Neste 1º de maio, consultor e sindicalista avaliam mudanças no mercado de trabalho

Bruna LageDesde o início do isolamento social, diversas empresas adotaram o trabalho remoto Trabalhar em casa, por meio de aplicativos ou mesmo por conta própria. Desde o início do isolamento social – iniciado no mês de março – e do fechamento do comércio, muitos brasileiros se viram num cenário desconhecido e desafiador. Não estar no espaço físico da siderúrgica, do veículo de comunicação ou mesmo atender o cliente da loja de roupas e calçados, via mídias sociais, passou a ser a forma com que alguns mantiveram sua produção e também a quarentena, proposta pelas autoridades da área da saúde.Geógrafo e consultor sobre mercado de trabalho, William Passos relata que tem constatado mudanças e novos comportamentos nesse período. “Nesse momento de pandemia, para quem ainda está empregado, tem crescido e aprofundado a digitalização, a virtualização e o trabalho remoto ou teletrabalho, também conhecido aqui no Brasil. Do lado da massa desempregada, o tradicional trabalho autônomo informal, muitas vezes, ganha a forma da ‘uberização’, com o uso de aplicativos e do WhatsApp para a compra de produtos e a contratação de serviços”, destaca.Ele acrescenta que empresas, no entanto, também têm embarcado na onda da uberização como estratégia de sobrevivência. Tanto setores que já trabalhavam dessa forma quanto setores que ainda não faziam uso dessa ferramenta têm experimentado, com a maior intensidade possível, a venda por sites, aplicativos e WhatsApp. “Supermercados, farmácias, lanchonetes, pizzarias, lojas de roupas, calçados, colchões e até cursinhos, têm apostado na uberização como forma de sobrevivência. A educação à distância tem obtido um ambiente propício à ampliação e experimentação. A uberização reduz sensivelmente os custos operacionais”, detalha.Questionado se a pandemia pode mudar a forma como o trabalhador é visto pelo empregador e também pelo mercado, o consultor é categórico ao dizer que sim, ela pode alterar radicalmente as relações de trabalho, na medida em que empregadores dos setores mais informatizados e digitalizados ampliam a percepção de que o trabalho remoto reduz sensivelmente os custos operacionais de uma empresa. “Com o funcionário em casa, o empregador economiza água, luz e internet. Dependendo da atividade, pode ficar mais barato dar o computador e a internet para o funcionário trabalhar em casa. Ao mesmo tempo, o pós-pandemia pode ampliar a terceirização e até quarteirização já em curso. Quarteirização é quando o terceirizado terceiriza novamente algum serviço. Junto com a reforma trabalhista aprovado no governo Temer e ampliada neste, as relações de trabalho podem ficar ainda piores e os salários, mais baixos”, prevê.UberizaçãoSobre a tão falada uberização, William Passos pondera que ela, na verdade, já é uma tendência. “Recentemente, saiu uma decisão judicial proibindo a uberização de professores. O mercado sempre avança no sentido de redução de custos. A digitalização fornece uma possibilidade fantástica de redução desses custos. Hoje em dia, é possível abrir uma loja virtual, fazer propaganda dela na internet e se comunicar com os consumidores por WhatsApp, apresentando um custo operacional zero. Há até bancos operando nesta lógica, os bancos digitais”, lembra.Sindicalista classifica pandemia como momento para repensar Se os perfis, do trabalhador e das relações de trabalho mudaram, a forma de assegurar seus direitos também. A presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) regional Vale do Aço, Cida Lima, recorda que desde que assumiu a gestão tem discutido sobre os informais e aqueles que atuam por meio de aplicativos.“E agora a pandemia nos impôs essa situação, a luta fica desigual, porque não podemos ir para a rua. A cada dia tem uma Medida Provisória diferente, impondo dificuldades aos trabalhadores. Mas falando sobre essa mudança de perfil, acredito que tem de ter uma nova forma de diálogo. O coronavírus vem nos fazer repensar, vamos conviver com as consequências econômicas, afetivas, mas precisamos repensar nossas práticas pessoas e na defesa da classe trabalhadora”, vislumbra.Cida Lima pondera que ainda não sabe qual o caminho para esse novo momento, mas que a palavra de ordem atualmente é solidariedade. “Precisamos amparar essas pessoas que não estão conseguindo tirar seu sustento como sempre fizeram, em razão do isolamento social. A CUT tem realizado, em âmbito nacional, campanhas solidárias e medidas protetivas. No Vale do Aço estamos engajados e lançamos plataformas neste sentido. Defendemos o isolamento e também que o governo garanta às pessoas a sobrevivência, o estado maior deve garantir isso”, defende.

Postado originalmente por: Diário do Aço

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