Crianças são as principais vítimas de acidentes com corpos estranhos

Maior causa de entradas de público infantil no Hospital João XXIII, a inalação ou ingestão de objetos estranhos leva a riscos e deve ser atendida rapidamente

Com as férias escolares, pais, responsáveis e cuidadores precisam redobrar a atenção já que acidentes domésticos podem ocorrer em momentos de distração – principalmente com as crianças menores.

Uma das ocorrências mais frequentes dentro de casa é a que envolve “corpos estranhos”, termo que se refere a qualquer objeto ou substância ingerido ou colocado pela criança nas narinas ou nos ouvidos: moedas, peças menores de brinquedos e tampas de garrafas são alguns exemplos que costumam levar os pequenos aos serviços de emergência.

No Hospital João XXIII (HJXXIII), da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais  (Fhemig), o atendimento a crianças mais comum é o relacionado a corpos estranhos. Este tipo de ocorrência foi o terceiro mais frequente durante o ano passado no HPS, ficando atrás apenas das quedas da própria altura e dos acidentes de trânsito envolvendo motociclistas. A unidade atendeu 4.315 casos de acidentes com corpos estranhos em 2022. Do total, 1.382 pacientes foram crianças de 0 a 5 anos.

Susto

A pequena Lua, de um ano e sete meses, foi uma das várias crianças que deram entrada na unidade por esse motivo. Mesmo com todos os cuidados dos pais, a garota encontrou um pingente em casa e o engoliu, dando um susto na família.

O pai, que presenciou a cena, chegou a realizar os primeiros socorros em casa, tentando retirar o objeto por meio de uma manobra de desengasgo, mas não adiantou. No HJXXIII, o atendimento foi veloz. “Na porta do hospital já havia um paramédico, que a pegou dos meus braços e verificou  se ela estava respirando normalmente. O pai a levou para a urgência e pouco depois já foi realizado o raio-X”, conta a mãe, a vendedora Priscila Emanuelle Neres, de 30 anos.

O exame detectou que o pingente se encontrava no esôfago da criança e foi removido por meio de uma endoscopia. “Foram momentos de aflição mas, mesmo sendo a primeira vez que passava por isso, consegui manter a calma, o que é muito importante nestes momentos”, finaliza Priscila.

Ocorrências comuns

De acordo com o gerente médico do Complexo Hospitalar de Urgência e Emergência da Rede Fhemig, Rodrigo Muzzi, crianças em idade pré-escolar são as que mais têm curiosidade em colocar as coisas na boca.

Segundo o profissional, alguns objetos merecem atenção especial, pois são mais perigosos caso ingeridos e devem ser mantidos à distância. “Peças pequenas e pontiagudas, como pregos e parafusos, são fáceis de serem engolidas e podem causar perfurações no esôfago, estômago e intestino da criança. Já objetos maiores, de plástico, podem ficar entalados e causar engasgos, devendo ser manuseados sempre com a supervisão de um adulto”, explica o profissional.

Pilhas e baterias são objetos comuns de serem engolidos, pois são pequenos e encontrados em diversos brinquedos infantis. Segundo Muzzi, as baterias, apesar de normalmente estarem parafusadas e serem mais difíceis de acessar, são potencialmente perigosas para os pequenos. “Em contato com o suco gástrico, a bateria gera uma corrente elétrica que pode causar queimaduras nos órgãos internos”.

Vias aéreas

Apesar de a introdução de objetos no nariz e ouvidos gerar menores riscos quando ficam alojados nos orifícios, eles podem ser esquecidos se a criança não avisar aos pais e responsáveis e aí acarretar infecções.

Já os grãos como castanhas, milho de pipoca, feijão cru e amendoim oferecem um risco maior se aspirados, ou seja, se entrarem nas vias aéreas.

Quando ocorre a aspiração, o corpo estranho obstrui a entrada e a saída do ar causando asfixia;  e, se ele vai para o pulmão, a gravidade é ainda maior, porque pode causar inflamações e até pneumonia.

“A imaturidade da criança pode fazê-la se engasgar com mais facilidade e aumentar o risco da aspiração ao invés da ingestão. As vias aéreas são menores, isso significa que o corpo estranho tem um impacto maior, com asfixia mais grave do que em crianças maiores.”, explica o pediatra do HJXXIII, André Marinho.

“A cozinha é o local mais perigoso da casa. Alimentos devem estar distantes e em altura segura”, completa. O médico sugere, inclusive, que adultos não manipulem este tipo de alimento perto de crianças muito pequenas.

O que fazer?

As crianças que ingeriram ou introduziram corpos estranhos devem ser imediatamente levadas ao pronto-socorro mais próximo. Segundo André Marinho, caso os pais observem sinais como a queixa de dor no tórax, vômitos, salivação excessiva, mesmo sem terem visto o que aconteceu, também devem procurar o serviço médico mais próximo.

Em caso de ingestão de pilhas e baterias, não se deve oferecer leite nem outros líquidos. “Também não é recomendado tentar remover os objetos engolidos com as mãos, a não ser que ele esteja bem visível na boca, pois o risco de empurrar ainda mais fundo e piorar a obstrução é muito alto”, ressalta o coordenador de pediatria.

As informações são da Agência Minas.

Foto; Fhemig / Divulgação

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