A central de atendimento do Consórcio Intermunicipal de Saúde da Região Sudeste (Cisdeste/Samu) atende, diariamente, os chamados de emergência de 94 municípios da região Sudeste de Minas Gerais pelo número 192. Das cerca de mil ligações recebidas por dia, 98 são trotes – cerca de uma a cada 15 minutos. Apesar do número elevado, um levantamento feito pelo consórcio mostra que a quantidade de ocorrências tem diminuído, mas ainda assim configura um grande problema na rotina dos profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
De acordo com os dados levantados pelo Cisdeste/Samu, das 205.025 ligações recebidas no primeiro semestre do ano passado, 35.426 foram trotes, configurando 17% das ocorrências. Já no mesmo período em 2019, foram 180.307 chamadas de emergência, das quais 17.792, quase 10%, caracterizadas como trotes. A redução é gradativa e vem sendo conquistada ao longo dos anos por conta de ações de conscientização destinadas principalmente ao público infantil, como informa o coordenador do Núcleo de Educação Permanente do Samu (NEP), Júlio César de Andrade.
“Há cinco anos, nós fazemos inserções nas escolas dos municípios atendidos pelo consórcio. Nossa ida [aos estabelecimentos] é frequente para conscientização das crianças, envolvendo também os professores. Como parte das ações, levamos jogos e os nossos mascotes, Samusinho, Samusete e o Tio Samuca. A equipe do Samu quando entra nas escolas com os mascotes gera um impacto muito grande.”
O coordenador também destaca as ações destinadas ao grande público, como as promovidas no Maio Amarelo em Juiz de Fora. “Temos feito blitz educativas com frequência. É comum blitz em parceria com a Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Guarda Municipal. Recentemente, fizemos uma caminhada no Maio Amarelo na qual distribuímos muito material.”
Riscos e prejuízos
As atividades de conscientização se justificam quando são analisados os tipos de trotes efetuados. Segundo Júlio, as ligações tem características diferentes, dependendo de quem liga. “Uma é [a ligação] da criança. Se ela ri ou brinca já se caracteriza logo como trote. Outra demanda é a do adulto que articula um plano e evolui na chamada. Ele dá endereço e referências. Esse é o pior tipo de trote.”
Sendo seis pontos de atendimento para atender os mais de 1,6 milhão habitantes abrangidos pelo consórcio, cada ligação estendida desnecessariamente pode custar vidas. “O adulto vai mantendo aquela linha ocupada durante um período e aquele ponto de emergência não pode ser usado para uma emergência real”, complementa.
Quando a finalidade do trote é alcançada, os profissionais do serviço são convencidos de que a ocorrência relatada é real e, como consequência, uma viatura é destacada para o atendimento. “Quando deslocamos uma Unidade de Suporte Avançado (USA), por exemplo, são R$ 300 mil de investimento que estão na rua correndo risco no trânsito e que não pode ser usado para uma ocorrência real”, avalia Júlio. Juiz de Fora possui duas viaturas USA, consideradas UTI móveis, e seis Unidades de Suporte Básico (USB) destinadas a casos de menor complexidade, para cobrir a região.
A situação pode gerar prejuízos ainda maiores quando a falsa denúncia discorre sobre um acidente, podendo destacar efetivo de outras corporações, como explica Júlio, uma vez que a maioria dos deslocamentos requer apenas USB. “Se, por exemplo a ocorrência se tratar de um acidente são deslocadas viaturas do Samu, do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar (PM). Os bombeiros normalmente destacam dois carros, o salvamento e o de apoio. Dado o número de vítimas pode sair até duas viaturas do Samu.”
Sincronia para salvar vidas
Quando uma ligação para o 192 é efetuada em qualquer ponto da região de cobertura do Sisdest/Samu, ela é encaminhada para uma das seis linhas disponíveis na central de atendimento em Juiz de Fora. O atendente realiza então algumas perguntas protocolares que buscam determinar principalmente onde o solicitante está, o que está acontecendo e qual a identificação de quem fala. O processo de triagem pautado nos questionamentos é realizado para determinar o grau da emergência e evitar que uma falsa denúncia seja levada adiante.
“Fazemos uma série de perguntas, confirmamos o endereço mais de uma vez, pois, às vezes, a pessoa que efetua o trote cai em contradição”, explica o atendente do Samu Márcio Henrique da Silva Pinto. A rotina de trabalho que consiste em ouvir relatos de emergência e dar encaminhamento às ocorrências é complexa e lidar com falsas situações de risco acabam por dificultar o trabalho destes profissionais, como relata Márcio. “A questão mais grave é ocupar a linha e enviar o recurso para uma ocorrência falsa. Os trotes estressam. É um absurdo, pois este é um telefone de atendimento de urgência e emergência que pode salvar várias vidas, e a pessoa ignora isso.”
Após esse processo de triagem, se constatada uma situação real de risco, a ligação é encaminhada para um dos médicos reguladores da central. Estes profissionais são os responsáveis por dar orientações de primeiros socorros ao solicitante quando há possibilidade, como, por exemplo, nas situações em que a vítima está engasgada ou precisa de algum medicamento específico. Após realizado o diagnóstico, cabe ao médico fazer o pedido de liberação da ambulância para outros profissionais que regulam as saídas das viaturas das 25 bases da macrorregião Sudeste de Minas Gerais.
Trote é crime
De acordo com o artigo 266 do Código Penal brasileiro, interromper, perturbar, impedir ou dificultar o restabelecimento de serviço telefônico é crime, tendo como pena prevista detenção de um a três anos, além de multa. A pena pode ser dobrada caso o trote seja realizado em situação de calamidade pública.
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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora