Manual didático ajuda idosos no uso do aparelho celular

A partir das dificuldades apresentadas por uma idosa, que é atendida pelo Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) do município de Argirita, a psicóloga juiz-forana Hellen Amaral Rodrigues criou um manual para ajudar os mais velhos a usarem o celular e já está recebendo demandas de todo do Brasil. “Essa senhora se sentia envergonhada por não saber mexer no aparelho que havia acabado de ganhar”, conta a profissional, que também é pós-graduanda em Vulnerabilidade Social. Diante da queixa da idosa, Hellen decidiu que poderia tomar alguma atitude a fim de mudar aquela realidade, que é muito comum entre as pessoas que cresceram antes de o celular ter se tornado um dos principais meios de comunicação entre os indivíduos, propiciando a difusão de informações.

“No CRAS, o nosso princípio é trabalhar com a assistência para a família ou para a pessoa ao invés do assistencialismo. Nesse sentido, para que eu pudesse dar a ela a autonomia de aprender, pensei na confecção do manual”, afirma a psicóloga. Segundo ela, a confecção foi um processo divertido e gostoso. “Quando pensei em fazer o manual não me passava pela cabeça algumas coisas que acabei colocando nele posteriormente, e outras que ainda vou colocar”, diz Hellen, acrescentando que a realização do manual durou três dias. “Eu ia me divertindo, procurando fazer os desenhos dos ícones, já que sou psicóloga e não uma exímia desenhista”, conta, entre risos, ressaltando que procurou uma linguagem que não fosse técnica. “Queria que fosse amorosa, acolhedora e paciente. Que a pessoa que lesse pudesse sentir nas páginas que o processo de aprendizagem se daria no tempo dela.”

A profissional perguntou à senhora que apresentou a demanda os seus gostos, quais aplicativos gostaria mais de aprender e o que mais gostaria de saber usar no celular. “A partir disso, pedi que ela trouxesse o aparelho no dia da entrega do manual e arrumei o menu principal exatamente da forma como desenhei na primeira página do manual. Expliquei item por item tudo o que ela queria saber.”

A psicóloga juiz-forana Hellen Amaral Rodrigues criou material para ajudar os mais velhos a usarem a tecnologia e já está recebendo demandas de todo do Brasil (Foto: arquivo pessoal)

Ressocialização

Proporcionar aos idosos o acesso a esse tipo de tecnologia também é uma forma de ressocialização. “Na própria cidade em que trabalho, os idosos são bem engajados entre si e usam as novas tecnologias para combinarem passeios, caminhadas, se socializarem. Idosos que atendo no contexto clínico em Juiz de Fora costumam enxergar o celular como uma boa distração ou companhia”, avalia. Para a psicóloga, atualmente, há duas realidades que se relacionam a todo tempo, as que se referem a espaço/temporal e a virtual. “O homem que está desvinculado de qualquer uma dessas duas está um pouco invisível, podemos dizer. Os idosos já sempre carregaram um estigma de inutilidade e de que não precisam de aprender mais nada. Mas eles estão vivos, pulsam, consomem, comem, bebem, merecem e precisam de se socializar. E já que hoje o virtual é uma ferramenta utilizada pra isso, porque não incluí-los neste contexto?”

Conforme Hellen, já estão surgindo demandas de todo Brasil para envio da cartilha. “Esses pedidos envolvem tanto um jeito de ajudar um membro da própria família, como o interesse de instituições que trabalham com idosos e querem ensiná-los a se conectarem. Diante da alta demanda pretendo sim uma publicação, mas gostaria muito que um órgão público ou privado me ajudasse com a publicação da cartilha, já que quero trazer mais uma questão de inclusão social do que vender um produto”, pontua.

Repercussão

Para a profissional, a repercussão de sua iniciativa foi uma surpresa. “Fiquei muito feliz e quero sim ajudar esses idosos a se integrarem a esse recente mundo. Eu acredito que, enquanto estamos vivos, somos plenamente capazes de aprendermos o que quisermos, lógico que no nosso tempo e com nossas especificidades. Procurei ser pedagógica em alguns momentos mesmo sendo psicóloga, porque acho que falta muitas vezes ao profissional de saúde o reconhecimento de que o ser humano que o escuta do outro lado não aprendeu os mesmos termos técnicos que ele, e que, portanto, falar uma linguagem que possa ser compreendida por todos é o passo inicial do processo de transmissão de informação e conhecimento.”

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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