consumidores que buscam mudar seus padrões de consumo às marcas que buscam facilitar essa mudança

No ano passado esse desejo apareceu entre 84% dos entrevistados pelo Instituto Akatu em parceria com a empresa de consultoria global de insights, GlobeScan. O número demonstra estabilidade, já que em 2021, 86% dos entrevistados também declararam o desejo de reduzir o impacto individual sobre o meio ambiente e a natureza.

Mais do que nunca, brechós estão na mira dos consumidores

Enquanto as gigantes pensam estratégias e cobram normas governamentais para conseguirem destaque em meio ao cenário, empreendimentos com propostas simples e objetivas podem ampliar a rede de clientes sem muitos esforços. É o caso dos bazares ou brechós.

Focados no slow fashion e reaproveitamento, os maiores brechós geralmente estão dentro de bairros e, de forma quase ritualística, contam com a figura de uma senhora pacientemente sentada a espera dos clientes. As pilhas de roupas sem classificação aparente encantam aqueles que estão dispostos a garimpar para conseguir o estilo desejado ao invés de escolher apenas o tamanho em um arara cheia de peças iguais. Para quem não se sente atraído pela ideia de garimpar, as opções online são a solução.

Moradora de Belo Horizonte, Mel Martins, de 22 anos,  conta que o amor pelos brechós começou em 2013, quando adquiriu um olhar mais sensível sobre a moda. Não demorou muito para que ela se destacasse entre os amigos.

“Muita gente curtia as roupas que eu usava e eu não costumava pagar caro e sempre falei que consumia muito de bazar, mas ninguém curtia muito garimpar, o que para mim é algo quase terapêutico”, conta.

Os anos passaram e ela percebeu que tinha um potencial ali: já que muitos amigos queriam encontrar aquelas peças, mas não estavam dispostos a garimpar, ela poderia ser essa ponte. A ideia saiu do papel em dezembro do ano passado, com a loja online Goma Brechó. Agora, o desafio é conseguir destaque nas plataformas.

Sobre as projeções para esse mercado, Mel destaca que percebe a fidelidade dos clientes, mas que não acompanha se há possibilidade de ampliação do público. “Vejo que as mesmas pessoas que começaram a consumir de brechós há anos, ainda consomem bastante, mas não sei se enxergo pessoas que consomem fast fashion migrando para brechós”, confessa.

Foto: Pexels.

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