Filho confessa à polícia ter matado pai após discussão sobre dívida em JF

Delegados Armando Avolio e Luciano Vidal detalham crime durante coletiva de imprensa realizada nesta sexta (Foto: Marcos Araújo)

Um caso que começou a ser investigado como de desaparecimento pela Polícia Civil terminou em uma triste história de homicídio envolvendo pai e filho. Durante um desentendimento dentro de um veículo em movimento, em razão de uma dívida, o pai teria sacado uma arma de fogo como uma forma de persuadir o filho. No entanto, o filho conseguiu tomar a arma do pai e disparou contra a cabeça dele. O corpo da vítima, o empresário Waldir Jorge Zampier, de 64 anos, foi localizado pela Polícia Civil seis dias depois, nesta quinta-feira (30), em uma ribanceira, no Distrito de Sarandira. O filho, Felippe Zampier, 24, confessou o crime e teve sua prisão temporária decretada pela Justiça, sendo encaminhado para o Ceresp de Juiz de Fora.

O caso, que tem nuances de roteiro de filme, foi desvendado pela equipe da 1ª Delegacia de Polícia Civil, tendo à frente o delegado Luciano Vidal. A notícia que chegou para a polícia era do desaparecimento do empresário, que atuava no ramo da construção civil, e teria ocorrido no último dia 24. “A família nos procurou na segunda-feira (27) solicitando auxílio para tentar localizá-lo. No entanto, em análise dos depoimentos colhidos durante a investigação, foram notadas a existência de divergências em relação aos horários em que Jorge (como era chamado) teria estado com as pessoas ouvidas. Quem teria estado pela última vez com ele foi o filho Felippe e, após esse contato, ninguém mais teria estado pessoalmente com a vítima”, relatou Vidal, durante entrevista coletiva à imprensa, na tarde desta sexta (31).

Waldir Jorge Zampier tinha 64 anos e era pai de quatro filhos (Foto: Arquivo Pessoal)

As informações colhidas durante a investigação passaram a apontar que a história contada por Felippe não era coerente com as versões relatadas pelas testemunhas. “A notícia que se tinha era de que Jorge teria recebido uma ligação, por volta das 14h30, na obra em que ele trabalhava e estava, naquele momento, juntamente com o filho. A ligação era sobre a existência de uma fatura aberta num valor considerável em um banco do Bairro São Pedro, e que Jorge precisaria quitar essa dívida, uma vez que já deveria ter sido paga pelo Felippe”, disse o delegado.

Por este motivo, Jorge e Felippe deixaram o local da obra, no Bairro Aeroporto, de carro, a fim de se dirigirem à agência bancária para resolverem a questão. A dívida seria no valor de R$ 20 mil. Conforme o testemunho de Felippe à Polícia Civil, o pai estaria irritado com a situação e pediu para desembarcar perto do pórtico sul da UFJF, para que ele pudesse pegar um táxi e ir encontrar com a namorada dele. “Todavia, essa versão se mostrou incoerente em relação às demais informações colhidas. Diante disso, pudemos averiguar por meio das câmeras de segurança do Hospital Monte Sinai que o veículo do Felippe desceu a Avenida Itamar Franco, não tomando o rumo do banco, como se pensava. Além do que, verificou-se que, na noite daquele dia, Felippe trocou seu veículo com o carro do pai, que estava num estacionamento localizado no Centro. Essas atitudes, por serem suspeitas, fizeram a Polícia Civil apreender o veículo em que o filho teria saído com o pai naquela tarde”, explicou Vidal.

Marcas de sangue

O carro foi submetido a um exame pericial na noite de quarta-feira (29), e foram constatados indícios de sangue humano no seu interior, o que levou a polícia a crer que algo grave havia ocorrido dentro do automóvel. Assim, Felippe passou por um novo interrogatório, nesta quinta, no qual foram demonstradas as contradições de suas declarações.

