O Cine Santa Tereza, uma das salas de cinema mais tradicionais da cidade, completa 7 anos desde sua reabertura como um espaço público vinculado à Prefeitura de Belo Horizonte. O cinema de rua, atualmente um dos poucos ainda atuantes na cidade, foi reinaugurado em 2016 com a intenção de ser um local de difusão, circulação e criação artística da linguagem audiovisual, atendendo assim a uma reivindicação dos moradores da cidade e do setor cultural. A sessão inaugural aconteceu no dia 26 de abril de 2016 e, desde então, o Cine já recebeu cerca de 50 mil pessoas em mais de 2.200 sessões gratuitas.
Para celebrar este aniversário, a Secretaria Municipal de Cultura e a Fundação Municipal de Cultura promovem, durante todo o mês de abril, a “Nossa Mostra“, com filmes de estilos e narrativas variadas, selecionados pelo público do cinema. Também acontece uma edição especial do projeto Circuito Cine Santê, com homenagem ao cineasta Geraldo Veloso (1944-2018) e debate em torno do tema “Memória e Preservação”. Os ingressos são gratuitos e podem ser retirados no site www.sympla.com.br. Uma quota de 50% dos bilhetes é reservada para distribuição no próprio cinema, 30 minutos antes das sessões. A programação completa do Cine Santa Tereza pode ser consultada no Portal Belo Horizonte.
A Secretária Municipal de Cultura, Eliane Parreiras, comemora a data enfatizando as ações do setor realizadas pela PBH. “O Cine Santa Tereza é um patrimônio cultural da cidade e representa a importância que a Prefeitura de Belo Horizonte tem dado ao desenvolvimento do audiovisual na cidade. O cinema é a ponta de um conjunto de ações e políticas promovidas pelo poder público, como a criação do Núcleo de Produção Digital de Belo Horizonte, focado em ações de formação, e a Belo Horizonte Film Commission, responsável por apoiar as produções audiovisuais no município”, afirma.
Luciana Féres, presidente da Fundação Municipal de Cultura, destaca a atuação do cinema e sua importância para a cidade. “Trata-se de um cinema público, um espaço cultural e de lazer reivindicado pela população da cidade, comprometido não apenas com as sessões gratuitas, mas também com ações de formação contínuas que buscam apresentar e discutir aspectos relacionados ao audiovisual, além de promover cursos, oficinas e workshops com foco na linguagem cinematográfica”, completa
Mostra com filmes escolhidos pelo público
Os filmes que serão exibidos durante todo o mês de abril na “Nossa Mostra” foram sugeridos pelo público frequentador do Cine Santa Tereza. A escolha levou em consideração a vivência dos frequentadores do cinema e as suas relações com determinados filmes, seja por estas obras terem sido marcantes na sua história pessoal ou mesmo por terem ficado na memória de sessões presenciadas no Cinema. Também foram consideradas a pluralidade de propostas, períodos e estilos representados, que vão do mais leve entretenimento a obras que exaltam o onírico e o sensorial, passando pela força potente do cinema local, assim como por antigos e novos clássicos do cinema mundial. Ao todo, o cinema recebeu mais de 200 sugestões.
Além de sugerirem os filmes, o público pôde também compartilhar as suas histórias relacionadas àquelas obras. Estes relatos, que trazem como traço comum a paixão pelo cinema, ficarão expostos no hall do Cine Santa Tereza ao longo do mês.
Uma das obras de destaque da mostra é o mineiro “Marte Um” (2022, classificação 16 anos) de Gabriel Martins, ganhador de inúmeros prêmios nacionais e internacionais e indicado pelo Brasil, em 2022, para concorrer a uma vaga ao Oscar. O filme foi o recordista de pedidos do público para exibição na “Nossa Mostra”. Para Marcos Fileto, de 27 anos, seria incrível rever e divulgar ainda mais essa obra que é tão nossa. “Marte Um já fez história por seu enredo, simplicidade e representatividade”.
Outro filme muito solicitado pelo público é “Cinema Paradiso” (1988, classificação 12 anos), de Giuseppe Tornatore, uma das mais tocantes homenagens à sétima arte. Para Tomás Correa, de 21 anos, “Esse filme, além de ter tudo a ver com a atmosfera de um cinema de rua e as emoções nele cultivadas, como é o nosso Cine Santa Tereza, tem uma forte conexão com a história pessoal de minha mãe, que viu esse filme no cinema, num momento de sua vida em que ela desenvolvia suas ambições e seus sonhos. Ela volta recorrentemente à sua icônica trilha sonora para reviver aqueles momentos de magia da juventude”.
Para José Bernardo Souto, de 28 anos, rever “E.T, o extraterreste” (1982, classificação livre), de Steven Spielberg, é a oportunidade para um encontro de gerações. “A primeira vez que assisti ‘ET’ foi aos 7 anos de idade, em 2002, no relançamento comemorativo do aniversário de 20 anos. Foi uma das minhas experiências cinematográficas mais marcantes, por ser também uma das primeiras. Eu adoraria levar minha irmã, que hoje tem 8, para assisti-lo comigo e reviver essa lembrança, desta vez como o adulto que apresenta uma nova espectadora ao cinema”, completa
Já para Frederico Sálvio, de 51 anos, assistir novamente “Amadeus” (1984, classificação 12 anos), um dos mais famosos filmes do diretor Tcheco Milos Forman, significa acionar lembranças preciosas do pai. “Quando eu era pequeno, meu pai me levou para assistir ‘Amadeus’ umas 5 ou 6 vezes. O tempo passou freneticamente. Meu pai se foi e eu fiquei. E quando fiquei sabendo dessa proposta do Cine Santê foi o primeiro filme que veio na minha cabeça. Meu pai era tenor e ouvia música clássica 24 horas por dia, 365 dias por ano”, destaca.
