Categoria marca posição contra aumentos no valor dos combustíveis e cobra reajuste nas tarifas dos aplicativos de delivery
Dezenas de motoentregadores realizaram, na manhã desta terça-feira (29), manifestação contra os recorrentes aumentos nos valores dos combustíveis. A mobilização teve início na Rua Coronel Vidal, no Bairro Mariano Procópio, na Zona Nordeste de Juiz de Fora, e passou por ruas da região central da cidade. A categoria cobra, também, reajuste nas tarifas repassadas pelos aplicativos de delivery aos trabalhadores.
Os motoentregadores fizeram concentração na Rua Coronel Vidal, reunindo cerca de 50 motociclistas. Do local, os trabalhadores partiram para o Centro, com paralisação simbólica em um posto de combustível, onde vários motociclistas abasteceram R$ 0,50 de gasolina. Durante a maior parte do trajeto, as motos deixaram livre uma das faixas das ruas, permitindo a continuidade do fluxo de veículos. No Mergulhão da Avenida Rio Branco, os manifestantes paralisaram a pista de descida por alguns minutos e fizeram buzinaço.
Os protestantes permaneceram por mais alguns minutos no Parque Halfeld e, em seguida, partiram em direção ao Carrefour, onde os motociclistas se dispersaram. Um carro com equipamento de som acompanhou todo o trajeto, que também foi escoltado por veículos da Polícia Militar e por agentes de trânsito da Secretaria de Mobilidade Urbana.
A organização do protesto estima em sete mil o total de motoboys e motogirls da cidade. Entretanto, a mobilização de grande parte dos motociclistas em torno da causa é tratada como difícil pela categoria. “Embora a gente se encontre o tempo todo, fazer esse movimento significa sentar, conversar, trocar ideia com a pessoa. Grande parte teme manifestações desse tipo, que possa acontecer alguma confusão ou que a pauta não combine com o que ela pense, individualmente”, diz Nicolas Souza Santos, motoboy e um dos organizadores do movimento.
De acordo com o manifestante, a categoria conseguiu contato com o iFood, uma das principais plataformas de delivery que operam atualmente, mas a empresa não estabelece uma negociação. Segundo ele, a plataforma aumentou a taxa mínima de R$ 5,31 para R$ 6; e o valor do quilômetro rodado de R$ 1 para R$ 1,50. No entanto, as mudanças são tratadas como insuficientes. “No quilômetro rodado, é 50% de aumento, mas há dois anos atrás a gente pedia R$ 2 por quilômetro. Eles deram aumento de 50% num momento em que o acumulado (do aumento) já passa disso no período em que a gente pede esse reajuste”, diz Santos, que critica as demais plataformas de entrega pela falta de diálogo com a categoria.
Mobilização nacional
O protesto dos motociclistas segue calendário nacional de mobilizações, que prevê atos em diversas cidades brasileiras ao longo desta terça. Os pontos centrais da categoria são os preços dos combustíveis, marcando posição contrária à política de paridade internacional de valores da Petrobras, e a cobrança pelo aumento dos preços repassados a motoristas e motoboys pela prestação de serviço de frete e de transporte individual de passageiros por aplicativos.
“A luta, hoje, é para correr atrás de melhores taxas, de combustíveis mais baratos e ter dignidade. Nós não estamos sendo respeitados nem pela comunidade, e nem pelos empresários e empregadores”, diz Fabrício de Souza Cortes, um dos manifestantes. Os entregadores também reivindicam melhoria na pavimentação das vias juiz-foranas e que os clientes passem a buscar as entregas na portaria dos prédios, não mais nos apartamentos.
A alta no preço dos combustíveis e dos demais derivados do petróleo foi especialmente sentida nos últimos meses. Segundo a Petrobras, o aumento aconteceu sobretudo pela valorização do barril de petróleo no mercado internacional na esteira do conflito entre Rússia e Ucrânia, em território europeu. O efeito foi sentido nos postos juiz-foranos, com o litro de gasolina chegando a custar R$ 7,779 até o último levantamento da Agência Nacional do Petróleo (ANP), realizado entre o dia 20 de março e a última sexta-feira (26).
“Não só motoboy deveria estar aqui hoje, mas toda a sociedade. Está todo mundo sofrendo com essa alta, só que quem sofre mais é o trabalhador. A gente, que trabalha e precisa colocar gasolina na moto, passa aperto”, diz Cortes, lembrando também do efeito cascata da alta dos combustíveis na inflação. Segundo ele, alguns motociclistas chegam a trabalhar por 12 horas consecutivas para conseguir arrecadar até R$ 100 pelo dia trabalhado.
Ifood alega mudanças
Por meio de nota encaminhada à reportagem na segunda-feira, o iFood afirmou que respeita o direito de manifestação. A plataforma relatou ainda que mantém o compromisso de diálogo aberto com os entregadores para buscar melhorias e oportunidades para os profissionais como também para todo o ecossistema. “Desde o início da pandemia, o iFood já investiu mais de R$ 160 milhões em iniciativas de apoio aos entregadores”, diz a plataforma. A empresa também lembrou do reajuste nas tarifas por quilômetro rodado e a taxa mínima, “além de mudanças na comunicação sobre a sinalização de causas de restrição, ativação e desativação da plataforma. Vale mencionar ainda os reajustes da taxa mínima e quilômetro percorrido em 2021, a criação de código de validação da entrega e seguros contra acidentes pessoais, lesão temporária”, diz.
As informações são do portal Tribuna de Minas, associado AMIRT.
Foto: Gabriel Silva