A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) foi notificada de um caso de brucelose em Juiz de Fora. A doença, transmitida a partir do contato com bovino contaminado, acometeu uma produtora rural do município de Santos Dumont, de 45 anos, que ficou internada na Santa Casa de Misericórdia. Conforme a pasta, o caso evoluiu sem sequelas clínicas, sendo que a produtora teve alta hospitalar para acompanhamento ambulatorial. A SES-MG ainda reforçou que uma investigação está sendo promovida pela Regional de Saúde de Juiz de Fora, com acompanhamento da pasta e do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). Os médicos que atenderam a paciente pretendem instaurar uma força-tarefa na região, juntamente com o IMA e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com objetivo de promover ações para alcançar produtores rurais e impedir novos casos da doença.
Ainda segundo a SES-MG, o caso de brucelose foi confirmado por meio de exame laboratorial realizado no próprio hospital. De acordo com o médico Túlio Vieira Mendes, que também é veterinário e atende a paciente, o tratamento envolveu antibiótico venoso, que agiliza a cura. Ela convivia há pelo menos dois anos com dores articulares, um dos principais sintomas da doença. “Agora nós vamos avaliar o seu marido, para saber se ele foi acometido pela doença, porque ambos são produtores rurais, então tem que ser investigado.”
Diagnóstico
Segundo o médico, a brucelose possui manifestações específicas, como dor no corpo e febre, o que pode ser confundida, muitas vezes, com outras doenças. Por isso, esses sintomas acabam se mantendo por um longo período. Ele explica que a brucelose geralmente afeta grupos específicos, como produtores rurais e veterinários, que possuem contato direto com animais de produção, especialmente bovinos. Porém, é possível contrair a doença por meio da ingestão de alimentos contaminados, como produtos lácteos que não passaram por higienização adequada ou fiscalização.
“Você pode descobrir a doença em 30 anos após ter tido contato com ela, pelo fato de apresentar alterações. Por exemplo, o homem pode ficar estéril. Há também dor articular crônica ou deformidade óssea, mas, como ela demora muito tempo para apresentar isso, acaba que as pessoas não investigam de forma adequada”, explica Mendes. “Ela é uma doença multifacetada, e pode dar desde alteração articular, na coluna ou até uma alteração cardíaca. Ela não vai causar dano logo de imediato, mas pode ser sentida 30 anos depois.”
‘Doença negligenciada’
Desde 2015, até 16 de abril de 2019, a SES-MG recebeu 70 notificações da doença. Em 2018, foram 34 casos, enquanto apenas nos quatro primeiros meses de 2019 já foram 15 notificações da brucelose em Minas Gerais. Por conta do desconhecimento do funcionamento da doença, ela é considerada “negligenciada”, de acordo com o médico e veterinário Túlio Vieira Mendes. Há uma estimativa que a doença afete cinco vezes mais pessoas do que o reconhecido atualmente.
“Ela pode se tornar, em algumas regiões do Brasil, um problema de saúde pública, pelo fato de ser negligenciada. Isso porque é pouco estudada e muito pouco diagnosticada”, explica o médico. “Quando o paciente busca atendimento ele já está há muito tempo reclamando de dor no corpo, nas articulações, e nós vemos isso de forma mais tardia.”
Segundo Mendes, a doença tem cura por meio de antibióticos, entretanto, as alterações ocasionadas no organismo não são revertidas. “Se teve alteração óssea ou reprodutiva, depois que tratou, não volta ao normal. O que está alterado, vai permanecer alterado.”
Força-tarefa
Com o objetivo de promover ações para alcançar produtores rurais, os médicos Túlio Vieira Mendes Guilherme Cortes Fernandes, que acompanha o caso, pretendem promover uma força-tarefa na região da Zona da Mata. Na sexta-feira (10), a equipe se reuniu com integrantes do IMA e da Embrapa para discutir a questão. A meta é promover diagnósticos mais precisos e tratar os pacientes acometidos com a doença, mas que não possuem conhecimento.
“Nós tomamos essa iniciativa de reunir um grupo de pessoas que estuda a doença em todos os seus aspectos, para resolver o problema como um todo. Não adianta tratar a pessoa lá na frente, mas a questão de saúde pública ficar negligenciada”, afirma. “Tem que ter vários órgãos envolvidos para podermos tentar, cada um em sua área de atuação, tomar medidas para que a doença seja contida. Queremos atingir essa questão tanto no aspecto médico quanto sanitário.”