A relação entre pais e filhos também foi citada pela moradora do bairro e jornalista, Eliza Peixoto, 68 anos, ao enviar sua sugestão para a exibição de “A Noviça Rebelde” (1965, classificação livre), de Robert Wise. “A primeira vez que vim a Belo Horizonte e fui ao cinema aqui, no Cine Jacques, se não me engano, eu tinha uns 15 anos. Foi uma maravilha. Depois esse filme eu vi pela TV com minha filha pequena. Ela amou. Então fizemos uma gravação da TV e mesmo sendo precário ela assistia ao filme quase todos os dias. Era tanto que aprendeu a falar inglês por meio dessa gravação, decorou os diálogos e as canções. E quando fizemos uma viagem juntas fomos até a cidade de Salzburgo para conhecer onde foi feita a filmagem. O filme de certa forma criou um vínculo importante entre mãe e filha.”
Para Tiago Pereira, de 36 anos, a paixão pelo cinema e pela cultura popular brasileira o inspirou a sugerir “Tapete Vermelho” (2005, classificação 10 anos), de Luís Alberto Pereira. “Por ser uma homenagem ao amor pelo Cinema e por um dos maiores ícones do Cinema Brasileiro, Mazzaropi. Além de tudo é um filme engraçado, emocionante e uma aula de Cultura Brasileira com atuações excelentes”.
Sessões comentadas em homenagem ao Clube da Esquina e a Geraldo Veloso
Em abril, o projeto Circuito Cine Santê também será especial, em celebração pelo aniversário do Cine Santa Tereza. Realizado em parceria com o Circuito Municipal de Cultura, o projeto terá duas sessões comentadas com o tema memória e preservação. No dia 25, será exibido o documentário “Estrada Natural” (2023, classificação livre), que conta a história de uma ferrovia que inspirou os músicos do Clube da Esquina. O filme traz depoimentos de Milton Nascimento e Fernando Brant. A sessão será comentada pelo diretor Emerson Penha.
Já no dia 26, acontece uma homenagem ao cineasta Geraldo Veloso (1944-2018), pela sua dedicação para o florescimento do cinema em Minas Gerais, bem como a sua contribuição para a reabertura do Cine Santa Tereza, cuja sala de exibição recebe seu nome. Serão exibidos os filmes “Interregno” (1966, classificação 12 anos), de Flávio Werneck, “Toda a Memória das Minas” (1978, classificação 12 anos), de Geraldo Veloso, além de “O Padre e a Moça” (1966, classificação livre), de Joaquim Pedro de Andrade, obra que delimita um importante marco temporal para o cinema mineiro. A sessão será comentada por Lourenço Veloso, filho do cineasta e atual diretor do Centro de Estudos Cinematográficos – CEC. Também estarão presentes Victor de Almeida, jornalista e pesquisador de cinema, atual presidente do Instituto Humberto Mauro e Paulo Augusto Gomes, pesquisador e crítico de cinema.
HISTÓRIA
O Cine Santa Tereza foi inaugurado como um cinema privado no ano de 1944. O imóvel é de autoria do arquiteto Raffaello Berti (1900-1972) e foi construído junto à praça Duque de Caxias, local de sociabilidade no Bairro Santa Tereza, o qual sempre foi marcado pela efervescência cultural. A solenidade de inauguração do Cine Santa Tereza aconteceu em um domingo e contou com a benção do Padre José de Campos Taitson, seguida do discurso do político e advogado, João Franzen de Lima. Suas sessões inaugurais contaram com a exibição do filme “O Conde de Monte Cristo” (1934, Rowland V. Lee).
Durante o período de 1951 a 1959 o Sr. Sebastião Bracarense Leite foi quem gerenciou a casa, depois de ter trabalhado algum tempo como bilheteiro na Empresa de Cinemas e Teatros de Minas Gerais. Entretanto, a popularização da televisão a partir da década de 1970 trouxe o declínio para as casas de cinema em toda Belo Horizonte e, assim como outros espaços, o Cine Santa Tereza foi fechado na data de 12 de fevereiro de 1980.
Após o encerramento das atividades do cinema, nas décadas de 1980 e 1990, o edifício foi sede de danceterias e casas de shows. Em 2003, após passar pelo processo de desapropriação, o imóvel passou à gestão da Prefeitura de Belo Horizonte. O imóvel histórico foi restaurado e revitalizado, e inaugurado como cinema público – o Cine Santa Tereza – em abril de 2016. O cinema conta atualmente com uma sala de exibição digital, com capacidade para 126 espectadores, que oferece a experiência individual e coletiva do cinema em alta resolução de imagens e ótima qualidade de som.
As informações são da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte.