Quatro dias depois de protestarem contra os altos preços do combustível nos postos de Juiz de Fora, motoristas de aplicativo voltaram às ruas em novo manifesto. Dessa vez, com mais motoristas adeptos ao movimento, os cerca de 130 carros partiram da Praça Agassis, no Manoel Honório, região Leste, por volta das 13h e colocaram fim ao movimento quatro horas depois. Como parte do protesto, motoristas de aplicativo abasteceram no crédito apenas R$ 1 de gasolina ou etanol em diferentes postos.
A categoria afirma que, em Juiz de Fora, o preço do combustível chega a ser até R$ 1 mais caro ante as cidades vizinhas, como Santos Dumont, por exemplo. A Tribuna já havia mostrado que, apesar de a redução de preço acumulada entre janeiro e março deste ano chegar a 30% para a gasolina nas refinarias, os juiz-foranos ainda não sentiram a queda efetiva nas bombas. A Agência de Proteção e Defesa do Consumidor de Juiz de Fora (Procon), entretanto, garante que os fiscais já estão nas ruas para investigar possível prática de preço abusivo.
Último levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) aponta que, entre os dias 22 e 28 de março, o preço médio da gasolina ao consumidor em Juiz de Fora era de R$ 4,794, sendo que o da distribuidora era de R$ 4,113. O etanol, de acordo com o levantamento, era de R$ 3,591 para o consumidor e de R$ 2,913 para a distribuidora.
À Tribuna, o presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativos (AmoAplic/JF), Júlio César Peixe, voltou a cobrar ações de fiscalização do Procon. Ele lembra que, mesmo que o custo junto às refinarias tenha reduzido, os preços continuam os mesmos nos postos. “Temos percebido essa situação há cerca de quarenta dias. Nas cidades vizinhas, o litro do etanol é vendido a R$ 2,36, R$ 2,54, já a gasolina está em R$ 3,99. Nós não aceitamos isso mais. A categoria acordou. Estamos todos vivendo essa epidemia, muitos profissionais em casa. Carregávamos 30 a 40 passageiros e hoje carregamos dez e, por isso, não estamos conseguindo nos manter. O preço médio do etanol em Juiz de Fora é R$ 3,57, R$ 3,59. A gasolina está R$ 4,86, R$ 4,89”, afirmou. Ele acrescentou ainda que o combustível é uma parte importante no gasto mensal, que representa cerca de 45%. “Muitos ainda têm carros alugados ou estão quitando os veículos, precisam sustentar suas famílias e não estão conseguindo. O combustível é nosso grande vilão”, asseverou.
Em meio as denúncias da AmoAplic/JF, a Tribuna solicitou posicionamento do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Minas Gerais (Minaspetro), entretanto, até a publicação desta reportagem, a entidade não havia dado retorno. No início da semana, quando houve a primeira manifestação, o Minaspetro explicou que a entidade não tem ingerência sobre a política de preços nas bombas e, portanto, os estabelecimentos têm liberdade para definir os valores a serem cobrados conforme os custos da cadeia produtiva. Por meio de nota, o sindicato esclareceu que não faz, junto aos postos, “pesquisas de preço, estoque, volume de compra ou qualquer outra informação de cunho comercial, e não existe tabelamento no setor, portanto o mercado de combustíveis é livre”.
Procon aciona Ministério Público
O superintendente do Procon, Eduardo Schröder, garantiu que o órgão tem realizado fiscalizações desde a última semana e tem conversado com o sindicato a fim de entender o motivo de que, apesar das sucessivas quedas nas refinarias, o preço não chega mais baixo para o consumidor final. “Nós combinamos com o Ministério Público (MP) de fazer verificações por amostragem destes repasses de preços, coletando notas fiscais de venda e de compra para ter ideia da margem de lucro. Com base nesses dados, o MP fará verificações mais apuradas se achar que esta margem está acima da média.”
A verificação será feita em parceria com a Secretaria de Estado da Fazenda e, conforme Schröder, são inúmeras as avaliações para chegar a este cálculo. “Entendemos a necessidade dos trabalhadores e, na segunda-feira, teremos dados mais precisos para apresentar ao sindicato sobre essa primeira amostragem”, garantiu o superintendente. Ele acrescentou ainda que, após o início das verificações por parte do Procon, alguns estabelecimentos já apresentaram queda no preço do combustível. A meta do órgão de defesa do consumidor é fiscalizar todos os 127 estabelecimentos em funcionamento na cidade. Caso seja atestada abusividade, o Procon irá atuar junto aos postos. “Precisamos da colaboração dos proprietários destes postos neste momento de pandemia”, finalizou.
Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora