Apesar de relatar abusos, caso só foi investigado quando apareceu outra vítima; 14 anos após o último abuso, ela mesma fez questão de prender fotógrafo que era amigo de seus pais.
Ele era um fotógrafo de 39 anos, casado, apaixonado pela natureza, extremamente falante e muito amigável. Ganhava fácil a confiança daqueles ao seu redor com suas conversas sobre praias, rios e viagens.
A menina e o fotógrafo se viram pela primeira vez no verão de 2002. Tábata* foi estuprada diversas vezes durante dois anos e meio pelo homem, amigo de seus pais. Cerca de 14 anos depois do último abuso, eles se reencontraram.
Quatro anos depois, o processo foi para o Ministério Público, onde a ação ficou mais dois anos parada. Tábata, então, foi pessoalmente à Promotoria perguntar o motivo da estagnação.
“Eu estava conversando com uma assessora do promotor, mas ela não sabia me dizer porque ele não tinha denunciado o caso, quando eu me alterei e passei a levantar a minha voz. Nesse momento, ele (promotor) saiu da sala dele e foi grosseiro comigo. Disse que fazia muito tempo, que não tinha provas e que eu demorei pra denunciar”, conta.
Desta vez, Tábata segurou firme o braço de seu agressor com uma mão enquanto empunhava uma arma com a outra. Ela o conduziu, algemado, até o fundo de uma cela, trancou o xadrez e saiu aliviada, “como se tivesse encerrado um ciclo”. O dia 21 de dezembro de 2016 ficou marcado para a policial civil de Santa Catarina, hoje com 26 anos, como a data em que prendeu o homem que a estuprou na infância.
Em entrevista à BBC Brasil, ela contou a história pela primeira vez a um jornalista. Tábata diz que fez isso para encorajar outras mulheres a denunciar seus agressores. “Denunciar e mexer nisso foi um processo de cura”, diz.
“No dia 22 de dezembro de 2016, pedi apoio, fomos em oito ou dez policiais até que o localizamos e executamos o mandado. Ele estava escondido numa chácara isolada, na beira de um rio. Naquele dia, meu colega fez a revista e a prisão. Mas eu fiz questão de bater a porta da cela, como se fosse para encerrar esse ciclo.”
Menos de um ano depois, no dia 19 de dezembro de 2017, o fotógrafo saiu pela porta da frente do presídio. Devido ao seu bom comportamento e dias descontados por trabalhar na horta e na cozinha do presídio, ele teve sua pena reduzida e hoje está livre.
*A pedido da policial civil, seu nome verdadeiro foi omitido nesta reportagem. O nome do agressor e a cidade onde os abusos aconteceram também foram omitidos para proteger a identidade das vítimas.
fonte: https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/violentada-na-infancia-mulher-vira-policial-e-prende-homem-que-a-estuprou.ghtml
Postado originalmente por: Portal MPA