Minas tem superávit de 140.319 empregos

A geração de empregos em Minas vem mantendo um ritmo estável desde fevereiro. No primeiro semestre, foram criados 140.319 postos de trabalho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Previdência. Este é o saldo entre 1.262.941 admissões e 1.123.622 demissões nos primeiros seis meses do ano.

Prejudicado pelas restrições da pandemia, o setor de serviços é o grande beneficiado pela reabertura da economia. Tradicionalmente o que mais emprega, foi também o que mais criou oportunidades de trabalho, com a geração de 77.358 vagas. A indústria teve um saldo de 25.984; a construção civil, 14.316; o comércio, 1.204; e a agropecuária, 21.457.

“Os resultados vêm surpreendendo e superando as expectativas do mercado. A volta dos serviços de alojamento, alimentação, lazer, turismo, impactaram expressivamente o saldo do Caged. Eles puxaram os números à medida em que voltavam à atividade”, observa o analista de Estudos Econômicos da Fiemg Walter Horta.

Ele cita ainda a reabertura das escolas e faculdades como fator para um impacto expressivo nos números. “Não é só a volta do trabalho presencial de professores. É preciso uma equipe para a escola funcionar, gente do suporte de TI, da limpeza, entre vários serviços”, ressalta.

Horta destaca ainda o papel da indústria no aquecimento do mercado de trabalho, em especial a de alimentos e de vestuário. “As pessoas voltaram a sair, a frequentar eventos e, com isso, a comprar roupas e sapatos. O comércio, com os auxílios do governo, pode acelerar a geração de vagas ao longo do ano, mas é preciso olhar com cuidado para o setor, que sofreu um impacto estrutural ao longo da pandemia, quando muita gente passou a comprar pela internet”.

Junho

Em junho, foram criados 31.092 postos de trabalho, 1.166 a mais do que maio. Ao todo, o mercado de trabalho mineiro teve no mês 211.383 admissões e 180.291 demissões. O setor de serviços mais uma vez puxou o desempenho, com 10.485 novas vagas, seguido pela agropecuária, que gerou 7.125 empregos no Estado.

A geração de empregos na área rural dá uma ideia da importância da cafeicultura para a economia do Estado. Ao todo, 5.569 dos novos postos de trabalho na agropecuária estão ligados à colheita do café, que, bienalmente, tem um volume maior. “Esta é uma característica da cultura do café no nosso Estado. Nos anos pares, a produção aumenta e demanda mais gente para a colheita”, destaca Horta.

Os saldos do mês e do semestre são menores que os do ano passado nos mesmos períodos. Em junho de 2021, foram criados 35.399 novos empregos e, no primeiro semestre, 178.753, contra 31.092 e 140.319 este ano.

“No ano passado, nós tivemos o início da reabertura e a base de comparação, o início da pandemia, era muito fraca, com um espaço muito maior para a recuperação do mercado de trabalho”, diz o analista da Fiemg. Ele avalia ainda um outro número, o de demissões, que, tanto em junho quanto no primeiro semestre de 2022, é maior.

“Ano passado, as pessoas voltaram ao mercado de trabalho para recompor renda e aceitavam qualquer vaga. Como está mais fácil encontrar emprego, elas se tornam mais seletivas e buscam empregos que atendam a seus anseios. Muita gente se demitiu até por reação à volta ao trabalho presencial”, comentou.

Horta acredita que o contexto macroeconômico e em especial a taxa de juros têm um impacto negativo no mercado de trabalho, que está sendo compensado pelas medidas do governo de estímulo à economia, como os auxílios e adiantamentos. “A gente tem que observar este cenário com certa cautela, afinal eles são temporários. A grande pergunta fica para 2023: uma vez retirados esses estímulos, como a economia e, consequentemente, o mercado de trabalho irão se comportar?”, pergunta.

Perda de aceleração

Para o economista Paulo Bretas, coordenador da seção mineira da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (Abed-MG), a economia segue criando empregos formais, mas está perdendo aceleração.

“São dois efeitos combinados: a retomada pós-Covid e as liberações de recursos do governo, mantendo um mínimo de aquecimento”, afirma Bretas, que alerta: “Temos uma política econômica esquizofrênica de relaxamento fiscal e aperto monetário, que, em algum momento, vai ter uma freada, porque o governo não vai dar conta de seguir ampliando gastos e cortando impostos”.

Neste contexto, a taxa de desemprego caiu abaixo de 10%, mas, segundo o economista, os empregos gerados são de baixa qualificação. “Trata-se de um problema que vai se tornando estrutural na economia brasileira. Estamos desindustrializando, dependentes de commodities agrícolas e minerais. Quando o setor mais avançado gera empregos, têm dificuldades para encontrar mão de obra qualificada”, diz. “E, com a crise na China, a recessão técnica nos EUA e problemas na Europa, a expectativa é que até o setor exportador comece a ter problemas”, completa.

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