Número de infectados pode ser mais de dez vezes o oficial, afirma médico

Em entrevista à Rádio CBN Juiz de Fora na manhã desta terça-feira (24), o médico infectologista Guilherme Côrtes abordou, entre diversos assuntos envolvendo o novo coronavírus, a subnotificação de casos. De acordo com o especialista, o quantitativo real de juiz-foranos infectados pode ser mais de dez vezes acima do notificado pelos órgãos oficiais, sobretudo por conta da dificuldade nacional em realizar testagens em larga escala. Até o último boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES/MG), o município contava com oito casos confirmados e 73 suspeitos para a doença Covid-19.

Conforme o especialista, a falta de testes impede o sistema de saúde brasileiro de seguir plenamente as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS). O resultado, como consequência, é a subnotificação e a circulação do vírus com menor controle do poder público. “Como tem poucos testes, a gente não consegue fazê-los das formas orientadas pela OMS, então vamos ter subnotificação. Nós sabemos de casos circulando, mas não temos informações epidemiológicas”, explica Côrtes.

O teste feito para diagnosticar a presença do novo coronavírus é de fácil execução, segundo o médico, mas os resultados são demorados, por conta da necessidade de envio para outras cidades para a análise laboratorial. Desta forma, o poder público precisa tomar medidas de contenção à proliferação antes mesmo das confirmações oficiais, com ações como o decreto de transmissão comunitária em todo o país, feito pelo Ministério da Saúde na última semana.

“A literatura está sugerindo que, em lugares onde há mais testagens, o número real de casos é cerca de dez a 15 vezes maior em relação ao divulgado. Se a gente está em um cenário de escassez de testagens, o número real é muito maior do que o divulgado. A gente pode dizer que, talvez, tenhamos dez ou até mais de dez vezes do que os (casos) confirmados”, afirma Guilherme Côrtes, também lembrando que a maioria dos casos – cerca de 85%, conforme o Ministério da Saúde – é assintomática e não aparece nas estatísticas oficiais.

A compra de dez milhões de testes rápidos, anunciada pelo Governo federal há dois dias mas ainda sem data para ocorrer, tem potencial para diminuir significativamente a diferença entre o quantitativo real de infecção e os dados oficiais em todo o território nacional. “Com a escassez de testes, há uma orientação para que apenas os casos graves tenham coleta. Quando a gente faz dessa forma, só vemos a ponta do iceberg”, analisa.

Situação atual de Juiz de Fora
Na visão de Côrtes, Juiz de Fora está em processo de intensificação das medidas de controle à pandemia, sejam em iniciativas do poder público ou de entidades e pessoas privadas. “Estamos em um momento de intensificar as ações de isolamento por um lado e intensificar a rede de ações para o combate, ações comunitárias para manter a nossa população saudável física e psicologicamente para o enfrentamento”, salienta. Para o especialista, as últimas semanas foram de conscientização da população, observadas pela notória diminuição na circulação de pessoas nos espaços públicos, ainda que algumas insistam em transitar pela cidade.

Outro fator que merece atenção é a procura inadequada pelas unidades de saúde. De acordo com o médico, ainda há pessoas recorrendo aos hospitais sem a necessidade de atendimento urgente, o que pode influenciar na quebra do sistema de saúde. “É importante fortalecer as informações das pessoas, para que, sem sintomas graves, não procurem a emergência. Apesar de haver uma demanda crescente, o sistema de saúde ainda não estourou. A expectativa do Ministério é que em meados de abril a gente tenha uma saturação”, alerta.

Enfrentamento comunitário
Mais um ponto destacado por Côrtes foi a necessidade de se combater o coronavírus em todas as camadas sociais. “A gente respira o mesmo ar, independentemente de nível socioeconômico, e o vírus é veiculado por esse ar. Mesmo pessoas com grande acesso (aos serviços de saúde) já morreram por essa epidemia”, lembra. “(Cerca de) 70% da população brasileira não têm acesso a saúde privada ou têm condições menores de acesso. Temos que intensificar as ações para o atendimento de 100% da população, porque o vírus vai impactar toda as pessoas, inclusive nas nossas comunidades.”

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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