O que você precisa saber sobre os coágulos associados a vacinas

Desde que surgiram as primeiras notícias sobre um novo efeito colateral raro da vacina contra covid-19 da AstraZeneca, formação de coágulos, muitas pessoas estão hesitantes em receber o imunizante.

Nesta semana, agências de saúde dos Estados Unidos também relacionaram casos raros de coágulos relacionados à vacina da Johnson & Johnson, que utiliza a mesma tecnologia — vetor viral de adenovírus.

Por ser uma reação adversa que não surgiu nos estudos, pesquisadores dos Estados Unidos e Europa estão em busca de respostas.

Mesmo assim, não há contraindicação porque os benefícios do imunizante em um momento de pandemia como este superam os riscos.

O que aconteceu

Os primeiros casos envolvendo a vacina da AstraZeneca foram reportados na Europa entre o fim de fevereiro e começo de março.

Alguns países chegaram a suspender a aplicação do imunizante até que se investigasse os acontecimentos.

Na semana passada, a EMA (Agência Europeia de Medicamentos) confirmou que os coágulos eram efeitos colaterais da vacina e forneceu mais informações.

O Comitê de Avaliação de Risco de Farmacovigilância da agência observou “que os coágulos sanguíneos ocorreram nas veias do cérebro (trombose do seio venoso cerebral, TSVC), no abdômen (trombose da veia esplâncnica) e nas artérias, juntamente com níveis baixos de plaquetas sanguíneas e por vezes hemorragia”.

Foram analisados 62 casos de trombose do seio venoso cerebral e 24 casos de trombose da veia esplâncnica, dos quais 18 foram fatais.

O órgão salienta que os casos ocorreram principalmente no Reino Unido, onde cerca de 25 milhões de pessoas já receberam o imunizante.

“Uma explicação plausível para a combinação de coágulos sanguíneos e plaquetas sanguíneas baixas é uma resposta imunológica, levando a uma condição semelhante à observada algumas vezes em pacientes tratados com heparina (trombocitopenia induzida por heparina, HIT)”, diz a EMA ao reforçar que mais estudos são necessários para entender a origem dos coágulos.

Nos Estados Unidos, a FDA (agência reguladora de medicamentos) e o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) recomendaram a suspensão temporária, por precaução, do uso da vacina da Johnson & Johnson após seis mulheres com idades entre 18 e 48 anos apresentarem quadros de trombose do seio venoso cerebral combinado com níveis baixos de plaquetas sanguíneas (trombocitopenia).

“O tratamento desse tipo específico de coágulo sanguíneo é diferente do tratamento que normalmente pode ser administrado. Normalmente, um anticoagulante chamado heparina é usado para tratar coágulos sanguíneos. Nesse cenário, a administração de heparina pode ser perigosa”, diz uma nota conjunta das duas agências em 13 de abril.

Os Estados Unidos já aplicaram mais de 6,8 milhões de doses da vacina da Johnson & Johnson.

Coágulos podem se formar por várias causas

A hematologista Elisabetta Colombo, do Núcleo de Hemorragia e Trombose do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, explica que há dois tipos de trombose, que é quando um coágulo obstrui um vaso sanguíneo.

Os mais comuns são os arteriais: infarto agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral isquêmico. Os casos envolvendo as vacinas foram de trombose venosa.

“A trombose venosa é o mesmo processo, é oclusão de um vaso sanguíneo por um coágulo de sangue. Mas é uma veia, não uma artéria. É aquilo que a gente observa, por exemplo, em situações de imobilização prolongada: uma viagem aérea de longa extensão, quando o paciente fica mais imóvel; eventualmente, após uma cirurgia; ou um paciente que está internado na UTI com uma infecção grave. Todos são fatores de risco para trombose venosa”, diz a médica.

Ela acrescenta que a própria covid-19 é uma doença que causa trombose em alguns pacientes, embora o percentual possa variar de acordo com a população.

O angiologista e cirurgião vascular Bonno van Bellen, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, ressalta que o tipo de trombose mais comum é o das veias das penas.

“A gente pode ter trombose com muito mais frequência do que se pensa. Nos EUA, a morte [por trombose] é de 100 mil a 300 mil pessoas por ano. São tromboses principalmente nas veias da perna, diferentes do que estão acontecendo com as vacinas. É por isso que existe essa preocupação para tentar detectar o porquê das coisas.”

Quais são os riscos?

