Trafegar pela Avenida dos Andradas em horários de pico – entrada e saída de instituições de ensino – se torna uma tarefa custosa para o juiz-forano. A Tribuna esteve na via em uma quarta-feira (20 de fevereiro), entre 18h e 19h, e observou os problemas enfrentados pela população no local. O trânsito tende a se intensificar nesses períodos de fluxo intenso, ampliando o tempo gasto pelos motoristas, seja seguindo em direção ao Centro da cidade ou a outras regiões cuja via dá acesso, como Norte, Nordeste e Cidade Alta. Os pedestres também passam por dificuldades para atravessar a rua, devendo contar com a disposição de motoristas em parar para que possam atravessar em determinados pontos. Imagens flagradas pela câmera de segurança do Centro de Formação de Condutores Manchester e cedidas à reportagem mostram que, muitas vezes, esses pedestres contam com a sorte, já que, em uma situação ocorrida no dia 18 de fevereiro, uma senhora quase foi atropelada porque um ônibus parou para que ela pudesse seguir seu caminho, mas um carro que passava pela outra faixa na pista não acompanhou a ação do motorista do coletivo.
A via conta com alguns fatores que contribuem para a retenção no tráfego, como a passagem de trem, na interseção com a Rua Mariano Procópio, que prejudica em períodos específicos, e as três instituições de ensino situadas na avenida, que influenciam especialmente em horários de pico.
“A linha férrea retém o fluxo de veículos durante o período que o trem está passando, e, depois, para voltar à normalidade, demora um pouco. Soma-se também a isso colégios e faculdades, que são interferências diretas no trânsito. Horários de entrada e saída são os períodos que temos muita retenção nesta região”, reforça Luiz Antonio Moreira, engenheiro especialista em planejamento de transporte.
A professora Magda de Oliveira Dias costuma trafegar na avenida para levar os filhos em uma escola de idiomas e contou que, nesses períodos, chega a gastar dez minutos de carro do semáforo próximo ao Hemominas até a instituição. O trajeto é de cerca de 250 metros e, caminhando, o tempo gasto aproximado é de três minutos, valor testado pela reportagem. Para o aposentado Grimaldo Coutinho, de 80 anos, a passagem do trem é um dos principais problemas na região. “Poderia melhorar esse trânsito porque está muito complicado.”
Vias não são pensadas para pedestre
Segundo Gabriel Alves Filho, proprietário da autoescola Manchester, a câmera da propriedade registra inúmeras ocorrências semanalmente. O local é de intensa movimentação de pedestres, já que há colégios e banco próximos. Na via, também está localizada a Associação dos Cegos, cujos deficientes visuais costumam priorizar a faixa em frente ao centro de formação de condutor por conta do ponto de ônibus ao lado. Além do flagrante com a senhora que quase foi atropelada ao tentar atravessar a rua, imagens da câmera da autoescola mostraram colisões entre motociclistas e automóveis ao pararem na faixa.
O problema para os pedestres é que avenidas não são pensadas para quem opta por caminhar no Brasil, segundo Luiz Antonio Moreira, engenheiro especialista em planejamento de transporte. As interferências a favor de pedestres são recentes, como as passagens elevadas que forçam os motoristas a reduzir a velocidade. Na Avenida dos Andradas, no entanto, como foi observado pela reportagem, as faixas são planas, e a via conta com poucos semáforos próprios para pedestres. Segundo o especialista, é necessária uma atuação maior de agentes para auxiliar na travessia. “Se o fluxo de pedestre é muito grande, você tem que ter alguém controlando para cuidar dessas questões.”
De acordo com Arthur Clemente, proprietário de uma padaria situada na Avenida dos Andradas, recentemente, foram colocados alertas para presença de pedestres na via, mas os avisos não garantem a segurança de quem precisa atravessar a rua. Conforme observado por Arthur, muitas vezes, os abusos vêm dos próprios pedestres, que não utilizam as faixas, mesmo estando próximos a elas. “Muito pedestre passa fora da faixa. Às vezes, está a cinco passos, mas acha que deve atravessar.”
Transporte coletivo também influencia
Um dos fatores que também interferem no trânsito da Avenida dos Andradas é o transporte público, de acordo com Luiz Antonio Moreira, engenheiro especialista em planejamento de transporte. Para o especialista, a via é um exemplo sobre o quanto o sistema dos ônibus em Juiz de Fora precisa ser repensado. Há uma grande quantidade de coletivos que passam pela Andradas, que serve de acesso do Centro para as regiões Norte, Nordeste e Cidade Alta. “O transporte coletivo em Juiz de Fora já deveria ter sido reestruturado para tirar essa quantidade de ônibus que vem ao Centro da cidade, fazendo terminais de integração”, explica. “É preciso fazer estudos e criar um sistema mais eficaz, mais eficiente e que atenda realmente a população, ao ponto dela se sentir confortável para deixar o veículo em casa e ir de transporte coletivo.”
