Executivo do Instituto Aço Brasil avalia consequências da sobretaxa imposta pelos Estados Unidos

Wôlmer Ezequiel

Exportação de semiacabados para os Estados Unidos pode ser reduzida em 7%, conforme simulações

Com a crise política e financeira enfrentada pelo Brasil nos anos anteriores, a saída encontrada por muitas empresas brasileiras para manter a utilização da sua capacidade instalada foi a exportação. No entanto, o já conturbado cenário internacional deteriorou ainda mais desde o início de março, com a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de estabelecer alíquota de importação de 25% para o aço.

De acordo com o presidente executivo do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, é preciso tomar cuidado com o grande excedente de capacidade instalada no mundo, após a decisão de Trump de estabelecer a taxa em 25%, que corresponde por um terço das vendas externas do produto pelo Brasil. “Os volumes em excesso estarão em busca de novos mercados e o nosso país não pode se tornar o depositário desse excedente. Então nós achamos que é fundamental que o governo brasileiro monitore as importações e tenha uma defesa comercial que seja eficiente”, afirma.

Em relação às possíveis motivações do Donald Trump para adotar essa medida, Marco Polo aponta que além de ter sido umas das promessas de campanha, que visa a preservação de empregos, houve um outro motivo. “Eu pessoalmente acredito que a segunda razão seria uma certa irritação com a morosidade por parte dos organismos mundiais como o G-20 ou Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), porque temos ainda um grande excedente de capacidade da ordem de 700 milhões de toneladas no mundo, cujo a solução ainda não se consegue enxergar”, destaca.

Para obter uma noção de quais seriam os prejuízos com essa taxação, o Instituto Aço Brasil realizou simulações que indicam reduções na exportação. Como o governo americano determinou que a cota global para o Brasil seria calculada pela média dos anos de 2015, 2016 e 2017 das exportações para os Estados Unidos, o Instituto Aço utilizou essa média e comparou com as exportações do ano passado. “No caso de semiacabado (que responde por 80% do total das remessas brasileiras para as usinas estadunidenses) a queda da média em relação ao ano de 2017 é de 7%. Nós achamos que, inclusive, será revertida porque vai faltar aço nos EUA e tenho certeza que vão bater na porta do Brasil e irão pedir por mais”, informa Marco Polo.

Divulgação

Marco Polo informou que a exportação de aço semiacabado para os Estados Unidos terá uma queda de 7%, conforme simulações

Já em relação ao aço acabado, o presidente executivo afirma que fizeram a mesma comparação e perceberam que, para cada grupo de produtos, as quedas variam de 20% a 60%. “Então se nada for feito nesse processo final de negociação com os EUA, teremos uma penalização forte no acabado e uma condição bastante boa no semiacabado”, salienta.

Liberalismo
Questionado pelo Diário do Aço sobre a preocupação com as eleições em outubro, Marco Polo disse que ainda é cedo para fazer qualquer tipo de comentário em relação às possíveis alternativas de voto, mas adiantou que é a favor de medidas liberais pelo governo. “Eu acho que quanto mais livre for, é melhor. O setor sabe exatamente o que tem que fazer e o que precisa ser feito. O que nós queremos é que o estado faça aquilo que tem que fazer, o que nem sempre tem feito”, cita.

Marco Polo acrescenta que não chamaria de liberalismo econômico uma corrente que existe dentro do Ministério da Fazenda e da própria Secretaria de Assuntos Estratégicos, com a defesa da abertura do país de forma indiscriminada. “Nós somos terminantemente contrários a isso. Nós não temos nada contra uma abertura no futuro, mas antes disso tem que corrigir as nossas assimetrias e mazelas competitivas. Não se pode entregar uma tarifa gratuitamente, é preciso negociar. Entregar gratuitamente não interessa a ninguém, talvez só à turma da Fazenda”, pontua.

Repórter: Tiago Araújo

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