Verão em 2021 teve metade do volume de chuva do ano passado em Uberaba

Foto/Arquivo


Padrão de chuva em Uberaba tem mudado bastante nos últimos dez anos, segundo a meteorologista Wanda Prata

As poucas chuvas de verão em 2021 acendem o sinal de alerta para possível seca nos períodos de outono e inverno. Dados do Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM) apontam que nos quatro primeiros meses do ano choveu apenas 562,4 milímetros, 46% a menos em relação ao mesmo período de 2020, que apresentou 1.263,4mm. Para se ter uma ideia, produtora rural revelou à reportagem do Jornal da Manhã que nascentes do rio Tijuco, que minavam água normalmente até junho em sua propriedade, estão secas desde março.
A meteorologista Wanda Prata explicou que o padrão das chuvas tem mudado na região de Uberaba nos últimos 10 anos. Se antes elas caíam sobre todo o município, hoje têm se concentrado em determinados pontos da cidade. O rio Uberaba, principal responsável pelo abastecimento da cidade, circunda o município pela região norte, que, segundo Wanda Prata, não está entre os principais pontos de concentração de chuvas na macrorregião do município.

“As chuvas vêm sendo localizadas. O lugar que mais chove (em Uberaba) é na região sudoeste, ali atrás do aeroporto. Falou que é chuva isolada, cai lá”, afirma a meteorologista. O segundo ponto onde as chuvas têm se concentrado é na região sul da macrorregião de Uberaba, que abrange os municípios de Delta e Água Comprida, às margens do rio Grande. E o terceiro lugar onde chove muito é na região sudeste, na divisa com Conquista.

A previsão para os próximos meses também não é muito animadora, conforme o 5º Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) em Belo Horizonte. Até setembro a média climatológica para Uberaba é de poucas precipitações, sendo que julho se apresenta como o provável mês mais crítico. “Até setembro vamos ter condições para pouca chuva na região”, disse Claudemir Azevedo, meteorologista do Inmet.

Ele lembra que é preciso consciência no consumo de água nesse período, “até chegar novamente o período de chuva, em outubro. Agora a gente retira das reservas, com o consumo, e não espera um volume de chuva significativo que venha proporcionar aumento no nível dos reservatórios até outubro pelo menos”, completou Claudemir.

Em recente entrevista ao Pingo do J, da Rádio JM, o presidente da Codau, José Waldir de Sousa Filho, alertou sobre a queda acentuada na vazão do Rio Uberaba. Segundo ele, este ano a vazão está um terço da registrada no mesmo período de 2020. Técnicos da Codau estudam a antecipação da transposição do rio Claro já para maio. Nos anos anteriores, o recurso complementar do rio Claro costumava ser utilizado no final de julho e início de agosto. E, caso as previsões se confirmem, Uberaba poderá ter rodízio de água nos próximos meses.

E por que não chove?. A meteorologista Wanda Prata explicou que a falta de chuva aqui no Sudeste pode ter ligação com o desmatamento na floresta amazônica, lá na região Norte do país, por conta de um fenômeno conhecido como “rios flutuantes”. O fenômeno funciona assim: a floresta tropical, em seu grande volume “puxa” a umidade do oceano, forma grandes nuvens de chuvas, que caem na floresta. Essas chuvas evaporam e formam novas nuvens, que são os chamados “rios flutuantes”, pelo seu grande volume de água. Para termos uma ideia, uma única árvore com uma copa de 20 metros de diâmetro transpira mais de 1.000 litros em um único dia. Os “rios flutuantes” se movimentam pelo continente até chegarem à cordilheira dos Andes. A barreira natural da cordilheira dissipa a nuvem gigante, formando outras nuvens, que se direcionam para as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 2020 foram desmatados 11.088 quilômetros quadrados, o equivalente a sete vezes a área do município de São Paulo. “Agora, você imagina o que essas clareiras que ficam na floresta deixam de gerar de umidade”, frisou a meteorologista.
 

Postado originalmente por: JM Online – Uberaba

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