Por toda parte a cidade de São João del-Rei tem sua história contada por meio da arte, principalmente através da cultura religiosa. E por causa disso, no ano de 2003 foi solicitada a retomada da portada que fazia parte da Igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos por meio de uma carta escrita pelo então presidente do Instituto Histórico e Geográfico (IHG) de São João, José Antônio Ávila. A portada fazia parte da igreja que foi demolida ilegalmente em 1970 e foi requerida ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Para que a portada retornasse foi elaborado um processo judicial. O caso só foi encerrado no dia 27 de fevereiro desse ano e a peça se encontra exposta no Museu de Arte Sacra.
O monumento, tombado pelo IPHAN possui aproximadamente 6 metros de altura por 3 metros de largura, confeccionado em pedra-sabão entalhada. Foi vendido de maneira indevida ao banqueiro Mário Pimenta por 5 mil cruzeiros, cerca de R$ 4 mil reais, no mesmo ano de demolição da Igreja. A obra foi posta irregularmente em frente à uma capela erguida na propriedade do comprador, na Fazenda São Martinho da Esperança, zona rural da cidade de Campinas no estado de São Paulo. Para o historiador e membro do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural da cidade, José Antônio Ávila, a importância da portada se baseia “na religiosidade, no patrimônio histórico e arquitetônico e também na memória da cidade, sobretudo para a história do bairro de Matosinhos que viu a igreja ser criminosamente demolida”, comenta. Inicialmente o local que deveria receber a portada em sua volta seria o adro da Igreja de Matosinhos, lugar em que estaria próxima ao seu espaço original e que foi estipulado em processo. “Conversei durante o curso da causa com o Padre José Bittar e consegui convencê-lo de que a portada deveria ser reinstalada, quando voltasse, no adro da igreja, porém estranhamente ela foi realocada no Museu de Arte Sacra, sendo que seu lugar deveria ser no bairro Matosinhos, mais próximo do local primitivo”, relata José Antônio.
NOVO ABRIGO
O Ministério Público Federal foi acionado pelo Secretário de Cultura de São João, Marcus Fróis, e lhe foi informado de que existia a possibilidade de se fazer um acordo com a pessoa que estava com o bem em São Paulo, que já tinha sido processada pelo Ministério Público pela posse ilegal da portada. A questão estava presa em cima de um custo de R$ 60 mil para a vinda do patrimônio para sua cidade natal, mas o município não poderia arcar com esse custo. A solução proposta foi um o acordo de que o processo não seria tocado se os custos do transporte fossem assumidos pela pessoa de posse da portada. O negócio foi fechado e decidida a sua volta. Logo após a decisão de que o patrimônio retornaria para a cidade foi exigido à Secretaria de Cultura um projeto que estipulasse o melhor local para abrigar a obra.
“Eu sabendo das reuniões anteriores, constadas em atas, já sabia que a portada deveria ir para o Matosinhos, então procurei o Padre Bittar que me informou que não seria mais possível colocar a portada no adro da igreja devido a uma reforma feita e também a falta de segurança no santuário, que já sofreu invasões. O IPHAN me exigiu cuidado com a peça, não seria possível colocar do lado de fora da igreja. Foi pedido a mim ainda, que fosse rápido na decisão para não criar problemas com a justiça, então comecei a procura por museus. Verifiquei a possibilidade do Museu Regional abrigar, mas não foi viável, foi aí que surgiu a ideia de levar para o Museu de Arte Sacra, local que possui muitas peças que estão no mesmo seguimento significativo da portada. Fui testemunha da luta para que o patrimônio fosse para o Matosinhos, mas definitivamente não foi possível”, esclarece Marcus.
O projeto foi autorizado no Conselho de Patrimônio e no IPHAN e por ordem judicial a portada foi novamente abrigada em São João del-Rei. “O momento agora é de festejarmos a vinda dessa portada, São João del-Rei está dando uma demonstração para o estado, para o Brasil e para o mundo de que o que é nosso nós vamos atrás, nem que demore 50 anos para resgatar.
A importância dessa portada ter vindo para a cidade vai muito além do local em que ela se encontra”, comenta Fróis. Até o fechamento desta edição, em 14 de março, não foi possível o contato com o Pároco da Igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, a respeito de sua posição sobre o local em que a portada deve ficar exposta.
Postado originalmente por: Gazeta de São João del Rei