Números contabilizados por hospitais reforçam suspeita de subnotificação

A ausência de testagem em massa, como ocorre em alguns países, e a defasagem na divulgação oficial dos casos de coronavírus (Covid-19), confirmados e suspeitos, podem estar levando uma falsa sensação de tranquilidade para a população, já que muita gente, inclusive pessoas idosas, continua sendo vista nas ruas de Juiz de Fora. Mesmo com o evidente atraso nos números contabilizados pelo Estado, nesta sexta-feira (20) o boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) apontou um total de 62 casos, sendo cinco confirmados e 57 suspeitos, praticamente o dobro do dia anterior. No entanto, o número de pessoas infectadas ou com sintomas da doença pode ser maior, já que hospitais da cidade têm recebido pacientes com quadros suspeitos de coronavírus.

É o caso da Santa Casa de Misericórdia, que, até esta sexta, já quantificava o atendimento a 31 pessoas que procuraram atendimento com suspeita de infecção pela Covid-19 nos últimos oito dias. Dois pacientes estão internados em leitos isolados e outros dois no CTI exclusivo para aqueles com sintomas da doença. Os demais estão em tratamento em suas residências. Um dos casos foi confirmado, mas o enfermo está em isolamento domiciliar e evoluindo bem. Já conforme boletim divulgado pelo Monte Sinai nesta sexta, há seis pacientes internados, sendo um positivo para coronavírus e cinco suspeitos. Três deles estão em UTI. Ou seja, somente nesses dois hospitais, já são 35 casos em investigação e dois confirmados, enquanto um terceiro, também positivo para Covid-19, está se recuperando no Hospital Unimed. Ele está em leito de isolamento, após ter recebido alta da UTI na última quarta.

Um exemplo evidente de atraso nos dados do Estado é Barbacena. Como os números são divulgados no site da Prefeitura, a diferença fica visível. Enquanto o Município contabilizou 41 casos em investigação e dois descartados até a última quinta-feira (20), a SES informou, no mesmo dia, 16 suspeitos, sem sequer descartar os dois citados. Já nesta sexta, Barbacena evoluiu para 47 em investigação, enquanto a SES divulgou 39. A secretária de Saúde, Marcilene Araújo, disse que a Vigilância Epidemiológica está trabalhando com outros setores e recebendo apoio de vários órgãos, como Polícia Militar e Samu. Apesar de estarem sendo disponibilizados pelo Estado kits para testagem, de dez em dez, a Prefeitura depende de medicamentos e equipamentos para tratar os casos graves. Os pacientes estão espalhados pelos quatro hospitais da cidade, incluindo uma criança. Também há um homem, com quadro considerado delicado, no Hospital Regional Doutor João Penido, em Juiz de Fora. “O Município, através de recursos próprios, tem tentado fazer o melhor, até que os kits para o tratamento dos pacientes internados cheguem”, afirmou a secretária.

Em Juiz de Fora, a Santa Casa reservou, há oito dias, uma recepção de sua emergência exclusivamente para atendimento de pacientes com sintomas. De forma geral, no entanto, o comparecimento de pessoas na emergência diminuiu, segundo a assessoria do hospital. Já no Monte Sinai, que adotou divisão do fluxo esta semana, por meio de separação entre os dois prédios, com entradas independentes para suspeitas de Covid-19 ou não, também percebeu queda no volume de atendimentos. Na comparação de março com o mesmo período de janeiro, a redução chega a 15%.

Isolamento

“A orientação seria mesmo fazer a testagem geral, mas não vai ter como, o Ministério da Saúde já se posicionou que não tem, pela escassez de recursos. Estão restringindo para os casos graves a realização do teste diagnóstico”, explicou o infectologista Guilherme Côrtes. Ele alerta que, independente disso, qualquer pessoa com sintoma respiratório, como resfriado e gripe, deve se considerar como caso suspeito na situação atual. “Temos que ressaltar sempre a questão do isolamento, para as pessoas ficarem em casa, principalmente se tiverem sintomas, aí não tem dúvida. Ou se tiverem contato com pessoa com sintoma.” A regra geral é que todos devem manter o distanciamento social e, sempre que possível, o isolamento. “Quando tiver sintoma, não deve procurar atendimento médico, só caso a pessoa estiver mais cansada, com falta de ar”, finalizou o médico.

Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informou que a Fundação Ezequiel Dias (Funed) deu início à realização do exame para identificação da Covid-19 no dia 12 de março e explicou o motivo da demora dos resultados. “A Funed recebe amostras biológicas de todos os municípios do estado, das unidades de atendimento de saúde, sejam elas públicas ou privadas. Até o dia 19, mais de 1.800 amostras deram entrada na Funed. Dessas, cerca de 1.300 estão em análise ou já foram processadas, e as demais estão em processo de triagem.”

Para agilizar o processo, foram habilitados pela Funed os laboratórios Hermes Pardini, Fleury e Álvaro. “A divulgação de resultados e fechamento de casos é de responsabilidade dos gestores da Secretaria de Estado de Saúde. A Funed não divulga dados laboratoriais.”

Ainda conforme a SES, há variação no tempo de liberação de resultados, segundo demanda. “Hoje (20), as amostras, os exames e os resultados estão sendo recebidos, conferidos, processados e liberados no sistema entre 48 e 72 horas, a partir da entrada das amostras na Funed.” Segundo a SES, a fundação ainda está dentro de sua capacidade produtiva, mas em caso de crescimento exponencial da Covid-19, o que é bem provável, conforme especialistas, estão sendo estabelecidas parcerias com outros laboratórios públicos.

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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