De acordo com Moreira, o incentivo ao uso do transporte coletivo iria auxiliar no trânsito não só em Juiz de Fora, mas em todo o Brasil. A cidade acompanha uma tendência no país de aumento exponencial na frota de veículos. Há dez anos, em janeiro de 2009, a frota brasileira era composta por cerca de 55 milhões de veículos, enquanto, em janeiro de 2019, o número quase dobrou, quando foram registrados mais de cem milhões. Os dados são do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) que, em Juiz de Fora, apontou mais de 150 mil veículos em janeiro de 2009, e quase 270 mil em janeiro de 2019. O crescimento foi de cerca de 75%.
“É preciso uma campanha de conscientização de mudança de mobilidade para melhorar e incentivar mais o sistema de transporte coletivo, que tem condição de tirar os veículos da rua. Caso contrário, vai ficar cada vez pior, cada vez mais veículos na rua, e o trânsito cada vez mais devagar”, afirma Moreira.
Atuação da Settra
Em nota, a Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) informou que realiza estudos na Avenida dos Andradas, bem como em outros pontos da cidade, tendo em vista melhores condições no trânsito. Porém, conforme o texto, “as dificuldades financeiras enfrentadas pelo município inviabilizam a concretização de projetos neste momento”.
Na região da avenida, bem como em outras, a pasta conta com a atuação dos agentes de trânsito a fim de proporcionar melhor fluidez e segurança no trânsito. “Na região do Colégio Santa Catarina, devido ao intenso fluxo de veículos, o apoio dos agentes acontece de forma constante no auxílio na travessia de pedestres. Esse trabalho também é realizado em outras áreas da cidade.”
Colisões laterais e choques são mais comuns
Dados da Polícia Militar mostram que, até 19 de fevereiro deste ano, foram registradas 18 ocorrências de trânsito na via. Em todo o ano de 2018, foram 131 e, em 2017, 148. Os números apontam que colisões laterais de automóveis e choque são as mais frequentes (ver quadro). De acordo com o sargento Indiomar Marcelo Duarte de Lucas, policial de trânsito, acidentes como os flagrados pela câmera de segurança da autoescola ocorrem pela falta de sinalização dos motoristas. A orientação é fazer o gesto com o braço de que irá parar ou usar o pisca-alerta. “A medida que o motorista parou, seja por um acidente ou para um pedestre atravessar, a sinalização com a mão pelo lado de fora ou ligar o pisca-alerta é muito importante, porque já avisa o motorista que vem de trás a respeito de que, na frente, possa estar acontecendo alguma coisa. A tendência é que o motorista diminua a velocidade do veículo ao ponto de conseguir evitar uma colisão ou atropelamento.”
As colisões laterais ocorrem, especialmente, no acesso da Avenida dos Andradas à Avenida Rio Branco, de acordo com o sargento Lucas. Somado a falta de sinalização, o comportamento equivocado de muitos condutores ao utilizar a faixa à esquerda para realizar conversão à direita, além de não manter uma distância de segurança, são as principais causas das ocorrências registradas. Segundo o policial de trânsito, três fatores devem ser levados em consideração para evitar que acidentes do tipo aconteçam: atenção, sinalização e educação de trânsito. “Isso, no entanto, tem que partir dos dois lados, tanto do motorista quanto do pedestre.”
A imprudência de pedestres e motoristas é observada com frequência por André Luís Betti, proprietário de um Pet Shop localizado na Avenida dos Andradas. Para André, o desrespeito favorece ocorrências frequentes na via, como batidas e engavetamentos
“O problema é que as pessoas não seguem as regras de trânsito. Se seguissem, seria mais fácil, pelo menos para evitar acidente.” André Luís Betti
Projeto de viaduto
No conjunto de intervenções viárias para promover melhorias no tráfego e reduzir as retenções em pontos estratégicos do trânsito de Juiz de Fora, anunciado pela PJF em 2011, a Avenida dos Andradas também seria beneficiada. A ideia era construir um viaduto sobre a Rua Mariano Procópio, que teria o tráfego da rua em direção à avenida. Com isso, era esperada a redução do número de carros na altura do Morro da Glória, que teria o fluxo melhorado, ainda, com o redimensionamento das calçadas.
Em nota, a Settra explicou que os estudos estão sendo realizados pela MRS Logística e que os recursos financeiros serão provenientes do Governo federal. “Tão logo as avaliações e o repasse de verbas sejam concluídos, as obras poderão ser iniciadas, mas ainda não há previsão de quando essas etapas serão finalizadas.”
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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora