O uso excessivo de telas durante a pandemia é o principal responsável pelo agravamento de algumas condições oculares em crianças e adolescentes
Os casos de crianças e adolescentes com miopia, estrabismo, cansaço visual e espasmo de acomodação (pseudomiopia) aumentaram no último ano. O motivo é quase óbvio: tempo demais em frente a telas e dispositivos eletrônicos.
De acordo com uma pesquisa norte-americana, realizada pela SuperAwesome, as crianças de 6 a 12 anos têm gastado mais de 50% do tempo nos dispositivos eletrônicos. Embora a pesquisa tenha sido local, a realidade no Brasil não é muito diferente.
Segundo a oftalmopediatra Dra. Marcela Barreira, especialista em estrabismo, o uso de celulares, tablets e computadores exige muito da visão de perto.
“Além de usar mais a visão de perto que a de longe, vivemos um momento em que é necessário ficar mais tempo dentro de casa. Com isso, as atividades ao ar livre ficaram ainda mais restritas, a escola se tornou remota e o lazer virtual. Todos esses fatores prejudicam a visão de longe”.
O aumento de casos de miopia não é algo novo. Segundo um estudo, em 2050 mais da metade da população mundial será míope. Os fatores de risco mais importantes, apontados por diversos estudos ao redor do mundo, são exatamente o uso prolongado de dispositivos eletrônicos e a redução de atividades ao ar livre.
Estrabismo repentino
Outra condição ocular que se tornou muito frequente é o estrabismo convergente adquirido.
“Esse desvio costuma aparecer em crianças mais velhas e adolescentes, além de surgir de forma súbita. Tenho recebido muitos casos desse tipo de estrabismo”, explica Dra. Marcela.
Falsa miopia
Outra condição cada vez mais prevalente é o espasmo de acomodação. Trata-se de um tipo de contração excessiva dos músculos oculares responsáveis pela acomodação visual, necessária para dar o foco nas imagens captadas.
“A criança força demais o olho para enxergar de perto. Por tempo prolongado e frequente, isso sobrecarrega os músculos, causando uma espécie de “cãibra”. Quando esse esforço é feito por muito tempo, pode levar a dificuldades para enxergar de longe e dor de cabeça”, comenta Dra. Marcela.
Cansaço visual precoce
Em adultos, o cansaço visual é algo corriqueiro, principalmente naqueles que trabalham o dia todo no computador.
“Mas, antes da pandemia, isso não era algo que afetasse as crianças e adolescentes. Agora, é muito frequente queixas de cansaço visual, cefaleia, visão embaçada e olho seco”, cita Dra. Marcela.
Condições podem ser definitivas
O estrabismo adquirido pode ser revertido. Mas, em alguns casos, apenas a cirurgia de correção resolve o desvio.
A pseudomiopia, inicialmente, é tratada com colírios. Mas, pode se tornar uma miopia de fato, cujo tratamento é feito com o uso de óculos ou lentes de contato.
Mudança de hábitos
As principais recomendações da oftalmopediatra são reduzir ao máximo a exposição de crianças e adolescentes aos dispositivos e promover atividades ao ar livre, se possível todos os dias.
“A exposição aos raios solares estimula a produção da dopamina, um neurotransmissor que previne que o olho cresça alongado. O alongamento do olho leva à distorção do foco de luz que entra no globo ocular. Essa alteração anatômica é uma das causas da miopia”.
Portanto, quanto mais tempo gasto em ambientes ao ar livre, menor o risco de desenvolver miopia. Para quem já tem o diagnóstico, a exposição aos raios solares pode evitar a progressão do grau.
Além desse aspecto, ambientes amplos e externos exigem o uso da visão de longe, que precisa ser estimulada tanto quanto a visão de perto. Isso também vai ajudar na prevenção do estrabismo e do espasmo de acomodação, bem como tende a melhorar o cansaço visual.
Uso de telas deve ser restrito
Segundo as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatra (SBP) e da Organização Mundial da Saúde (OMS):
- Crianças de até 2 anos de idade não devem ser expostas a telas, de nenhuma maneira
- Entre 2 e 5 anos, o uso de telas não deve ultrapassar 1 hora por dia
- Crianças de 6 a 10 anos podem usar os dispositivos eletrônicos até 2 horas por dia
- Para a faixa etária 11 a 18 anos, o uso deve ser limitado a 3 horas por dia
“Cada família tem a sua realidade e deve refletir sobre o que é possível. Além disso, como muitos alunos ainda se encontram no ensino remoto, o uso dos dispositivos pode superar o tempo recomendado”, diz Dra. Marcela.
Nesses casos, o ideal é propor atividades fora das telas para as crianças e adolescentes, desde que respeite os protocolos de segurança, como evitar aglomerações e usar máscara facial.
“Vale lembrar que a televisão pode ser um recurso importante para substituir as telas. Mas, é preciso uma boa distância para usar a visão de longe. Ou seja, não adianta a criança ficar muito próxima do aparelho”, ressalta a especialista.
“Por último, precisamos levar em conta que há outros prejuízos para a saúde relacionados ao uso excessivo de eletrônicos, bem como do tempo prolongado dentro de casa. Portanto, é preciso que os pais busquem criar uma rotina mais saudável que possa prevenir essas condições oculares, bem como promover a saúde de forma global”, conclui Dra. Marcela.
Por: Leda Sangiorgio – Assessoria de Imprensa da Agência Health