É fundamental entender que os eventos trombóticos associados às vacinas da AstraZeneca e da Johnson & Johnson estão sendo tratados pelas agências reguladoras como “muito raros”.

Um estudo realizado por pesquisadores do Reino Unido mostrou que ocorreram, em média, cinco casos de TSVC (trombose do seio venoso cerebral) associados à vacina da AstraZeneca por 1 milhão de pessoas que receberam a injeção.

Em pacientes com covid-19, descobriu-se que o mesmo tipo de trombose ocorrem em 39 pessoas a cada 1 milhão. Ou seja, não tomar a vacina pode significar um risco muito maior.

Elisabetta observa que aumento das chances de desenvolver trombose também ocorre por outras razões.

“Uma mulher que toma pílula anticoncepcional, a gente sabe que o risco trombótico agregado a essa medicação é de 500 a 1.200 casos em 1 milhão de mulheres, entre 0,05% e 0,12%. Tabagistas, mais ou menos 1.700 casos de trombose para cada 1 milhão, 0,18%. Esses números nos informam que o risco trombótico agregado à vacina da AstraZeneca é muito pequeno, e menor ainda se comparado a demais fatores de risco, como tabagismo; uso de terapia hormonal, que pode ser uma reposição hormonal ou uso da pílula anticoncepcional; da trombose relacionada à covid; de um paciente, por exemplo, após uma cirurgia ortopédica; a própria gestação.”

Van Bellen destaca que os coágulos causados pelos anticoncepcionais e pelo tabaco ocorrem principalmente nas pernas e podem se desfazer sozinhos. Mas se houver um deslocamento para o pulmão, provocam embolia pulmonar.

A trombose do seio venoso cerebral tem uma incidência de três a quatro casos por 1 milhão de habitantes, afetando principalmente jovens e crianças — não se sabe por qual motivo. Portanto, os casos ocorridos com as vacinas não estão muito acima do que já se observa na população geral.

“A combinação relatada de coágulos sanguíneos e plaquetas sanguíneas baixas é muito rara, e os benefícios gerais da vacina na prevenção da covid-19 superam os riscos de efeitos colaterais”, destaca a EMA em nota.

Anvisa monitora eventos adversos

No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) solicitou à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), detentora dos direitos comerciais da vacina no país, que inclua na bula o risco do desenvolvimento de coágulos.

“Anvisa fez a inclusão na lista de eventos adversos da vacina da AstraZeneca da casos muito raros de formação de coágulos sanguíneos associados à trombocitopenia – diminuição do número de plaquetas (fragmentos de células que ajudam a coagular o sangue)”, diz a agência.

Até 7 de abril, haviam sido notificados 47 casos suspeitos de eventos tromboembólicos, sendo apenas um associado à trombocitopenia, em um universo de 4 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca aplicadas até aquela data.

Até agora, não houve nenhuma morte associada ao imunizante no país, sublinha o órgão regulador. “Os dados relativos à vacinação indicam que esta é a estratégia fundamental para contenção da pandemia”, afirma em nota.

Os médicos compartilham da mesma opinião. Van Bellen participou de reuniões com a Anvisa para discutir o tema.

“A Anvisa está muito atenta a isso. Sábado passado, a recomendação dos médicos à Anvisa foi de manter o uso da vacina no Brasil porque os casos foram muito raros.”

A médica do Sírio-Libanês lembra que o monitoramento de efeitos adversos é feito pela Anvisa e por agências ao redor do mundo “com todo tipo de medicação que chega às prateleiras das farmácias”.

“A população precisa saber, precisa ter acesso a essa informação. Mas a contrapartida é a gente olhar isso com apuro científico, olhar as estatísticas para dar o devido peso a essas informações.”

Ao que se atentar

A Agência Europeia de Medicamentos orienta a população que tenha tomado a vacina da AstraZeneca a ficar atenta a sintomas que podem indicar um evento trombótico em até duas semanas após a injeção.

São eles:

• Falta de ar
• Dor no peito
• Inchaço na perna
• Dor abdominal persistente
• Sintomas neurológicos, incluindo dores de cabeça graves e persistentes ou visão turva
• Pequenas manchas de sangue sob a pele além do local da injeção

Nestes casos, é importante procurar atendimento médico e informar a data da aplicação da vacina. Vale destacar que são mais raras ainda as mortes na Europa por trombose associada à vacina: 18, entre mais de 34 milhões de vacinados.

 

Fonte: R7

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Postado originalmente por: Portal Onda Sul – Carmo do Rio Claro

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