“Infelizmente o cidadão não se conscientiza”: só 2% do lixo recolhido em Uberaba é reciclado

Se tem um tema que se arrasta há anos em Uberaba é a discussão sobre a coleta seletiva. Mas afinal o que significa este termo? A coleta seletiva é o meio utilizado para facilitar os processos de destinação do lixo. Quando separamos o nosso lixo, facilitamos o tratamento dele e diminuímos as chances de impacto para o meio ambiente. 

No entanto, de acordo com o promotor Carlos Alberto Valera, que é Coordenador Regional das Promotorias Ambientais, a quantidade que é recolhida do lixo reciclável por meio da coleta é muito baixa. “Estamos muito atrasados, os dados que eu tenho são dados oficiais e trazem que nós só reciclamos 2% do lixo que é gerado em Uberaba, que é em torno de 300 toneladas/dia”, conta. 

Para o promotor, para mudar esta realidade é preciso criar regras que façam o cidadão separar o lixo. “Isto não deve ser feito só voluntariamente. Hoje a gente fica insistindo em educação ambiental, em projetos e programas, mas infelizmente o cidadão não se conscientiza”, diz. 

Valera explica ainda que hoje a cidade tem 120 mil domicílios e uma cooperativa que recebe o lixo reciclável, separa e destina de forma correta. Porém, para o promotor falta estrutura. “O que nós temos que fazer é mudar o modelo, então primeiro obriga o cidadão a separar. Em segundo, o poder público, quando licitar a coleta e a destinação final dos resíduos sólidos, tem que colocar nas licitações e contratos administrativos que a empresa tem que coletar separadamente, ela tem que coletar o que é lixo mesmo, que nós chamamos de lixo cinza, ou seja, resíduo que não se aproveita, resíduo de banheiro e outros resíduos e todo o resto, o orgânico e o reciclável tem que ser coletado em separado”, explica.

Na COOPERU (Cooperativa dos Recolhedores Autônomos de Resíduos Sólidos e Materiais Recicláveis de Uberaba) estão cadastrados hoje cerca de 70 coletores que pegam o lixo reciclável da cidade e levam para o depósito, que fica no Distrito Industrial. Por mês, são recebidas na unidade 140 toneladas de lixo reciclável, sendo papel, plástico, sucata e vidro. 

O presidente da instituição explica que além do lixo recebido, eles também fazem a coleta de forma voluntária. O serviço é feito com seis caminhões e uma caminhonete e mais de 20 bairros são contemplados. Os principais são Santa Maria, Mercês e Vila Olímpica. “O problema da cidade é que hoje não existe um programa ou plano de coleta seletiva. Este trabalho nosso é voluntário e traz gastos com a manutenção dos veículos, combustível, salário de motorista, e tudo sai do dinheiro da venda dos materiais”, comenta.

Bons exemplos

A preocupação com o destino correto do lixo também é a preocupação de um condomínio de apartamentos no Parque do Mirante, em Uberaba. O síndico do residencial, Leandro Fernandes de Oliveira, explica que a coleta seletiva começou por lá há dois anos. São separados o lixo comum, alumínio, latas, vidros e papelão.  

Ele conta que não houve resistência dos moradores para implementar este sistema, porém a adesão ainda não é grande. “A iniciativa é ótima, benéfica para o condomínio. Eu como síndico vejo que acaba reduzindo os gastos com a manutenção. Nosso local de armazenamento do lixo acaba tendo mais espaço. O óleo não vai pro esgoto, o que reduz o número de entupimento, reduzindo, consequentemente, nossa despesa. Uma empresa recolhe este óleo e, em troca, pegamos produtos de limpeza que usamos no próprio condomínio", explica.

A servidora pública Monalisa de Oliveira Santos Souza também é outro exemplo de boas medidas que contribuem para o Meio Ambiente. Ela conta que na casa dela todo o lixo é separado. “Os resíduos comuns ficam numa lixeira, material reciclado em outra”, conta. Os vidros, por exemplo, são reaproveitados na família de Monalisa. “Alguns recipientes eu uso para colocar grãos, como cereais, amendoins, é uma forma de ficar bem protegido o alimento, não dá bicho e ainda ajuda bastante”, diz.

Além destes hábitos que são rotineiros na vida da servidora pública, ela e outros pais da escola onde os filhos estudam desenvolveram uma parceria para recolher os livros usados e destinar para o local correto. “Nos grupos de WhatsApp nós conversamos com os pais, combinamos de recolher os materiais e vendemos para cooperativa que recicla todo o papel. Este dinheiro arrecadado a gente usa num projeto especial de karatê com as crianças. Com essa iniciativa já conseguimos recolher cinco toneladas de papel", complementa.

O que diz a Prefeitura?

A reportagem levou o assunto para o governo de Elisa Araújo (Solidariedade). Em nota, nossos questionamentos foram respondidos pela própria prefeita. Elisa disse que tem planos de implementar a coleta seletiva na cidade. “Nós temos a meta de, nos próximos quatro anos, atingir até 80% da cidade atendida pela coleta seletiva”, afirma. 

Sobre a possibilidade de repensar o modelo de licitação hoje para a coleta do lixo na cidade, a prefeita disse que concorda em rever esta situação. “Hoje existe um contrato sendo discutido com o Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Regional, o Convale. Esse consórcio estabelece a destinação dos Resíduos Sólidos Urbanos. Contempla também a coleta seletiva, o apoio aos catadores de recicláveis, contempla, inclusive, uma capacitação para que se planejem de forma adequada, dando esse suporte e até incentivo financeiro para que eles possam se estruturar melhor. Um trabalho social. Porém, esse contrato por meio do Consórcio precisa ser revisto. Estamos discutindo alguns pontos, tecnicamente, para que a gente possa avançar sobre esse contrato que é intermunicipal”, explica.

Elisa Araújo encerrou as explicações dizendo ainda que todas as ações do governo vão ser amplamente discutidas com a comunidade. “Se for direcionamento da prefeitura efetivar esse contrato dentro desse Consórcio, ele será validado pela comunidade, levando em consideração todos os pontos que a população pautar dentro da discussão”, conclui.

 

Postado originalmente por: JM Online – Uberaba

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