O que era apenas a laje do Presídio de Bocaiuva, no Norte de Minas, se transformou na escola da unidade prisional. O espaço de 500 metros quadrados, com duas salas de aula, uma sala multiuso e, também, duas estantes de livros. A escola funciona em dois turnos – manhã e tarde e tem 120 alunos matriculados: todos presos que cumprem suas penas na unidade prisional.
Para a realização da obra, a unidade contou com investimentos de R$ 218 mil reais de recursos provenientes de verba pecuniária da 1ª Vara Criminal e de Execuções Criminais da Comarca de Bocaiuva. O Conselho da Comunidade local teve a responsabilidade de administrar os valores e realizar a compra do material.
Todas as etapas da construção foram executadas, exclusivamente, por cerca de 30 detentos, que atuaram nas funções de pedreiro, servente, bombeiro, eletricista, serralheiro e pintor.
Hoje, alguns deles são alunos. Eles tiveram o benefício da remição da pena, ou seja, a cada três dias trabalhados, menos um na sentença. “Agora, começa efetivamente o processo de ressocialização na nossa unidade prisional. A escolarização e o conhecimento são fundamentais neste caminho”, conta entusiasmado o diretor-geral do presídio, Doglas Araújo Melo, que é formado em Serviço Social.
As aulas atendem os detentos na modalidade “Educação de Jovens e Adultos (EJA)”, destinada aos que não deram continuidade em seus estudos ou não tiveram acesso ao ensino na idade apropriada. A escola recebeu 14 professores, por meio de uma parceria entre a Administração Prisional e a Secretaria de Estado de Educação. O estabelecimento de ensino funciona como um segundo endereço da Escola Estadual Gilberto Caldeira Brant, no bairro Nossa Senhora de Fátima, na cidade de Bocaiuva.
Primeiras letras
A professora Maria Margareth Bispo tem mais de 20 anos de experiência em classes de alfabetização e integra a equipe de professores que inauguraram a escola do Presídio de Bocaiuva. Esta é a primeira vez que ela leciona em uma unidade prisional. Ela tem 15 alunos, o que permite dar um atendimento quase individualizado, pois alguns nunca frequentaram os bancos escolares e não conhecem o alfabeto.
“Quando entrei na sala, me senti como em qualquer outra escola, além do mais está tudo novinho e os alunos são receptivos, conscientes e interessados”, relata.
O curto espaço de tempo, desde o início das aulas, já coleciona boas histórias vividas pela professora, capazes de emocionar. “Esta semana, um aluno me falou que quando terminar de cumprir sua condenação vai frequentar pelo resto de sua vida dois lugares: escola e igreja. Um outro, me disse do medo de não conseguir aprender, mas agora está confiante”, conta a professora.
Postado originalmente por: VinTV