Depois do anúncio feito na tarde desta quarta, 13, pela superintendência da Copasa em Montes Claros de que haverá rodízio no abastecimento da população a partir do próximo domingo, 17, a crise hídrica que se instalou a partir de agora tem preocupado ambientalistas e engenheiros ambientais em Montes Claros
Há cerca de pouco mais de um ano, o governo do estado (ainda chefiado por Fernando Pimentel) anunciava a construção de uma adutora que utilizaria as águas do córrego Pacuí e que seria levada até o Rio São Francisco, o que na ocasião gerou polêmica e protesto por parte dos agricultores ribeirinhos, além de prefeitos da região banhada pelo córrego.
– Acabamos de resolver um problema histórico na cidade, que é o abastecimento da água. Montes Claros estava há pelo menos quatro anos com esse problema da água, que agora acabou por causa da obra de captação de água no rio Pacuí, feita pela Copasa – afirmou na ocasião o governador Fernando Pimentel.
Em contraponto, os prefeitos se mobilizaram e criaram um movimento para salvar o Rio Pacuí, sendo o Engenheiro Ambiental Flávio Pimenta, da UFMG, responsável para realizar um diagnóstico do impacto a ser gerado pela retirada da água. Se naquela ocasião, o prognóstico era pessimista, a situação se agravou durante este período.
Em contato mantido com agricultores da beira do Rio Pacuí, a reclamação e a situação de desespero que se instalou tem tornado o futuro sombrio. Um destes produtores que não quis se identificar, mandou fotos do Rio próximo a comunidade de Gameleira e elas não mentem: apenas um filete de água está correndo no local, prejudicando em muito a vida dos moradores.
– Nós já estamos desesperados. A última medição que fizemos aqui deu 158 (vazão do leito) e nós realmente não teremos um prognóstico melhor pois as chuvas estão escassas na região e em breve não teremos água sequer para saciar nossa sede ou nossos alimentos – afirmou outro morador da comunidade de São Leandro.
Segundo Flávio Pimenta, a Copasa sabia que essa adutora transportando água do Rio Pacuí não resolveria o problema de abastecimento em Montes Claros.
– Nós já havíamos feito o levantamento sobre os impactos ambientais desta adutora. A afirmação do governo estadual de que 30% da situação seria amortizada foi ilusória. Dado essa prognóstico, não é novidade que agora se tenha que recorrer a novo sistema de rodízio para abastecimento e, de maneira irresponsável , se tenha prejudicado os agricultores da beira do Rio Pacuí. Isso para mim foi uma catástrofe eleitoreira que tentou enganar a população urbana e colocou os agricultores numa situação muito mais complicada de difícil – afirma Pimenta.
Já para o ambientalista Eduardo Gomes, diretor do Instituto Grande Sertão a situação é preocupante e pode tirar o sono dos montes-clarenses nos próximos meses. Porém, ele defende que a população tenha que modificar seus hábitos ao invés da realização de rodízio no abastecimento.
– Nós temos que ter um plano de contingenciamento de acordo com a disponibilidade cada vez menor de água. A população precisa aprender a conviver com isso. Não existe a necessidade do fornecimento contínuo em que se tenha que ter água por 24 horas. As pessoas vão ter que entender que temos menos água, precisam evitar desperdício e usar a água com educação – afirmou.
Gomes também se mostrou indignado com a postura da Copasa que, segundo ele, deixou a situação chegar a níveis críticos, para só depois disso tomar providências.
– Eu não entendo como a Copasa deixa se chegar nesta situação de caos hídrico para se tomar uma atitude de racionamento. Na verdade, o que falta é um planejamento e informações à população para que nos meses de menor quantidade pluviométrica e conseqüente vazão saber que se tenha que diminuir. Na época de chuva, é preciso armazenar a água ou então teremos que conviver com este caos ano após ano – declarou.
Poços artesianos
Uma outra situação apontada pelo ambientalista é a abertura indiscriminada de Poços artesianos por parte de quem tem condições financeiras, causando um desequilíbrio hídrico que culmina por escassear o volume de água na vazão dos rios.
– Está existindo perfuração clandestina de poços inclusive dentro da área urbana que termina por causar um desequilíbrio que termina por agravar este caos. Se não houver uma política contínua e fiscalização do uso responsável da água, certamente em pouco tempo estaremos sofrendo um processo de desertificação em nossa região – finaliza.
Enquanto isso, a barragem do Rio Verde Grande, em Juramento deve chegar ao nível alarmante de 13% segundo informou a própria Copasa. Se não chover com bom índice pluviométrico este ano, a situação poderá gerar um caos jamais visto no município de Montes Claros em nenhum tempo de sua história
Postado originalmente por: VinTV