A artista cria estratégias sensíveis para refletir sobre o passado da cidade de Belo Horizonte por meio de documentos e arquivos institucionais
O Museu Mineiro, equipamento cultural da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult-MG), promove a abertura da exposição “Museu Mineiro [Sala das Sessões]”, da artista Ana Raylander Mártis dos Anjos, com curadoria de Luiza Marcolino, ambas residentes da 9ª edição do Bolsa Pampulha.
A mostra, em cartaz até o dia 16 de fevereiro de 2025, se insere no contexto da 9ª edição do Bolsa Pampulha, realizado pela Secretaria Municipal de Cultura e Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, em parceria com o Viaduto das Artes.
Na exposição, a artista destaca a tela “A Má Notícia”, pintada por Belmiro de Almeida em 1897. A obra passa a ocupar o centro da sala da instituição e o público poderá apenas visualizar o seu dorso.
A concepção da tela “A Má Notícia” é contemporânea à transferência da capital do Estado de Ouro Preto para Belo Horizonte. A partir dessa relação, Ana Raylander propõe em “Museu Mineiro [Sala das Sessões]”, uma reflexão sobre o que ficou à margem do processo de construção da nova capital de Minas Gerais.
Ela resgata, por exemplo, a operação de remoção dos casebres da região onde hoje está localizada a Praça da Liberdade, e reflete sobre esse passado a partir de uma reorganização da Sala das Sessões, com o deslocamento de 24 telas que são exibidas no espaço onde ocorriam as plenárias do Senado Mineiro e eram discutidas as leis propostas e o futuro do Estado.
O projeto é o resultado de oito anos de pesquisa da artista, o qual foi finalizado durante a residência do Bolsa Pampulha e tem como objeto a tela “A Má Notícia”, e o seu contexto histórico amalgamado no processo de construção da cidade de Belo Horizonte, fundada no mesmo ano em que a pintura ficou pronta, em 1897.
Ana Raylander explica que ao deslocar a pintura emblemática para o centro do espaço expositivo, em uma estrutura desenvolvida para a ocasião que permite ver apenas o avesso, busca aproximar o espectador de todo esse processo de pesquisa e investigação realizado desde 2016.
“A estrutura construída para receber ‘A Má Notícia’ impede que o visitante veja a imagem da mulher que chora com uma carta à mão, nos permitindo observar apenas o seu verso”, comenta a artista.
“Através da subtração das demais obras e do convite para olhar ‘A Má Notícia’ pelo avesso, a artista tensiona as narrativas já difundidas em direção a um passado roubado e um presente que é dele herdeiro”, complementa a curadora da exposição, Luiza Marcolino.