Professor de JF fará estudos no maior centro de pesquisa de física do mundo

Foi por influência direta dos seus professores, tanto do ensino médio, quanto da graduação, que o docente de física Diego Moreira decidiu seguir essa carreira, aproveitando a aptidão que tinha para as Ciências Exatas. A dedicação à ciência natural, que se debruça sobre as propriedades da matéria e da energia, vai levá-lo ao maior laboratório de física do mundo, o da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN, na sigla em francês), em Genebra, na Suiça, para uma capacitação entre os dias 29 de agosto e 8 de setembro com outros 19 professores brasileiros.

Nascido em Caxambu, Diego se mudou para Juiz de Fora aos 17 anos, para estudar. Graduou-se em física pela UFJF, onde também fez o seu mestrado na mesma área. “Tive a sorte de encontrar professores e orientadores incríveis, que me incentivaram a fazer a licenciatura, como eu queria, e trabalhar, desde o início da minha graduação, em laboratórios, como o Centro de Ciências e com o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), que incentiva o contato com a educação básica pública. Todo esse contato marcou muito a minha formação”, relembra.

Embora nutrisse o sonho de conhecer o CERN, que sempre foi uma referência para ele, quando o edital para a capacitação da instituição saiu, ele já pensava que seria muito difícil alcançar uma das vagas, porque trabalha atualmente apenas com instituições da iniciativa privada (Apogeu e Pitágoras), e o foco do programa são as instituições públicas. “Mas eu pensei que, talvez, o meu currículo fosse compatível para estar junto nessa seleção e eu tentei.”

Quando passou, a ficha demorou a cair. “Como professor, sempre falei do CERN, quando falo de física moderna e contemporânea. Nunca me vi lá, nem como visitante externo, muito menos estudando. Quando passei, foi um susto imenso. Daquele momento em diante, pensei em como essa oportunidade vai impactar na minha vida. Primeiro, porque é a realização de um sonho, depois, porque quero muito entender melhor essa dinâmica laboratorial do estudo de partículas, que é super importante para nós.”

Professor Diego Moreira será um dos 20 brasileiros a participar de programa de capacitação no laboratório de física da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (Foto: Fernando Priamo)

Estudo das partículas

O docente explica que o foco da física contemporânea é o estudo das partículas, sobre como elas foram criadas, do que são feitas e o que aparece a partir delas. O que o encanta, nesse estudo, é a possibilidade de entender o início de tudo, podendo, inclusive, sanar dúvidas existenciais. “Ou não”, brinca. “Estou muito feliz por poder participar. A bagagem que vou adquirir vai ser muito importante para minha carreira, porque já imagino coisas que quero fazer e sobre as quais quero escrever. Já temos um grupo de pesquisa que vamos fazer depois do CERN. Artigos e capacitações que podemos fazer em diversos níveis, no fundamental, médio e no superior, para mostrar essa que é de ponta. Temos esse lugar no mundo em que ela é valorizada de uma forma tão incrível e no dia a dia, das conversas, vemos que as pessoas nem sabem que existe o CERN”.

Para o professor é necessário combater os preconceitos que as pessoas ainda têm com a Física (Foto: Fernando Priamo)

Diego embarca junto com um dos responsáveis pela sua escolha pela física, o professor Jean Louis Landim Vilela. Eles retomaram contato e trocam informações sobre os deslocamentos que terão que fazer pela Europa. Além de Jean e de Diego, outra docente mineira, Kátia Solange Fonseca do Rosário Vilela, também integram o grupo de 20 participantes do projeto.

Um olhar crítico sobre a natureza

Desde que começou a lecionar, Diego Moreira enfrenta muitos desafios em relação ao ensino de física. Para ele, há uma soma de fatores. “Começamos com uma base educacional muito deficitária. Isso deixa lacunas grandes no ensino. Trabalho com engenharia no ensino superior e vejo isso de maneira muito intensa. É importante uma formação polivalente do professor, para sanar vários campos da educação. Não adianta saber só um conteúdo, como o de mecânica. O professor precisa saber que vai ter que abordar uma gama, um leque grande de informações, para que os alunos entrem naquele contexto e entendam a mecânica junto com ele.”

Na visão do professor, a falta de investimento público provoca isso. “É um dado relevante, não tiramos de trás das orelhas. Há indicadores que mostram isso. O próprio Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) revela que estamos ganhando apenas de dois países (em desempenho), num total de 40. Tanto na matemática, quanto em ciências e linguagens, e isso é um desafio para a física. Quando você tem uma formação deficitária na Física, não forma docentes que mostrem encantamento para seus alunos, então, vai ter gerações que não vão mesmo querer estudar esta área de conhecimento.” Segundo ele, uma possibilidade de caminho, mostrada por sua pesquisa de mestrado, relaciona o ensino de ciências para crianças com a criação de uma identificação com o tema.

“Temos que mostrar que a física não é um bicho de sete cabeças, e a gente tem meios de ensinar com formas bem interessantes.” Segundo o professor, o ensino de física não deve estar restrito ao laboratório, mas pode ser feito em casa ou em qualquer lugar. “Há fenômenos que não percebemos. Temos que ter um olhar crítico e sedutor para a natureza.”

Uma chance para a física

A física ainda é uma disciplina que desperta um distanciamento, o que segundo Diego Moreira, precisa ser quebrado. “Dê uma oportunidade, porque é muito linda. As pessoas que têm muito medo de física e não gostam, não a conheceram como ela realmente é. Elas conheceram o preconceito que se tem com o tema. Ela não é um monte de números e fórmulas para decorar, encaixar e dar errado. É uma filosofia e uma forma de olhar para a natureza com outros olhos, de uma forma bacana, e entender que tem uma sequência lógica que pode prever e dizer tanto sobre o passado, quanto sobre o futuro.”

Entre os projetos que serão conhecidos no CERN está o que confirmou a existência de Bóson Higgs, ou a partícula número um, teoricamente surgida logo após ao Big Bang e que formaria todo o universo. Também há o maior acelerador de partículas do mundo, o colisor de prótons LHC. “Eles também estudam outros tipos de partículas. Elétron, nêutron e próton, por exemplo, mas existem subpartículas e outras menores ainda. A cada nova descoberta, elas vão dando informações sobre a formação do nosso universo. Esse é o principal.”

Ele explica que, quando se fala em física nuclear, a associação é feita a bombas atômicas ou a usinas nucleares, mas esse campo é muito maior e abrangente. “Nosso estudo será sobre a física contemporânea. Os livros didáticos param na moderna, que tem mais de cem anos. A de hoje trata de coisas que não vemos, que não conseguimos visualizar, mas que percebemos, como energias, nos espectros que elas podem mostrar para a gente.”

Além da experiência na área, há um ganho cultural grande, já que durante a visita a Genebra, além dos professores portugueses, pesquisadores e alunos de todo mundo poderão ser encontrados no local. O cronograma, que parece curto para as inúmeras informações a explorar, inclui também espaços culturais, como o museu e a casa de Albert Eistein, experiências que Diego também pretende dividir pelas salas de aula e projetos pelos quais transita.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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