Marcelo Juliani: ‘Tive a sorte de ter feito os exames quando o câncer estava no começo’

Usar a voz como instrumento a fim de alertar outros homens para a prevenção do câncer de próstata. Essa é uma das metas de vida do radialista Marcelo Juliani, âncora da Rádio CBN Juiz de Fora. À frente dos microfones, atividade que exerce com paixão há 23 anos, Juliani, a cada oportunidade que surge, coloca em pauta a importância de medidas de precaução contra a enfermidade.

A doença ele descobriu quando procurou o médico para fazer um check up de rotina, porque queria jogar futebol e precisava saber se o coração estava bem, aos 55 anos. Marcelo Juliani diz que foi traumático receber a confirmação do diagnóstico, mas não se deixou abater. Determinado, marcou a cirurgia para retirada da glândula o mais rápido que pôde. Depois de se recuperar, voltou o trabalho que, a propósito, só trouxe benefícios para o seu restabelecimento.

Neste último domingo de novembro, para encerrar a série “Existe Esperança!’, a história de superação do câncer de próstata vivida pelo comunicador Marcelo Juliani, atualmente com 61 anos, se soma a dos outros homens ouvidos pela Tribuna e que abriram sua intimidade e coração, derrubando o silêncio, para que outros homens se livrem dos tabus e comecem a se cuidar e se prevenir contra uma doença que mata e possuiu uma elevada estimativa de surgimento de novos casos. Em 2018, dados Instituto Nacional do Câncer (Inca) mostravam que 68.220 homens seriam acometidos pela patologia.

Desde a descoberta da doença, Marcelo Juliani fez questão de tornar a caso público para alertar os homens sobre a importância da prevenção (Foto: Fernando Priamo)

“Tornei meu caso público e fiz questão de falar no ar, no sentido de alertar os homens sobre esse problema. Fiz o exame de toque e estava normal. Só o PSA (antígeno prostático específico) estava alterado. Quando fui fazer os exames complementares se descobriu o câncer. Isso é muito traumático para nós, homens, pois há o risco de ficar impotente, de ter incontinência urinária, como há muitos casos de pessoas que tiveram essas sequelas. Eu, felizmente, não tive nada disso. Foi uma cirurgia muito bem sucedida. Tive a sorte de ter feito os exames quando o câncer estava no começo e, por esta razão, não tive sequela e quis tornar público”, afirma Juliani, como forma de alertar para o diagnóstico precoce.

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No dia 16 de dezembro, o radialista completa cinco anos da cirurgia realizada para a retirada da próstata. Ele se sente totalmente livre da doença, mas não deixa de fazer os exames de controle do PSA, que eram semestrais e irão se tornar anuais. “Levo uma vida normal e, por isso, é importante o alerta. Falo muito aos meus amigos: vocês já fizeram exame? Vocês têm acompanhado? Porque se eu não tivesse feito, hoje, provavelmente, sem descobrir no início, eu poderia estar morto ou estar morrendo por causa da evolução do câncer. Como radialista, fiz muitas matérias sobre esse assunto, e os médicos falam que devido ao aumento da expectativa de vida, todo homem vai ter câncer de próstata, pois é uma glândula que cedo ou tarde irá apresentar problema”.

‘Pensei que iria morrer!’

A confirmação do diagnóstico fez Marcelo Juliani ter vontade de se enfiar em um buraco para nunca mais sair. “Ouvir que estamos com câncer é uma sentença de morte, embora já não seja assim, mas é dessa forma que a gente se sente. Pensei que iria morrer! O médico explica o que é, ressalta que o risco da cirurgia é o mesmo de outras intervenções. Aí a gente pensa que não vai morrer, mas vai ficar impotente, com incontinência urinária. Tudo isso vem à cabeça e é muito difícil processar. Mas, por outro lado, tinha uma vontade muito grande de resolver a situação. E quase que imediatamente marquei a cirurgia”. Segundo o radialista, o procedimento aconteceu cerca de dois meses depois da confirmação.

“Ouvir que estamos com câncer é uma sentença de morte”, acreditava Marcelo (Foto: Fernando Priamo)

Para o âncora, a família foi seu porto seguro para encarar a enfermidade de frente. “Sou católico, devoto de São Francisco de Assis. Sou músico, e a música é fundamental, mas confesso que naquela situação, não queria pegar o violão, não estava querendo música, só que aquele momento passasse. E confesso que não me apeguei a nada, a não ser à minha família que estava junto comigo. Minhas filhas, minha esposa, a família unida. O ambiente familiar e a força que recebia delas foram determinantes no processo de segurar essa barra”, ressalta Juliani, que tem duas filhas de 33 e 28 anos, em 36 anos de casamento.

Além da família, ele coloca o seu trabalho no rádio como fator preponderante para o seu momento de recuperação. “Voltei a trabalhar assim que tive a permissão do médico, porque trabalhar no rádio é muito prazeroso e isso foi muito importante. Fui aos poucos retomando a minha vida e percebendo que estava vivo e bem. Que aquilo foi um processo na minha vivência. Foi uma fase que acabou”, lembra, acrescentando que o pós-cirúrgico é difícil.

“É preciso aprender a conviver com uma sonda, durante um período, e lidar com a expectativa de que sua vida será ou não normal.”

O câncer, de modo geral, é uma patologia multifatorial. O estilo de vida, o sedentarismo, o tabagismo, o consumo frequente de bebida alcoólica e uma dieta com abuso de carne estão os entre os hábitos de risco. Porém, o câncer de próstata tem como causa principal o histórico familiar. Para os urologistas, a melhor maneira de preveni-lo é mantê-lo rastreado com visitas ao médico e a realização de exames de forma rotineira.

Os homens precisam ter a dignidade da mulher

O toque retal é um exame fundamental, apesar de não ser o único capaz de confirmar o câncer, sendo necessários procedimentos complementares. Mas, quando o assunto é próstata, o toque tem sua importância elevada à enésima potência, já que sua realização está envolta a mitos e receios quanto à masculinidade.

Marcelo Juliani afirma que esse tipo de visão a respeito do toque é arcaica e precisa ser mudada. “Com toda a sinceridade, nunca tive problema com isso e encarava como se fosse um exame de garganta. Para quem tem essa preocupação de levar uma “dedada”, como se fala no popular, é um trabalho profissional e previne uma doença que pode matar. Acho muito mais humilhante a mulher fazer o papanicolau (raspagem do colo do útero para prevenção ao câncer de colo do útero). Elas não têm problema algum em fazer. Os homens precisam ter essa dignidade e essa postura da mulher, encarando a situação de forma normal. É uma tremenda babaquice pensar de outra forma”.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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