Macucultura Vai Difundir Os Saberes Do Povo Quilombola Em Formato Online

” Eu queria ser o Macuco que anda na mata piando. Eu queria ser meu benzinho no terreiro passeando”. Os versos cantados por Elizabethe Rodrigues Costa (67), a Betinha de Menan – Matriarca da Comunidade Quilombola Macuco, Minas Novas – Vale do Jequitinhonha (MG), que leva o nome do pássaro, contam como a sabedoria tradicional está em cada gesto e expressão do seu povo. Betinha sabe que o Macuco, quando canta na mata, não se revela a qualquer um. Só outro, da mesma espécie, conhece sua direção. Na comunidade brotam os versos, ritmos, saberes, sabores e costumes que serão difundidos através do Macucultura – Festival de Artes e Cultura das Comunidades Quilombolas do Vale do Jequitinhonha. 
Este ano, o evento que está em sua quarta edição, acontecerá no formato virtual, por conta do contexto pandêmico. Entre 06 e 12 de junho, os participantes poderão acompanhar diversas apresentações artísticas, oficinas, rodas de conversa e exposições, além de mostras sobre saberes e fazeres do povo quilombola, guardião de tradições seculares. Estruturado para encontrar o público por meio das plataformas online, o Macucultura 2021 deseja estabelecer pontes, diálogos e aproximações com a cultura quilombola sem perder a essência das edições presenciais dos anos anteriores.
Segundo Jussara Costa, idealizadora e coordenadora geral do projeto, as adaptações para o ambiente virtual respeitam as normas sanitárias sem perder a essência. Ela destaca que não é possível replicar o presencial, mas, complementá-lo. “Vamos oferecer algo único de forma a aprofundar a experiência do público, assim dar aquele gostinho do que estará disponível nos próximos eventos”, explica. 
Em 2021, o Macucultura tem produção executiva da Jana Janeiro, sendo fomentado com recursos da LAB – Lei Aldir Blanc de Minas Gerais. Jussara completa que, desta maneira, será possível viabilizar melhor as estratégias de conscientização das riquezas naturais e culturais, a importância da luta por defesa do território. “Toda programação visa ainda a promoção da autoestima das nossas crianças, jovens, adultos e idosos que residem nas comunidades rurais e quilombolas. Na medida do possível vamos buscando capacitações para geração de renda, aliando os novos saberes e técnicas, possibilitando o protagonismo dessas pessoas”, disse. 
 
Histórico
O Macucultura é promovido pela comunidade quilombola Macuco envolvendo inicialmente as comunidades de Gravatá, Mata Dois e Pinheiro, além do Macuco, onde residem ao todo cerca de 500 famílias. Elas integram o município de Minas Novas fazendo parte da Rota dos Quilombos, sendo articuladas por meio da APROMIG – Associação Quilombola dos Moradores e Produtores Rurais das Comunidades de Macuco, Mata-Dois, Pinheiro e Gravatá.
Ao longo dos anos, o festival se consolidou como referência regional e expandiu-se para os municípios vizinhos de Chapada do Norte, Francisco Badaró, Jenipapo de Minas e Berilo. A organização salienta que o Macucultura se expandiu para além de um festival. 
Segundo Jussara, “gerou um forte movimento cultural, ampliado agora pela oportunidade de encontrar públicos e convidados distantes nesta edição virtual”.
Importante destacar que o Macucultura nasceu de uma necessidade de se fazer conhecer um território vivo e valorizá-lo. Neste sentido, seu objetivo é de promover autonomia e emancipação, valorização e salvaguarda dos saberes e fazeres tradicionais, ressaltando o senso de pertencimento às pessoas, enquanto sujeitos quilombolas. O festival presa ainda pelo espaço ambiental e suas potencialidades aliadas à preservação, o protagonismo de sua gente e as iniciativas de defesa dos direitos humanos e justiça social. Para tanto, o Macucultura expressa sua cultura como forma de aproximação, conhecimento, reflexão e ação.

Postado originalmente por: VinTV

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