Nascido em Manhuaçu, na Zona da Mata, e crescido em Juiz de Fora, na mesma região, Leopoldo Siqueira é um dos grandes nomes do jornalismo mineiro. Com sua imensa paixão em contar histórias, o atual apresentador do Alterosa Esporte vêm desde a década de 80 atuando na área e transmitindo informação de qualidade para quem o acompanha.
Siqueira é formado em jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e já exerceu atividades nas áreas de esporte, polícia e cidades. A voz da experiência nas áreas de rádio e televisão faz do jornalista um profissional com visão crítica e posicionamento singular.
Em entrevista realizada pelo Portal AMIRT, Leopoldo Siqueira falou sobre suas vastas atuações nas diversas áreas do jornalismo. Além disso, Siqueira abordou a valorização do rádio e TV e a aproximação desses meios às novas mídias digitais.
Confira a entrevista:
Como foi sua primeira experiência na TV e no rádio?
Leopoldo: Rádio foi em Juiz de Fora. Comecei um ano antes de me formar pela UFJF como repórter de campo. Fiz parte da Rádio Sociedade JF, popularmente conhecida como ‘Super B-3’. Foi um convite do editor de esportes do recém-criado jornal Tribuna de Minas – onde estagiava – que era também chefe da equipe esportiva da emissora. As primeiras participações foram tímidas, pois senti a imensa responsabilidade de falar tendo ao lado profissionais consagrados e com a maior audiência na cidade. Mas a espontaneidade das transmissões de partidas de futebol e dos programas esportivos e a paciência dos professores fizeram com que eu crescesse e me apaixonasse pela atuação em rádio (eu que sempre fui um ouvinte do AM).
Entre os mestres cito o narrador Paulo César Magella (hoje, editor-geral da Tribuna de Minas); o comentarista Paulo Roberto e os grandes jornalistas e apresentadores, já falecidos: Cláudio Temponi e Mário Helênio (que dá nome ao estádio municipal de Juiz de Fora). Experiências como as viagens pelo estado para transmitir jogos do Tupi, Sport e Tupinambás pelo Campeonato Mineiro, as coberturas do Carioca no Maracanã, o convívio com craques da era Zico, Roberto Dinamite, Ricardo Gomes, entre outros, foram inesquecíveis e enriquecedoras.
Em televisão, a primeira experiência foi na Tv Record, fundada no início da década de 90 e que funcionava numa casa na Savassi. Também como repórter de esportes, cobrindo várias modalidades e os times de futebol de BH. Fiz, nessa época, as primeiras incursões na apresentação em estúdio do programa “Geração Esporte”, ao lado de Ronan Ramos, Jaeci Carvalho, Jorge Luiz e Armando Oliveira. O início da emissora, ainda com poucos recursos e alcance, não impediu que fizéssemos um bom trabalho. E, desta época, recordo-me com muito carinho de uma longa (e, talvez a última pra televisão) entrevista com o lendário ‘Kafunga’.
Trabalhei também na Rádio Globo-Minas e, atualmente, na Tv Alterosa.
Com o passar dos anos, a forma de transmitir notícia foi mudando. A partir de sua vasta experiência nos veículos (rádio e TV), o que mais mudou no jornalismo desde o início da sua atuação até hoje?
Leopoldo: Uma das críticas que a minha geração de jornalistas faz é como o setor se transformou em ‘chapa branca’. Como ficamos reféns de assessorias, consultas na internet, apurações à distância (ora por falta de condições financeiras de muitos veículos ora por comodismo). O contato com as fontes e o destemor diante de obstáculos para registrar os fatos são, com raras exceções, peças de museu. O advento das redes sociais é um misto de ajuda e prejuízo para o jornalismo. A pressa que as novas ferramentas imprimem no dia-dia da população colocam em risco a apuração profunda e a transmissão fidedigna dos fatos.
Ainda falando de mudanças, o que você espera do jornalismo transmitido pelo rádio e televisão daqui alguns anos?
