“Terra Vista da Lua”: mineiro Felipe de Oliveira lança show de seu novo disco em formato audiovisual

Apresentação, que tem direção do artista, traz o conceito estético do disco, inspirado na ficção científica

“Poetas, seresteiros, namorados, correi / É chegada a hora de escrever e cantar / Talvez as derradeiras noites de luar”, canta Gilberto Gil em “Lunik 9”, música lançada à época da chegada do homem à Lua. Gil dizia do desencanto da Lua, que uma vez desbravada não conservaria mais seu mistério para servir de inspiração aos artistas e apaixonados. Observada da Lua, a Terra inaugurou, pois, um ponto de vista que possibilita analisar o seu inteiro, do lado de fora. Por meio dessa reflexão, o cantor e intérprete mineiro Felipe de Oliveira chegou ao título de seu novo álbum, que traz músicas de autores brasileiros de diferentes gerações e trajetórias – entre eles, Gil. Lançado em outubro, “Terra Vista da Lua” agora ganha uma tradução estética – fortemente vinculada ao imaginário da ficção científica – com o show de lançamento, totalmente realizado em formato virtual, que será exibido no canal do artista no YouTube, no dia 25/11, quinta-feira.

Gravado no Teatro Marília, sem público, em função da pandemia da Covid-19, o show apresenta as oito canções do álbum, que traz sobretudo um repertório inédito de autores da nova cena musical brasileira, quase todos conterrâneos e contemporâneos do intérprete mineiro. Entre os compositores locais que figuram na lista estão Nobat, Tátio Abreu e Laura Catarina, filha do cantor Vander Lee. Também há releitura da canção “Balada do Lado Sem Luz”, de Gilberto Gil, que ganhou um lyric vídeo. A apresentação traz o cantor acompanhado por André Milagres (guitarra e violão sete cordas), João Paulo Drumond (bateria e percussões) e Marco Aur (baixo), músicos cuja relação de afeto inscreveu-se no álbum. Bem como no disco, a direção artística é do próprio Felipe de Oliveira, que pensou toda a dramaturgia, cenografia, figurino (em conjunto com Ricardo Melo) e iluminação (com Nando Freitas).

No disco, Felipe dedicou-se às relações de afeto em sua dimensão política, alinhado a um viés anticapitalista e amparado por seus estudos de filosofia e psicanálise sobre o tema – sem ser literal, objetivo ou afirmativo, mas partindo de indagações presentes de forma poética nas canções. Já no show salta aos olhos a “alegoria de ficção lírico-científica”, que traz na metáfora sobre o mundo distópico elementos que nos fazem abordar nossa própria existência de uma maneira mais humana. “No show, essa questão da ficção científica já vem de forma mais explícita. Até na própria cenografia, no figurino, na construção cênica”, afirma o artista, ressaltando que o trabalho foi viabilizado pelo edital “Descentra”, da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.

Além das músicas do disco, o concerto – que foi gravado e mixado por Edgar Dedig, da banda Zimun – conta com releituras de clássicos da canção brasileira, de nomes como Gil, Belchior e Chico Buarque. “Eu acho que é um show trágico, no sentido teatral. Tem uma carga dramatúrgica muito forte. É um show narrativo, que evolui com uma curva dramática, com início, meio e fim”, afirma o artista, que é formado em Cinema. “Penso a música imageticamente. Embora a música seja o carro-chefe do trabalho, ela é indissociável das artes cênicas, das artes visuais e, especialmente, do audiovisual, que me permitiu, por experiência, compor outros traços de expressão para o disco, como os videoclipes”, afirma.

Para o artista, o concerto “Terra Vista da Lua” aguça o trabalho do intérprete, que passa pela voz, mas também por toda uma construção cênica, estética e dramatúrgica. “O intérprete é alguém que joga sua autoria sobre trabalhos de outros compositores e, no show, podemos nos valer de recursos visuais para fazer música, o que também é um braço da criação. Há quase uma performance visual, uma vez que ‘piloto’ três retroprojetores durante a cena”, conta o artista, para quem o ‘ao vivo’ é o ponto de partida. “Em qualquer trabalho, a primeira coisa que eu penso é o show. Sempre roteirizo, penso em luz, cenário e performance antes de gravar o disco. Para mim, tudo começa e termina no show”.

O disco “Terra Vista da Lua”  

Com produção de Barral Lima e viabilizado através da Lei Aldir Blanc e de uma campanha de financiamento coletivo, “Terra Vista da Lua” saiu no dia 8 de outubro deste ano, pelo selo Under Discos. A gravação aconteceu ao vivo no estúdio, com a construção de arranjos feita coletivamente, ao lado dos músicos André Milagres e João Paulo Drumond. Entre as participações especiais, figura a cantora e atriz Laila Garin (protagonista de “Elis, o Musical”) na canção “Encontro Nosso”, composta por Laura Catarina, filha do cantor e compositor Vander Lee. Também há a presença de Babaya Morais no coro da faixa “Irmão”, ao lado de Gabriel Mestro. Já a inédita “Eu Queria Tanto Fazer um Samba” tem letra de Dan Nakagawa, autor recorrente no repertório de Ney Matogrosso.

O segundo disco do artista sucede “Coração Disparado”, que figurou entre os 100 melhores da música brasileira de 2018, pelo site especializado Embrulhador. O projeto circulou por festivais, em cidades do interior de MG e capitais, ao lado de importantes nomes da música brasileira, como João Bosco, Filipe Catto, e Maria Beraldo.

Sobre Felipe de Oliveira

Felipe de Oliveira é um cantor e intérprete mineiro que iniciou sua carreira musical em 2015, após uma trajetória no cinema, área na qual é graduado. O artista vincula a música à herança cênica deixada pela sua passagem pelo audiovisual, bem como à sua experiência com a dança flamenca, construindo shows e álbuns pautados por dramaturgia, narrativa e ritmo. Após participar do The Voice Brasil em 2016, realizou um financiamento coletivo para a produção do primeiro álbum da carreira, que veio em 2018, intitulado “Coração Disparado”. Desde então, usa sua voz andrógina para versar, de maneira política e poética, sobre a mediação das relações humanas contemporâneas.

As informações são de Floriano Comunicação.

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