Leston Júnior deu adeus ao Botafogo-PB na última terça-feira, após pouco mais de oito meses de trabalho em sua primeira passagem no futebol paraibano. Pediu demissão após um tropeço inesperado dentro de casa contra o Globo FC. Não caiu perdendo, nem deixando o Belo em uma situação crítica na Série C do Campeonato Brasileiro. Mas deixou o comando com uma convicção: “Entendi que a perspectiva de sequência não era boa”.
Essa opinião foi o principal motivo para a decisão dele em interromper o seu trabalho no time pessoense. Um dia após o jogo contra o Globo FC, Leston se reuniu com a diretoria e entregou o cargo. De ponto, a cúpula botafoguense aceitou. Sem resistência. Parecia que havia um entendimento entre as duas partes de que o ciclo havia se encerrado.
– A gente tem que ter maturidade para saber quando chega a hora de sair, para preservar o mais importante na vida, que é o respeito, a admiração. Foi uma história bacana, de objetivos conquistados. A minha saída é um momento importante para mim e para o clube. De repente, com outra voz, outro comando, esse time possa retomar a regularidade que teve na maior parte da temporada – analisou.
Aos 39 anos, o mineiro de Divinópolis faz parte da nova geração de técnicos brasileiros. Ativo nas redes sociais, Leston diz também gostar de ler bastante. E fazia recorrentes reflexões em seus perfis digitais, citando várias vezes, por exemplo, o historiador Leandro Karnal e o filósofo Mário Sérgio Cortella.
Em um dos textos que escreveu, Leston falou da cultura do futebol brasileiro no tocante à longevidade dos trabalhos dos treinadores no país. Em entrevista ao GloboEsporte.com, reconheceu que o Botafogo-PB tenta quebrar esse paradigma, mas que as análises sobre os trabalhos precisam ser feitas sempre.
– O Botafogo-PB é realmente um clube que tem essa característica de manutenção (do trabalho), mas isso não pode ser regra. Nem precisa uma cultura que demita com três jogos, nem dá para insistir sempre em um trabalho. É importante fazer análises, ver os contextos, para que todas as decisões sejam com convicção – comentou.
Dentro de campo, Leston Júnior conseguiu alcançar alguns objetivos pelo time da estrela vermelha. O mais importante deles foi o título de campeão paraibano, conquistado em cima do Campinense. Com a taça, Leston conseguiu quebrar um tabu de 14 anos sem um técnico estreante no futebol do estado vencer o estadual. Além do título, conseguiu passar de fase com o Belo na Copa do Nordeste, o que não tinha acontecido ainda após a retomada do Nordestão, em 2013.
Confira outros trechos da entrevista que Leston Júnior concedeu ao GloboEsporte.com:
Relação com o elenco
Não tenho nada a me queixar. Muito pelo contrário. Eu tenho sempre que enaltecer e agradecer esse grupo de atletas. Teve sempre comigo muito carinho e respeito. Sempre se comprometeram e tiveram alto nível de dedicação. Saio querendo o bem deles para que eles possam conseguir o acesso, que continuo torcendo muito.
Decepção
O que mais me desagrada é minha equipe não reproduzir mais um bom futebol, o que aconteceu na maior parte da temporada. E eu não enxergar nesse momento perspectivas de poder fazer melhorar. Por isso é importante alguém que consiga buscar isso.
Queda de rendimento do time
É uma coisa que é normal, esse momento de oscilação. Não dá para fazer uma temporada toda regular. Vai haver uma queda de rendimento. Os adversários passam a ter conhecimento do seu time. É uma série de fatores. O treinador tem que ter discernimento para saber se aquilo que ele tem de conteúdo vai ajudar a conseguir retomar esse caminho. Como diz Mário Cortella, às vezes é necessário produzir um novo olhar e um novo saber.
Houve desgaste com a direção?
Em relação à direção, eu só tenho que agradecer o respeito que essas pessoas tiveram comigo e a autonomia que me deram. Vou levar sempre como pessoas com condutas corretas. Além da gratidão, fica a admiração. Não houve nenhum problema com o corpo diretivo.
Operação Cartola
Meu foco foi sempre manter o trabalho no dia a dia dentro do campo, sempre buscando o melhor para que o rendimento fosse sempre alto. Então nada do mundo externo tirou minha tranquilidade. Penso que meu comportamento no dia a dia demonstrou isso.
Estrutura do Belo
O Botafogo-PB tem as ferramentas para atingir o acesso. Para um clube de Série C, a condição de trabalho é suficiente para brigar pelo acesso sim.
Postado originalmente por: Minas AM/FM