Carro onde crime ocorreu foi deixado em estacionamento no Centro  (Foto: Marcos Araújo)

De acordo com o delegado, o jovem confessou a prática do crime, indicando o local onde o corpo do pai foi abandonado. “Segundo Felippe, o motivo que o levou ao crime foi o fato de o pai, irritado com a situação do banco, ter começado a discutir com ele, humilhá-lo com palavras e, em determinado momento, sacado uma arma de fogo. Felippe contou que eles entraram em luta corporal e teria tomado a arma dele efetuando um disparo que atingiu a cabeça de Jorge.”

Depois do tiro, com o corpo do pai no carro, o rapaz dirigiu até a Zona Rural de Matias Barbosa, em uma estrada vicinal que liga aquela cidade ao Distrito de Sarandira, onde abandou o corpo de Jorge em uma ribanceira. A arma usada para alvejá-lo foi dispensada no meio do caminho.

Dinâmica do crime

A Polícia Civil traçou os últimos passos seguidos por pai e filho depois de terem saído juntos da obra, no Bairro Aeroporto. De acordo com o que foi apurado, o carro desceu a estrada do Bairro Dom Orione, passando em frente à sede do Sesi, onde teve início a discussão dos dois. Quando o automóvel já trafegava na altura da unidade da Embrapa, Jorge e Felippe entraram em luta corporal, culminando no disparo da arma de fogo. Conforme a apuração, Felippe, ao constatar que o pai estava morto, desceu a Avenida Itamar Franco sentido Bairro Cascatinha, de onde tomou o rumo do Parque da Lajinha, voltando ao Bairro Aeroporto, onde acessou a BR-040, seguindo para Matias Barbosa.

Ele cruzou a cidade, ultrapassou a linha férrea e entrou em uma via vicinal, onde a arma e corpo do pai foram dispensados. Depois, o jovem voltou para casa, no Bairro de Lourdes, onde trocou de roupa, tentou limpar o carro e se dirigiu ao Centro. No caminho, o rapaz dispensou o celular do pai, o pano que limpou o carro e a sua calça jeans suja de sangue no Rio Paraibuna. Em seguida, foi até um estacionamento no Centro e trocou seu carro com um veículo que o pai tinha no local.

“Ele saiu à noite com esse outro veículo para que outras pessoas não pudessem desconfiar que o veículo estava sujo de sangue. Apesar de o pai não ter conversado com ninguém depois das 14h30 daquele dia, a namorada de Jorge contou que, à noite, o empresário lhe mandou uma mensagem via WhatsApp, mas, na verdade, essa mensagem foi envida pelo filho, usando o telefone do pai depois que retornou do local da desova do corpo, para dar a entender que o empresário estaria vivo, tirando-o do alvo das investigações”, ressaltou Luciano Vidal.

Cruzamento de dados

A investigação do assassinato ainda não foi concluída e, como aponta o delegado responsável, está na fase de cruzamento dos dados técnicos e periciais com as informações de cunho pessoal colhidas durante a investigação. Também estão sendo realizadas buscas para encontrar a arma usada no homicídio. O projétil que vitimou Jorge foi apreendido pelos médicos legistas, que constataram que realmente a vítima foi atingida por um disparo de arma de fogo na cabeça.

“As informações angariadas dão conta de que a relação entre pai e filho já estava desgastada por conta de Felippe gastar mais do que podia e devia e, por isso, o pai já estava desconfiado das atitudes dele, o que culminou com a notícia da fatura em aberto”, disse o delegado. Felippe deverá responder pelos crimes de homicídio e ocultação de cadáver. Ele foi preso temporariamente por 30 dias, podendo o prazo ser ser prorrogado pelo mesmo período. Além de Felippe, o empresário tinha mais três filhos.

O delegado regional de Juiz de Fora, Armando Avolio, ressaltou o êxito da investigação. “Foi mais um trabalho bem sucedido por parte da Polícia Civil, no qual houve uma apuração complexa, cujo caso chegou para nós como de pessoa desaparecida. Porém, a equipe percebeu que tinha que continuar as investigações, culminando na prisão do autor e na motivação, sendo apurado que se tratou de um homicídio. São atitudes como essas que têm impactado diretamente na redução dos crimes violentos na cidade”, avaliou.

Por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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