Quase um século: como o rádio se manteve erguido com o passar do tempo

Por meio da adaptabilidade, o veículo de comunicação sobreviveu à chegada de novas mídias

O rádio é um dos veículos de comunicação que mais se adaptou à chegada de novas tecnologias. Não é à toa que ele se tornou multiplataformas e ocupa diversos espaços. Porém, essa característica não é novidade na história do veículo, que revela ao longo tempo estar sempre pronto para enfrentar mudanças.

“A internet reforçou e sublinhou características que o rádio já possuía. Por exemplo, a interatividade. Antes, a interatividade se dava majoritariamente por cartas ou telefonemas. Esses meios continuam, mas hoje se usa muito mais WhatsApp e redes sociais. O rádio é um meio segmentado por natureza, a quantidade de emissoras disponível é enorme, então cada emissora vai se especializando. E, com a internet, essa quantidade se amplia ainda mais, o que vai dando mais opções para o ouvinte e também para o anunciante”, explica o professor e consultor de rádio, Fernando Morgado.

Para o também professor e radialista Getúlio Neuremberg, o veículo tem demonstrado fácil adaptabilidade desde a sua criação.  “A primeira transformação tecnológica aconteceu com o rádio no final da década de 40 com a invenção do transistor, que foi a mudança dos transmissores, a válvula para um sistema transistorizado. Isso já revolucionou o rádio, mas logo em seguida veio a televisão, que foi um grande desafio.”

Na década de 50, muitas pessoas acreditavam que o rádio iria acabar devido à chegada da televisão. “Mas ele se redescobriu, se reergueu, procurando saber qual é realmente a sua vocação, que é a prestação de serviço, a conversa, a companhia, é o som. O som que é invisível, onipresente, que está em toda a parte”, completou Getúlio.

Sobre o transistor, Morgado explica que a tecnologia transformou o rádio no primeiro meio eletrônico do mundo. “O veículo saiu da sala de estar e passou a ser ouvido em todos os lugares. As pessoas puderam passar a levar o rádio consigo e isso forçou que as emissoras mudassem também as suas programações, sendo mais dinâmicas. Depois veio o FM, com uma melhor qualidade de som, com sinal muito mais robusto. Isso também permitiu que o rádio se aprofundasse, por exemplo, na segmentação. O veículo sempre responde as novidades e até se antecipa muita vezes a ela.”

Conforme Morgado, esses discursos de que o rádio vai deixar de existir não são aprofundados em sua história, que mostra resistência e superação diante de novidades e possíveis ameaças.

“Algumas poucas pessoas ainda insistem nessa história de que o rádio vai acabar. Isso é um absurdo, porque a própria história do rádio prova que toda vez que um meio novo chegou, ele se adaptou e, por isso, permaneceu. O rádio é um meio muito dinâmico”, enfatiza Morgado.

O rádio é um veículo que sobreviveu ao tempo e segue sendo atual apesar da chegada de diferentes mídias. O veículo trouxe esses novos formatos para dentro da emissora, por meio de uma estrutura montada pensando além do áudio ou de uma programação diferenciada.

“Hoje você pode ouvir o rádio não só nos aparelhos tradicionais, mas também no computador, no tablet, no celular, em uma smart Tv e no youtube. Então não vai faltar lugar e condições para cada pessoa ouvir rádio a sua maneira, onde e quando quiser”, destaca Getúlio.

Ainda de acordo com Morgado, o rádio seguirá se adaptando e sua simplicidade é um dos seus principais diferenciais. “Independentemente do que venha, o rádio vai se adaptar e, além dessa resiliência que é natural do meio, é importante salientar que um atributo que justifica exatamente essa capacidade de regeneração é a simplicidade. Isso é fabuloso, num mundo confuso, caótica, poluído, como esse que a gente vive, ser simples é o maior atributo que se pode alcançar. E pra fazer rádio você precisa basicamente de quatro coisas: voz, música, efeitos e silêncio. São coisas, portanto, acessíveis.” Ele acredita que a evolução tecnológica tem como objetivo tornar a vida das pessoas mais simples e que o rádio representa bem esse papel.

Rádio, um exemplo para TV

O consultor de rádio revela que muitos discursos sobre o final da televisão, que completou 70 anos em 2021, têm ganhado notoriedade após expansão do streaming. Assim como ocorreu com o rádio, questionamentos sobre o encerramento do veículo também vem sendo levantados.

“Olhem o exemplo do rádio. É nesse exemplo que a televisão tem que se inspirar, porque a televisão é filha do rádio. O modelo de negócio da televisão, especialmente da aberta, veio do rádio, a tecnologia também é toda baseada no rádio, então quer dizer que um está ali ligado com o outro”, aconselha.

Para Morgado, esse exemplo mostra o quanto à imagem do meio rádio tem sido valorizada. “É muito bom observar essa mudança da imagem do meio, de um meio que tinha o futuro questionado, pra um momento como hoje que o rádio é visto como um bom exemplo de sobrevivência, de resistência e de permanência na área da comunicação, mesmo diante de tanta concorrência.”

Primeira transmissão de rádio no Brasil

O rádio celebra 99 anos no próximo dia 25 de setembro. O dia foi escolhido em comemoração à primeira transmissão radiofônica no âmbito legal no país, realizada em setembro de 1922, quando ocorria o centenário da Independência Brasileira. A data foi criada em homenagem a Edgard Roquette-Pinto, que nasceu neste dia e é considerado o “Pai do Rádio Brasileiro”.

Porém, os professores Fernando Morgado e Getúlio Neuremberg lembram que o rádio profissional iniciou no Brasil em 1919, sendo pioneiro em relação aos Estados Unidos, que obteve o feito em 1920. A primeira transmissão oficial foi realizada pela Rádio Clube de Pernambuco, emissora fundada em 6 de abril de 1919 pelo radiotelegrafista Antônio Joaquim Pereira. Desta forma, o rádio soma até mais de 100 anos.

 

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emily

 

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