O inconsciente na interpretação do som: pesquisa para os radiodifusores.

João Pedro Corrêa Cardoso, auxiliar de comunicação do Complexo de Saúde São João de Deus em Divinópolis e Jornalista graduado pela UEMG, realizou uma pesquisa sobre o inconsciente na interpretação do som e a famosa magia do rádio voltado para os radiodifusores.

O rádio chegou ao Brasil em setembro de 1922, com Roquette Pinto liderando a criação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Apesar disso, em 1893, o padre gaúcho Landell de Moura conduziu experimentos, não patentados, sobre a propagação do som. Em 1923, a rádio começou a operar, espalhando-se por várias regiões do país. O auge ocorreu com as radionovelas, iniciando em 1941. Na década de 1940, as radionovelas, com efeitos sonoros, capturaram a imaginação dos ouvintes, sendo um marco importante. Com a chegada da televisão na segunda metade do século XX, os atores do rádio foram pioneiros na transição. O rádio, até a ascensão da televisão, foi o principal meio de entretenimento, levando música e informação às casas. O poder do imaginário atingiu seu ápice nas radionovelas, explorando a imaginação dos ouvintes de maneiras únicas. Mesmo no século XXI, o áudio continua sendo a base de produções como podcasts, videoteipes e streamings, sendo uma parte essencial da experiência humana desde o nascimento até a morte. O áudio desempenha um papel importante na contação de histórias, podendo melhorar ou tirar o foco do que está sendo narrado. Além disso, o som tem a capacidade de denotar e sistematizar sentidos em padrões de comportamento e convivência.

Sons e memória

Os sons têm um significado importante na vida das pessoas. Músicas aprendidas na escola ou que se tornaram trilha sonora de relacionamentos são lembradas por toda a vida. O rádio também desempenhou um papel fundamental na vida das pessoas, especialmente em áreas rurais, onde todos se reuniam para ouvir notícias e músicas. A música conta histórias do passado e do presente, como a resistência durante a ditadura no Brasil. O rádio ainda tem um papel afetivo na vida das pessoas, mesmo com o avanço da tecnologia. Na área do jornalismo, programas como a “Voz do Brasil” também são lembrados e associados a momentos específicos. A memória e a cultura são construídas pelo contexto sociocultural, e certos sons ou ritmos são característicos de regiões específicas. O blues, por exemplo, carrega a história e a cultura dos negros nas Américas.

Sons como narrativa e experimentação

Resumidamente, a narrativa existe no tempo e é transmitida por diversos meios, como a escrita e a música. A interpretação desses meios depende da perspectiva de quem os recebe, o que pode levar a diferentes significados e reações. Além disso, a memória e o contexto cultural influenciam na interpretação das histórias e símbolos. Um exemplo disso é o incêndio da estátua de Borba Gato em São Paulo, que gerou opiniões divergentes sobre o seu significado. A interpretação das narrativas também é afetada pela memória e pelos arquétipos, que evocam imagens mentais relacionadas a experiências passadas.

No final da pesquisa, João Pedro realiza uma análise traçada por uma estratégia de uso de trilhas e áudios. Confira abaixo a análise final:

As músicas, ao serem reproduzidas, despertaram diferentes conexões, que se alteram conforme o contexto de vida de cada pessoa. As duas primeiras, as relacionaram a sentimentos, memórias e situações do dia a dia. O terceiro entrevistado, associou as músicas com situações cotidianas, projetando diferentes cenas para cada estilo e uma percepção mais imagética dos sons. Com o quarto participante, o que se destaca é a conexão de cada áudio com outros sons, junto a contextos do dia a dia. Nos vídeos com trilhas diferentes, foi comum a observação de que as trilhas editadas causavam estranhamento e mudavam o foco da atenção, ou seja, apresentava divergência, enquanto a trilha original permitia a percepção da informação de forma mais destacada, ou seja, exercia a função de convergência.
Diante disso, foi verificado que a interpretação é perpassada por muitos fatores, tais como nível formal de educação, consumo midiático, consumo de produção jornalística e papéis sociais desempenhados, como produtores de mídia e receptores de mídia. É interessante perceber ainda que, em comum, as músicas remetem a sentimentos, memórias e ao cotidiano, mas a maneira como essas conexões foram elaboradas se alteram conforme a realidade de cada entrevistado: aqueles que trabalham com comunicação, tiveram uma tendência maior a associar as trilhas ou com outras cenas, de forma mais imagética, ou com outros sons, de forma mais sonora, e, em ambos os casos, com a presença de descrições sinestésicas, ou seja, que reúnem vários sentidos.
Por fim, a trilha não é apenas um elemento complementar à imagem audiovisual, mas sim estrutural, que exerce funções de convergência ou divergência, sendo, pois, narrativa também, na medida em que gera progressão espaço-temporal; argumentativas, quando ressalta informações e significados tanto do que é falado quanto do que é mostrado; descritiva, em se tratando das pontuações e mudanças de percepção que é capaz de promover junto às imagens; além de exercer funções contextuais e sinestésicas, sendo importante para gerar sensações, percepções, destaques e interpretações sobre aquilo que a imagem traz.

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