Leopoldo: Há muito ouço sobre o fim do rádio. E, mais recentemente, a televisão foi ‘condenada’, por causa da internet, YouTube, etc. Não creio no desaparecimento nem de um nem de outro. Mudanças, sim, com certeza. As redações não são mais uma imensa sala com centenas de computadores e profissionais. Pode-se fazer coberturas com um menor número de pessoas, além dos estagiários. A pandemia introduziu o ‘home office’. No entanto, essa nova estrutura, fruto da contaminação pelo novo coronavírus e da economia das empresas, é outro fator de risco para as boas e grandes reportagens. Ainda assim, penso que formatos de programas informativos e esportivos ainda terão longa vida no rádio e na Tv.
Qual sua opinião sobre a relação das novas mídias digitais com o rádio e TV? Você acredita que essas novas mídias, como Instagram e Twitter, podem somar com os meios de comunicação mais antigos?
Leopoldo: A Tv aberta e o rádio cada vez mais se aproximam da internet. Mesmo nas cidades do interior, onde o contato e a relação das pessoas com os veículos de comunicação são mais próximos e cordiais, o fazer jornalístico se apoia nas novas mídias. Um dos exemplos de que o distanciamento social criou novas formas de produzir reportagem é: buscar pautas e ideias nas postagens de jogadores de futebol (artistas, políticos, etc.) nas redes sociais.
Com a popularização das ferramentas como Instagram e Twitter, cada vez mais os programas jornalísticos buscam neles informações. Porém, uma observação grave precisa ser feita a esse respeito: caberá sempre ao jornalista, e intransigentemente, a função de apurar com cuidado se aquelas informações contidas nas redes sociais são verídicas.
Ao ingressar na UFJF, em Juiz de Fora, você já tinha intenção de seguir o ramo esportivo?
Leopoldo: Eu não tinha um foco no jornalismo esportivo, embora sempre gostasse muito de várias modalidades (Futebol, Vôlei, Futsal, Handebol.) Na entrevista para o estágio no jornal, não indiquei um setor específico. Estava entre Economia e Cidades, quando surgiu a vaga no Esporte. Mas um tempo após me formar fui promovido a ‘repórter especial’, o que me credenciava a cobrir qualquer outros assuntos. Em seguida, fui para o esporte da rádio, mas tempos depois participava de um programa matinal como repórter ‘de rua’.
A maioria dos seus trabalhos foi voltado ao esporte, mas você já atuou também na editoria policial, no Estado de Minas. Como foi essa experiência?
Leopoldo: Tenho de fazer as contas para saber se passei mais tempo no esporte ou na geral. Talvez seja o Esporte porque, só de Alterosa Esporte são 24 anos. Se bem que, houve um intervalo, de alguns anos, no Jornal da Alterosa. A Alterosa foi após o trabalho na Record e quando desempenhava reportagens gerais na Rádio Globo. Foram ótimos anos no ‘Aqui Agora’, cobrindo de tudo um pouco. Um aprendizado de jornalismo e cidadania. Muito embora, críticos acentuassem que era um programa ‘sensacionalista’. Nessa época, aceitei feliz um convite do editor Wagner Seixas para a Editoria de Polícia do Estado de Minas. Porque era a minha praia, também, e estava com muitas saudades de escrever. Amo contar histórias.
Se você pudesse optar por trabalhar em outro segmento do jornalismo, além do esporte, qual seria sua primeira opção?
Leopoldo: Cidades, que a gente chama também de Geral. Ou seja, sem escolher um assunto. E cobertura policial.
Em sua biografia do Twitter, você se apresenta como um “cronista esportivo pela isenção e paz no futebol”. Você acredita que essas questões podem interferir/prejudicar o jornalismo esportivo?
Leopoldo: Para muitos, é utópico se pensar em paz entre as torcidas. Não creio, embora reconheça que é uma luta quase solitária (poucas autoridades verdadeiramente engajadas, muitas facções desinteressadas em mudar o comportamento). Mas é tecla que baterei enquanto respirar! Com relação à isenção, é uma discussão profunda e delicada. O profissional pode ser, mas se o patrão não for, o que ele faz? Um repórter esportivo, que sempre teve um time, conseguirá ser imparcial numa reportagem? O jornalista tem a obrigação de segurar a paixão. De não se envolver com o ídolo a não ser com o limite do profissional. De não aceitar agrados e coações.