Residencial para idosos de JF concentra 7 mortes por Covid-19

Uma instituição de longa permanência para idosos (ILPI) de Juiz de Fora concentra 18% das 38 mortes já confirmadas na cidade em decorrência do novo coronavírus (Covid-19). Todos os sete óbitos de pessoas que estavam morando no residencial geriátrico particular do Bairro Santa Teresa, o Residencial Geriátrico de Apoio à Pessoa Idosa (Regapi), localizado na Zona Sudeste da cidade, ocorreram no mês de maio, segundo informações da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). O Município acompanha a situação, por meio do Departamento de Vigilância Epidemiológica e Ambiental (Dvea), que acionou a fiscalização da Vigilância Sanitária e passou a verificar semanalmente os relatórios das 22 ILPIs em funcionamento na cidade, a maioria delas privada. A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG) também foi notificada.

Conforme a PJF, a suspeita é de que o vírus tenha chegado à casa de repouso por meio de um cuidador, que também trabalha em um hospital particular e testou positivo para a doença. Além das mortes, o surto ainda levou pelo menos mais dois pacientes à hospitalização e deixou infectada boa parte dos 26 moradores da unidade, segundo a Prefeitura. Procurada pela Tribuna, nesta segunda-feira (8), a direção do residencial preferiu não se pronunciar sobre o assunto. A PJF ressaltou que, até esta data, nenhuma outra ILPI da cidade apresentou casos de Covid-19. Segundo o Executivo municipal, a unidade afetada pela contaminação seguiu as orientações e tomou todas as providências necessárias.

Os idosos que faleceram chegaram a ser hospitalizados, mas não resistiram. Segundo a PJF, as vítimas são quatro homens e três mulheres, todos com idades entre 72 e 93 anos. Familiares de algumas das vítimas entraram em contato com a Tribuna na última semana.

Eles preferiram não se identificar, mas relataram os óbitos de pessoas que estiveram hospedadas na unidade. Um parente considerou se tratar de uma fatalidade, já que a instituição parecia cumprir com todos os protocolos necessários para garantir a integridade e saúde dos idosos em meio à pandemia. Em sua página na internet, o residencial informou, em meados de março, ter suspendido as visitas “visando prevenir que o vírus chegue aos hóspedes”. Em contrapartida, incentivou o entretenimento interno dos residentes “durante esse período atípico, buscando meios de diminuir a distância e a saudade entre os mesmos, seus familiares e amigos”. Já no fim de março, a direção reiterou no site os cuidados: “Estamos constantemente atentos aos novos dados e orientações do Ministério da Saúde e da Vigilância Sanitária.”

O subsecretário de Vigilância em Saúde de Juiz de Fora, Ivander Mattos Vieira, lembrou que, ainda em meados de março, o Departamento de Vigilância Sanitária se reuniu com representantes de todas as ILPIs da cidade. A ação foi realizada em parceria com o Ministério Público (MP), com o objetivo de orientar sobre o manejo adequado dos idosos, se fosse necessário em algum momento. Segundo a Secretaria de Saúde, nesse sentido, estão o isolamento de casos suspeitos e/ou confirmados dentro da unidade e a verificação da possibilidade da recondução do morador com sintomas para a família, em caráter provisório. Além disso, as ILPIs foram orientadas a afastar do trabalho os profissionais que apresentassem sintomas da Covid-19. “Existe um trabalho de alguns anos, feito com o MP, formalizando e monitorando esses estabelecimentos, onde a população é de alto risco, muito vulnerável a algumas patologias, como no caso do Covid”, destacou Ivander.

Cuidador infectado é possível transmissor

Ainda de acordo com o subsecretário de Vigilância em Saúde, Ivander Mattos Vieira, concomitantemente com a notificação dos primeiros casos no residencial geriátrico, chegou a comunicação, proveniente de um hospital privado, referente a um funcionário, que estava contaminado e que também atuava como cuidador na mesma instituição de longa permanência para idosos (ILPI) onde houve o surto. “Fizemos um levantamento para tentar rastrear o caso zero, o agente contaminante, e chegamos ao cuidador, que já está bem e recuperado.”

Conforme o subsecretário, todos os cerca de dez pacientes que precisaram de internação, inclusive os sete que acabaram falecendo, foram testados e tiveram resultado positivo para o novo coronavírus. Segundo ele, a UFJF também testou por amostragem os demais moradores do residencial. “Os internados foram obrigatoriamente testados. Além deles, mais quatro (residentes) foram testados, em um segundo momento, e também positivaram. A partir daí, foi realizada a avaliação dos demais, que apresentavam sintomas, e concluíram, por confirmação epidemiológica, que todos estavam (contaminados).”

O surto foi constatado em meados de maio e, desde então, várias diretrizes foram colocadas em prática, tanto pela ILPI, quanto pela PJF. “Todos (os hóspedes) tinham algum sintoma, leve ou que não demandava hospitalização. Houve orientação de isolamento para os idosos. Alguns até retornaram para as suas residências, aos cuidados de seus familiares. E houve afastamento de cuidador que apresentou sintomas. A instituição adotou todas as medidas necessárias”, enfatizou Ivander.

Monitoramento semanal

O subsecretário reforçou que se trata de um surto, ao qual estão sujeitas qualquer instituição de ILPI ou de outro tipo que tenha aglomeração, como presídios e centros para acautelamento de menores infratores. “Houve todo comprometimento por parte da direção da instituição. Isso mostra o quanto fragilizada é essa população. Todos os que faleceram estavam acima dos 70 anos. É a população mais vulnerável e que, normalmente, já tem comorbidade associada. A manifestação do coronavírus é muito determinante, e a letalidade, muito alta. Por isso, a necessidade dos cuidados para prevenir essa transmissão.”

A partir do surto de Covid-19 na ILPI do Santa Teresa, a Subsecretaria de Vigilância em Saúde também adotou mudanças, como o monitoramento semanal de todas as instituições. “Temos feito desde a última semana de maio. Antes, era trimestral. Todas as instituições apresentam planilha, com dados tanto dos residentes, quanto dos cuidadores, com todo tipo de informação: se alguém teve sintomas ou não, se houve internação ou óbito, independente se por Covid. Estamos monitorando de maneira mais intensa exatamente por causa dessa situação (do surto) e vamos monitorar até termos segurança em relação ao Covid”, garantiu Ivander.

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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