A chuva e o calor, tradicionais desta época do ano, trazem atenção especial a pragas que se proliferam em ambiente urbano. Basta uma janela aberta entre o final da tarde e início da noite para o mosquito Culex quinquefaciatus, espécie mais comum de pernilongo, invadir residências – mesmos em apartamentos de andares superiores -, podendo transportar vírus e bactérias através das picadas em seres humanos. Pois, além da preocupação com as doenças próprias dos pernilongos, a presença maciça também pode significar ambiente favorável ao aparecimento do Aedes aegypti, vetor da dengue, zika e chikungunya que deixou Juiz de Fora em estado de alerta durante todo o ano.
Conforme o professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Juiz de Fora (ICB/UFJF), Fábio Prezoto, especialista em comportamento de insetos, os ciclos de vida do Culex e do Aedes são semelhantes, bem como os fatores que estimulam seus surgimentos. “Tanto o pernilongo quanto o Aedes se favorecem da temperatura elevada e da água. A princípio, se as condições estão favoráveis para esse grupo (pernilongos), também estão favoráveis ao mosquito da dengue”, explicou. Ainda segundo ele, o período de calor, presente desde as últimas semanas em Juiz de Fora, eleva a quantidade de criadouros e potencializa a velocidade de desenvolvimento dos insetos, que podem surgir em até uma semana após as chuvas, de acordo com o pesquisador.
O Departamento de Vigilância Epidemiológica e Ambiental (Dvea) da Prefeitura, em nota, informou que não existe controle do Culex quinquefasciatus na cidade, salientando as diferenças “do ponto de vista da saúde pública” entre o pernilongo doméstico e o Aedes aegypti. “No Brasil, a espécie (Culex) é responsável pela transmissão da filariose (popularmente conhecida como elefantíase), cuja incidência tem reduzido nas últimas décadas, e de algumas arboviroses com baixa prevalência no país. Tais arboviroses, no momento, não ocorrem no estado de Minas Gerais.”
O Departamento também destacou as distinções entre o período de atividades e os locais de reprodução das espécies. Enquanto o vetor da dengue tem maior atividade durante o dia e se reproduz em água limpa, os pernilongos utilizam água suja para o desenvolvimento e se manifestam, principalmente, durante a noite. “Estes hábitos distintos impactam na forma de controle dos mesmos”, concluiu.
Doenças transportadas
O Culex, por si só, pode inspirar preocupação. Além de atrapalhar o sono – os mosquitos são atraídos pelo gás carbônico emitido durante a respiração, daí o tradicional zumbido -, o inseto também pode carregar bactérias de pele que entram no organismo ao coçar a mancha decorrente da picada. Crianças alérgicas estão especialmente vulneráveis, podendo acarretar em bolinhas vermelhas por todo o corpo.
Prevenção aos mosquitos
O método ideal para combater os mosquitos, segundo o pesquisador Fábio Prezoto, é evitar o nascimento tendo atenção a locais que acumulam água. “É bem possível, fácil e é o menos custoso”, afirma o professor. No entanto, para proteger as pessoas de insetos que já estão no interior das residências, o melhor a se fazer é utilizar métodos físicos, como as raquetes e mosquiteiros, para impedir que os pernilongos entrem em contato com as pessoas. Os cuidados devem ser tomados principalmente durante o período noturno.
Os repelentes também são populares entre os consumidores, mas devem inspirar preocupação, pois podem ser maléficos a pessoas, animais e insetos importantes para o ciclo biológico. “Os inseticidas não são específicos para os pernilongos e podem atuar sobre outros grupos de insetos. São muitos os danos que eles podem provocar devido a sua utilização, não só comprometendo o bem-estar humano. Uma saída tem que ser vista com muita cautela”, pontua Prezoto.
Conforme o pesquisador, outra consequência possível ao uso indiscriminado de produtos químicos é a criação de uma geração de insetos resistentes aos inseticidas. Em drogarias, no entanto, consumidores podem ter instruções – mesmo que básicas – sobre as compras realizadas e as contraindicações, de acordo com Fábio.
Mercado
Concomitantemente com a alta nas temperaturas e o aparecimento de pernilongos, aquece o mercado de produtos de combate aos insetos urbanos. Em uma caminhada entre o Calçadão da Rua Halfeld e a Rua Marechal Deodoro, mais de dez comerciantes, entre ambulantes avulsos e donos de barracas, se dedicam à venda de raquetes elétricas, atraindo os consumidores com o tradicional som de estalo produzido pelas ferramentas, que são vendidas entre R$ 10 e R$ 20, dependendo do vendedor e da capacidade de argumentação dos compradores.
“No período de verão, as vendas das raquetes são melhores, chego a vender umas 40 raquetes por dia”, disse Cristiano Coelho, proprietário de comércio na Marechal há quatro anos. A tendência, segundo o vendedor, é que o mercado permaneça movimentado durante o verão. “Nós vendemos só durante essa época do ano, quando os pernilongos aparecem muito. Até levei uma raquete para a minha casa, para conseguir matar os mosquitos”, relatou a também comerciante Dandara Lodgero, que também estimou as vendas em até 40 peças diárias.
A preocupação da vendedora está em sintonia com a demanda dos consumidores. O oficial de justiça Claudio Moura contou que, mesmo morando em apartamento, está difícil conter a proliferação dos mosquitos. “A minha casa está infestada de pernilongos. Até o quinto andar do prédio há moradores reclamando comigo. Mesmo aqueles protetores líquidos não estão dando conta, você tem que jogar um veneno, fechar o cômodo e ainda assim eles incomodam”, lamentou Moura. “Eu tenho filho pequeno, então temos que nos precaver”.
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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora
